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Mês: Abril 2005

3 de Abril, 2005 Mariana de Oliveira

Lembranças

O recente acontecimento lembrou-me um «sketch» dos Monty Python, com as necessárias adaptações:

«’E’s passed on! This pope is no more! He has ceased to be! ‘E’s expired and gone to meet ‘is maker!

‘E’s a stiff! Bereft of life, ‘e rests in peace! If you hadn’t nailed ‘im to the perch ‘e’d be pushing up the daisies!
‘Is metabolic processes are now ‘istory! ‘E’s off the twig!
‘E’s kicked the bucket, ‘e’s shuffled off ‘is mortal coil, run down the curtain and joined the bleedin’ choir invisibile!!

THIS IS AN EX-POPE!!»

3 de Abril, 2005 jvasco

Eles não compreendem

A questão dos crucifixos (e outros símbolos Católicos) pendurados nas paredes das escolas públicas, que me parecia ser uma questão burocrática menor e consensual, que só não estava resolvida por uma certa inércia social, e que teria o apoio de qualquer pessoa de bom senso, está, afinal, a causar muita polémica.
Muitos crentes parecem não concordar com esta medida de elementar defesa dos princípios constitucionais.

No Barnabé li a este respeito O mural da história, o qual me senti «obrigado» a citar. O artigo explica muito bem a posição que eu próprio tenho a este respeito, aflorando uns assuntos bem interessantes, que muitas vezes são esquecidos nesta discussão. Para quem não estiver completamente contextualizado convém dizer que, embora o artigo se possa ler independentemente, ele é a resposta ao Murais e Morais ou República e Laicidade 2, que por sua vez responde a Negócio fechado.

3 de Abril, 2005 Palmira Silva

João Paulo II e as mulheres

«Roma Locuta Est, causa finita est» (Roma falou, a causa acabou)

Os últimos dias de emissão da nossa televisão pública, paga com os impostos de todos, católicos e não católicos, foram devotados numa inusitada percentagem de tempo à crónica da morte anunciada do Papa, tendo o despautério assumido raias de absurdo quando passou a ser quasi exclusivo. Nos zappings em que confirmei que o tema era sempre o mesmo, verifiquei que padres, bispos e cristãos em geral aproveitavam o tempo de antena, sem qualquer direito ao contraditório, para tecer loas a um Papa que reputo do mais reaccionário e retrógrado que a corte do Vaticano poderia ter produzido.

Uma vez que, para mim, a morte é um processo natural que não aumenta o valor facial de alguém, indigna-me que se ignorem as manobras deste Papa para recuperar a velha máxima romana supracitada, especialmente aquelas que me tocam mais fundo como mulher e cientista.

Como mulher considero extremamente nociva toda a actuação deste Papa que tentou remeter a mulher para o papel tradicional consagrado pela Igreja de Roma e anular as conquistas duramente conseguidas de emancipação da mulher (que o Papa considerava perniciosa). Assim na Carta Apostólica de João Paulo II, em 1988, sobre a dignidade e a vocação da mulher, «Mulieris Dignitatem», este explica que Deus criou a mulher virgem para ser mãe e que a mulher só se realiza como virgem ou como esposa e mãe. Aliás em toda a carta nem sequer se concebe a realização da mulher sem um homem, nos auspícios de um casamento, claro.

Em 1994 «Tomando a estas duas mulheres como modelos de perfeição cristã» beatifica Isabella Canori Mora, uma mulher que suportou estoicamente a violência de um marido abusivo, santificando assim a violência conjugal, e Gianna Beretta Molla (posteriormente canonizada com o título Mãe de Família), que preferiu morrer a interromper uma gravidez de alto risco. O ideal de mulher para este Papa que é agora enaltecido é assim uma mulher completamente subjugada ao marido e aos filhos, sem valor intrínseco fora de ambos e que deve renunciar à própria vida em favor de um qualquer óvulo fertilizado.

Mensagem reforçada na «Carta às Mulheres» em 1995 onde se pode ler, no meio do discurso habitual de que a mulher só se realiza através de um homem: «quanto louvor merecem as mulheres que, com amor heróico pela sua criatura, carregam uma gravidez devida à injustiça de relações sexuais impostas pela força».

A que se seguiu a «Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre a Colaboração do Homem e da Mulher na Igreja e no Mundo», emanada da ex-Inquisicão em Julho de 2004, em que a Igreja de Roma recomenda às mulheres cessarem de competir com os homens, reconhecendo o poder masculino. Diz o documento que a mulher tem direito a trabalhar fora de casa, porém sem prejudicar as tarefas domésticas. E que a sua emancipação e independência são prejudiciais à instituição da família.

Esta carta dirigida aos bispos – todos homens, todos celibatários, todos escolhidos pelo Papa – é reveladora do autismo e misoginia da Igreja que recrudesceram sob este papado. Revela que os homens do Vaticano, isolados num mundo artificialmente masculino continuam a não perceber e desprezar as mulheres, tendo agora como alvo uma fantasia que apelidam de «feminismo radical». Nenhuma mulher se considera «antagonista» dos homens mas antes antagonista do machismo. Não entendem que aquilo que as mulheres desejam não é serem «iguais» aos homens é serem reconhecidas como seres humanos de pleno direito!

2 de Abril, 2005 Carlos Esperança

RTP – Um canal da Igreja?


Logotipo de substituição proposto por Luís Mateus

O falecimento do Papa João Paulo II não pode servir de pretexto para uma manifestação contínua de proselitismo.

A RTP é um canal público cuja hipoteca ao serviço de uma religião compromete o carácter laico do regime, o respeito pelo pluralismo e a liberdade de agnósticos, ateus e crentes de outras confissões.

Pela minha parte vou afastar-me do canal público até que terminem as exéquias fúnebres. Que descanse em Paz.

2 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Tragédia no Vaticano – 1 morto (3)


Faleceu, sem deixar descendentes, Karol Vojtyla, Papa católico, emigrante polaco, solteiro, de 84 anos de idade, conhecido pelo pseudónimo de João Paulo II. Papa há mais de 26 anos, fez a síntese do estalinismo polaco em que viveu com o catolicismo medieval em que acreditava.

Exorcista afamado, preferia a água benta à outra, usava a cruz como amuleto e odiava a contracepção, em geral, e o preservativo em particular. Fez 448 santos e 1338 beatos e foi um grande criador de cardeais. A sua morte resolveu o problema da ICAR, multinacional da Fé, cujos estatutos não prevêem a destituição.

As exéquias, abrilhantadas por uma multidão de sotainas, serão transmitidas para todo o Mundo, em directo, a partir do bairro de 44 hectares cujas actividades principais são a oração, os negócios da fé e a política. De todas as sucursais chegam bandos de monsenhores, bispos e cardeais, estes últimos com direito a voto na escolha do sucessor, pelo círculo eleitoral único «Itália e Resto do Mundo».

A reunião do Conselho de Administração, tendo como ponto único da ordem de trabalhos «a eleição do papa», chama-se conclave. A decisão é tomada por dois terços dos cardeais, sob os auspícios do Espírito Santo, sob o olhar atento do Opus Dei.

As exportações de bênçãos, relíquias, imagens do Papa e indulgências ficam suspensas temporariamente. As importações de esmolas mantêm-se.

Post scriptum – As orações pela saúde de JP2 estão completamente ilibadas de lhe terem prolongado a agonia, não tendo revelado eficácia superior ao placebo.

2 de Abril, 2005 Mariana de Oliveira

Foi desta

Às 20:37 morreu o Papa.

2 de Abril, 2005 Palmira Silva

Delírios tomistas de uma Igreja medieval

A Igreja Católica trabalha diligentemente para que o que considera pecado seja considerado crime pelo Direito dos países onde a sua influência nefasta ainda não permitiu uma perfeita separação Estado-Igreja. O que é, como já escrevi várias vezes, uma manifestação do totalitarismo (e concomitante intolerância) católico. Porque assim se impõe como verdade absoluta os dogmas da Igreja, sem qualquer consideração pelos não crentes. Por exemplo, dogmas como a sacralidade do matrimónio, com a consequente criminalização do adultério e impedimento do divórcio, foram no passado recente impostos pela Igreja de Roma a toda a sociedade. Com total falta de respeito não só pelos não crentes como pelos crentes, que muitas vezes se viam em situações insustentáveis das quais não podiam sair devido à intolerância da Igreja, traduzida nas leis dos respectivos países.

O que não é de espantar já que a Igreja actual tenta recuperar a tradição tridentina, vigente desde o Concílio de Trento até ao Concílio Vaticano II de Paulo VI, que traduzia essencialmente o pensamento tomista, ou seja a teologia do Tomás de Aquino que João Paulo II tanto exortou os prelados actuais a emular. O concílio de Trento ignorava quase totalmente os fiéis e as pessoas em geral e a sua preocupação dominante é a regulação total das sociedades. Regulação intolerante conseguida através de uma doutrina (a «ortodoxia») consagrada numa liturgia rígida e ditando as leis pelas quais as sociedades se deviam reger, condensadas nos 2414 cânones do primeiro Código de Direito Canónico de 1917. Aos leigos só era reconhecido o direito de «receber» os meios necessários à salvação da alma, ministrados pelos prelados da Igreja de Roma, claro. Considerações de felicidade ou bem estar terrenos são completamente ignoradas.

João Paulo II tentou assim recuperar o domínio medieval implacável da Igreja de Roma sobre a sociedade, em que os Santos Padres se arrogavam ao direito de decidir sobre todas as matérias, mesmo as científicas. Numa Igreja que, pela voz do (ainda) actual papa, exalta a vivência religiosa medieval e tem como modelo de sociedade a época das trevas obscurantistas, a ciência é alvo de tentativas de regulação religiosa, especialmente as ciências que dessacralizam a vida e refutam os dogmas que esta tenta impôr como leis, nomeadamente a sacralidade do óvulo fertilizado ou a «impureza» contra natura da homossexualidade. João Paulo II queria que a ciência seguisse a doutrina tomista que reza «Procurar compreender as leis da natureza é procurar compreender a obra de Deus, é, por conseguinte, aproximar-se dele», ou seja, tentou tornar a ciência uma aliada da fé, através de um aproveitamento capcioso das partes convenientes e uma condenação vigorosa e constante do que é incómodo para a religião.

2 de Abril, 2005 pfontela

«Jobs for the boys»

O papa, mesmo estando nas últimas, arranjou tempo e energia para em 24 horas nomear 17 bispos e aceitar a resignação de outros 6. Karol sente a morte a aproximar-se e parece querer assegurar-se que os seus rapazes estão nos sítios certos, para ter certeza que não existe uma gota de dissidência entre as fileiras.

2 de Abril, 2005 Carlos Esperança

Tragédia no Vaticano – 1 morto (2)

Pedido de desculpas aos leitores

A ausência de sinais a nível do electrocardiograma levaram a Sky News e alguns órgãos de informação italianos a anunciarem a morte de JP2, informação em que se baseou o breve artigo do Diário Ateísta. Surpreende, aliás, que após uma paragem cardíaca não tenha sido transferido para o hospital e não admiraria ouvir um piedoso cardeal dizer que obedeceu ao pedido expresso de Sua Santidade.

De facto, embora em estado de coma, a agonia parece prolongar-se para gáudio da Cúria romana que gere a ansiedade dos crentes de acordo com as intenções prosélitas.

É sempre difícil obter informações rigorosas de um Estado totalitário mas do erro e da precipitação a anunciar a morte de JP2 peço desculpa aos leitores.

Carlos Esperança