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Mês: Maio 2005

13 de Maio, 2005 Palmira Silva

Panteão Católico alargado

O panteão católico terá muito em breve mais um beato, certamente a elevar a santo tão rápido quanto possível. De facto, o Vaticano divulgou hoje que o processo de beatificação de João Paulo II já se iniciou!

13 de Maio, 2005 Ricardo Alves

Debate amanhã, em Évora

Em representação da Associação República e Laicidade, estarei presente amanhã, às 17h30m, num debate, em Évora, sobre o Tratado constitucional da União Europeia. O debate está integrado no Fórum Social Português e intitula-se «Pela Constituição europeia, pelo sim, pelo não».
12 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Saudades para Vanessa

Leio e não acredito. Volto a ler. Julgo ter percebido mal e releio. Ainda penso que há gralha, que o jornalista cometeu um lapso e disse o contrário do que queria. Leio uma última vez.

Sinto comoção e raiva. Já vivi muito e sei das baixezas de que os homens são capazes. Estive 26 meses na guerra colonial. Mas, talvez, a estupidez não seja o pior dos males. Pior só a estupidez e a fé reunidas.

Paulo, drogado, saído da prisão de Custóias há quatro meses, desempregado, faz filhos em várias mães no Bairro do Aleixo, bairro de problemas e miséria da cidade do Porto. Uma das filhas chamava-se Vanessa. Tinha cinco anos e a vida para viver. Paulo tê-la-á matado à pancada.

A mãe de Vanessa mandou rezar-lhe missa do 7.º dia na igreja de Lordelo do Ouro, no Porto. Foi o mimo que lhe faltou em vida.

Vou copiar devagar o que li e reli na pg. 90 da «Visão», de hoje. Domingos Oliveira, o padre que celebrou a missa do 7.º dia, por Vanessa, criança de cinco anos, morta à pancada pelo pai, disse na homilia: «matar uma criança no seio materno ainda é mais violento do que matar uma menina de 5 anos» e invectivou a sociedade «que favorece o uso de preservativos».

Há na demência mística do padre Domingos Oliveira uma tal insensibilidade, um tão grave insulto à memória de uma criança mártir, um desrespeito tão grande pela mãe que encomendou a missa e um tamanho ultraje à vida, que estupefaz e arrepia.

Este almocreve de Deus, apóstolo da fé, santa besta fiel ao Papa, padre católico, acha preferível matar uma criança de cinco anos à pancada do que interromper a gravidez de um embrião de cinco semanas.

Maldito seja Deus.

12 de Maio, 2005 Palmira Silva

Defesa Intransigente da Vida

Excertos do Memorando confidencial enviado pelo então cardeal Ratzinger a Theodore McCarrick, arcebispo de Washington, tornado pública em Julho de 2004. Relembrando que nessa época se disputava a Presidência dos Estados Unidos entre Bush, um evangélico anti-aborto e Kerry, um católico pessoalmente contra o aborto mas respeitando a consciência de quem o escolhia e como tal pró escolha, e que, supostamente, o Papa era veementemente contra a guerra no Iraque.

« 2. A Igreja ensina que o aborto e a eutanásia são um pecado grave. A carta evangélica Evangelium vitae, com referência a decisões judiciais ou leis civis que autorizem ou promovam o aborto ou eutanásia, estipula que «existe uma grave e clara obrigação para a sua oposição por objecção de consciência. […] No caso de uma lei intrinsecamente injusta, como uma lei que permita o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito, por conseguinte, obedecer a essa lei ou fazer propaganda em favor dessa lei ou votar a seu favor’» (no. 73). Os cristãos têm uma «grave obrigação de consciência de não colaborarem em práticas, mesmo que permitidas pela legislação civil, que são contrárias à lei de Deus. […] Esta colaboração nunca pode ser justificada por invocação do respeito à liberdade de outros ou apelando ao facto que a lei civil o permite ou requer»(no. 74).

3. Nem todas as questões morais têm o mesmo peso que o aborto ou a eutanásia. Por exemplo, se um católico tiver opinião contrária da do Papa na aplicação da pena capital ou na decisão de iniciar uma guerra, ele não deve ser considerado por essa razão indigno de se apresentar para receber a sagrada comunhão. Pode existir uma legítima diversidade de opiniões entre católicos sobre uma guerra e a aplicação da pena de morte mas não em relação ao aborto e eutanásia.»

Ou seja, para Ratzinger os cristãos devem ser contra decisões judiciais e leis que autorizem o aborto e a eutanásia, considerados pecados graves. Aliás é seu dever ser completamente intolerantes com quem não se reger pelo dogma da sacralidade do embrião e com quem reclama o direito a morrer com dignidade.

Nas recomendações de como devem os católicos votar, explica assim que um católico será considerado culpado por cooperar com o mal, e não poderá receber a comunhão, se votar num candidato político que seja a favor da eutanásia e/ou do aborto. Em contrapartida um candidato político que seja (fervorosamente) a favor da pena de morte (afinal inscrita e abundamente prescrita na palavra de Deus revelada, i.e. na Bíblia) ou que decida por uma guerra injusta com centenas de milhares de vidas inocentes como «danos colaterais» deve ser aceitável para qualquer cristão.

Fico sempre muito baralhada com a defesa intransigente da vida advogada pela Igreja Católica…

11 de Maio, 2005 Carlos Esperança

13 de Maio – feira anual

É preciso muita insensibilidade para não sentir dó dos numerosos peregrinos que vão a pé a Fátima. Seguem em bandos pela orla do caminho, atravessam estradas, distraídos, pés inchados, rostos suados, corpos sofridos, em busca do alívio de uma promessa cumprida por um favor implorado ou uma graça recebida.

Acreditam que alguém, algures noutro astro, se importa com vidas tristes e cinzentas. Imploram a protecção da virgem viageira que poisa em azinheiras, fala com pastorinhos e põe o Sol a fazer piruetas. Crêem no Pai, no Filho e no Espírito Santo, confiam em anjos e demónios, em bruxas e maus olhados, na confissão como detergente, nas propriedades nutritivas da eucaristia e na água benta como desinfectante.

Muitos rezam ainda pela conversão da Rússia e pelo fim do comunismo. Pedem a Deus que ilumine os governantes e lhes dê longa vida enquanto outros, mais esclarecidos, os advertem, a estes não, e voltam às contas do rosário a desfiar ave-marias e padre-nossos numa interminável cantilena com que esperam indulgências que os conduzam à vida eterna.

São longos os caminhos e demorada a viagem. Rezam pelo Santo Padre, sem se darem conta de que ele precisaria de muitas orações se acaso estas resultassem ou ele lograsse tornar-se melhor. E voltam ao rosário, às jaculatórias, aos mistérios gozosos, dolorosos ou gloriosos, consoante o dia da semana, e à alienação dos padre-nossos e ave-marias.

São devotos que se revêem no Francisquinho, mais dado à contemplação mística do que à frequência escolar, que rezam à Jacintinha com enorme devoção, que anseiam pela canonização da Lúcia. São crentes, portadores de uma fé cada vez mais anacrónica, que exultam com a procissão das velas e se comovem com a bênção apostólica, que mantêm abertas as igrejas e a próspero o Vaticano.

São estes peregrinos que vão em busca de Deus e se satisfazem com um cardeal, alguns bispos e numerosos padres, julgando-se perto do Céu. São como crianças que vão ao Jardim zoológico e crêem viajar pela selva e embrenhar-se em florestas tropicais.

A fé não move montanhas mas cria montanhas de ilusões.

11 de Maio, 2005 pfontela

Cinema Europeu

A cadeia televisiva RAI (televisão estatal italiana), vai transmitir amanhã o controverso filme de Theo van Gogh intitulado «Submissão». Como o nome indica o filme é altamente crítico do tratamento das mulheres dentro do islão, dado que inclui mulheres semi-nuas com versos do Corão no corpo. Também parece conter uma entrevista com uma mulher islâmica que conta a forma brutal como foi espancada por ter tentado fugir de casa (a razão para a fuga foi a violação de que foi vitima por parte do seu tio).

Theo van Gogh pagou com a vida por ter feito este filme (foi vítima de fanáticos islâmicos), existindo outras personagens holandesas que vivem verdadeiramente como prisioneiras por terem tido a coragem de apontar os abusos do islão. Na sociedade Holandesa considera-se seriamente pela primeira vez a introdução de medidas contra a emigração e a limitação da liberdade religiosa.

Os imãs do conselho islâmico de Turim escreveram a todos os indivíduos de influência em Itália e no Vaticano para tentar proibir a exibição deste filme dando como razão que: «o filme retrata de forma negativa costumes e tradições islâmicas». E acrescentaram, em tom de ameaça, que se o filme fosse exibido «poderia causar fortes tensões que poderiam incitar os mais fanáticos a actos que põem em risco a segurança pública».

Entretanto já houve várias ameaças contra executivos e directores da RAI. Mas nem a RAI nem os políticos italianos parecem querer ceder sendo que todos os partidos apoiam a exibição da obra de van Gogh. Para quem tiver oportunidade: o filme vai para o ar amanhã às 23:00 (hora local).

11 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Fátima: Mortos – 1; Milagres – 0

Um homem de 56 anos, oriundo de Vila Nova de Gaia, foi ontem colhido mortalmente próximo de Antanhol, nos arredores de Coimbra, quando se dirigia para a peregrinação anual a Fátima.

A fatídica Estrada Nacional n.º 1, onde ocorreu o infausto acidente, é anualmente palco de mortes e feridos que se deslocam de suas casas atraídos pela propaganda do santuário de Fátima.

Fátima é a miragem da fé, a EN-1 é o cemitério dos crentes.

Os peregrinos saem de diversos locais, todos à mesma distância de Deus, em busca de um destino em que apenas se colocam mais perto dos padres.

Deus não merece o sacrifício de uma vida. Não há milagres que compensem a dor e o luto das famílias que choram os entes queridos, perdidos inutilmente numa curva de um caminho que não conduz a lado algum.

Fonte: «Público Centro», pg. 52, de hoje.

10 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Igrejas à venda

A diocese de Saint George no Canadá acaba de pôr à venda todos os seus bens, incluindo as igrejas, para pagar mais de oito milhões de euros de indemnizações a que foi condenada pelos crimes de pedofilia de um dos seus padres.

A ICAR está a apelar a todos os crentes para que a ajudem a comprar de novo as igrejas, onde decorrem os actos litúrgicos.

Até há pouco tempo a ICAR gozava de uma certa imunidade no Canadá, imunidade que caducou por uma recente decisão do Governo Federal. A responsabilização criminal da diocese levou-a à falência.

Como há ainda trinta processos pendentes, por abusos sexuais, envolvendo seis padres, o futuro da Igreja católica não se apresenta risonho na referida diocese. São mais de 8 milhões de euros que vão receber as primeiras vítimas.

Sem igrejas o trabalho apostólico da Igreja católica complica-se. Não é prático proceder às confissões numa casa particular ou dar a eucaristia numa garagem alugada para o efeito.

Não deixa de ser curioso que a sexualidade, tão atacada pelo Vaticano, esteja na base dos maiores problemas que enfrentam as suas sucursais com os seus padres.

10 de Maio, 2005 Carlos Esperança

O Iraque e a democracia

O Governo iraquiano foi completado. O ministro designado para os Direitos Humanos recusou o cargo com o argumento de que não tinha sido consultado nem pretendia legitimar um Governo baseado em quotas confessionais.

Um Governo formado a partir de quotas religiosas não assegura a direcção de um país. Na melhor da hipóteses partilha orações e divergências teológicas; na pior, discute a fé e envolve-se em guerras santas.

No Iraque, após as eleições que, por comodidade de exposição, considero justas e livres e sem exército ocupante, não houve apresentação de programas, discussão de propostas, competição eleitoral. Houve orações e atentados, assassinatos em nome de Alá e suicídios para encontrar a porta do Paraíso. Faltaram comícios, sobraram os massacres.

O «Governo» é formado por 18 xiitas, 8 curdos, 9 sunitas e 1 cristão. É o ideal para discutir o Corão e apreciar alguns versículos da Bíblia, mas não chega para fazer uma democracia.

Um programa de Governo não pode ser a síntese de dois movimentos muçulmanos que se desentendem sobre o valor da Suna como complemento do Alcorão e um palpite cristão. Os ministros estão mais interessados na salvação da alma do que na resolução dos problemas dos cidadãos. A lei serve a glória de Deus e não os interesses humanos.

Um Governo assim é um bando tribal a lutar pela hegemonia. Pode começar como uma comissão de festas canónicas mas acaba inevitavelmente numa guerra de turbantes. Não há democracias que não sejam laicas nem teocracias que aceitem o pluralismo. É este o labirinto em que os invasores enredaram o novo e piedoso Governo iraquiano.