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O Iraque e a democracia

O Governo iraquiano foi completado. O ministro designado para os Direitos Humanos recusou o cargo com o argumento de que não tinha sido consultado nem pretendia legitimar um Governo baseado em quotas confessionais.

Um Governo formado a partir de quotas religiosas não assegura a direcção de um país. Na melhor da hipóteses partilha orações e divergências teológicas; na pior, discute a fé e envolve-se em guerras santas.

No Iraque, após as eleições que, por comodidade de exposição, considero justas e livres e sem exército ocupante, não houve apresentação de programas, discussão de propostas, competição eleitoral. Houve orações e atentados, assassinatos em nome de Alá e suicídios para encontrar a porta do Paraíso. Faltaram comícios, sobraram os massacres.

O «Governo» é formado por 18 xiitas, 8 curdos, 9 sunitas e 1 cristão. É o ideal para discutir o Corão e apreciar alguns versículos da Bíblia, mas não chega para fazer uma democracia.

Um programa de Governo não pode ser a síntese de dois movimentos muçulmanos que se desentendem sobre o valor da Suna como complemento do Alcorão e um palpite cristão. Os ministros estão mais interessados na salvação da alma do que na resolução dos problemas dos cidadãos. A lei serve a glória de Deus e não os interesses humanos.

Um Governo assim é um bando tribal a lutar pela hegemonia. Pode começar como uma comissão de festas canónicas mas acaba inevitavelmente numa guerra de turbantes. Não há democracias que não sejam laicas nem teocracias que aceitem o pluralismo. É este o labirinto em que os invasores enredaram o novo e piedoso Governo iraquiano.