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A visão de Fátima

João Pedro Moura, nuns comentários que deixou num artigo do Diário Ateísta, elaborou uma lista de bibliografia racionalista sobre a questão de Fátima que deve ser partilhada com todos os leitores deste blogue. Segue o seu texto:

1 – «NA COVA DOS LEÕES», Tomás da Fonseca, edição do autor, Lisboa, 1958
É a primeira obra a tratar e a desmascarar o assunto.
Tomás compilou as cartas e os artigos que havia publicado sobre a questão desde o início e publicou-as neste livro.
Há um ou outro ponto obscuro na sua argumentação, concretamente, quando emite a hipótese de a «aparição» se tratar duma encenação por parte duma senhora dum militar, integrando os «empresários», como ele chamava, do negócio religioso. Mas, Tomás da Fonseca esmiuça muito bem as personagens, actos e ditos, com o seu peculiar e demolidor sarcasmo. É a única obra coeva das «aparições».
É muito improvável poder adquirir-se este livro. A haver disponível, imagino que só poderá existir em dois locais, uma livraria em Lisboa e outra no Porto.

2 – «A FABRICAÇÃO DE FÁTIMA», Prosper Alfaric, Edições Delfos, s/d (década de 70)
Alfaric foi ex-padre, convertido ao ateísmo (isto é que é bom!), e professor de História das Religiões, na Faculdade de Letras da Universidade de Strasbourg, na França, na década de 50. Foi um insigne investigador das origens do cristianismo, o assunto mais difícil, em História, e um grande propugnador do laicismo e do ateísmo. Foi membro da «Union Rationaliste».
Fez uma conferência em Paris, sobre o assunto, denunciando a mascarada fatímica, em França, e carreando informações estrangeiras sobre o assunto, nomeadamente, quanto às intervenções dos papas Bento XV, Pio XI e Pio XII, essa criatura horrenda, sobre as «aparições».
Suponho que é impossível arranjar esta obra nos alfarrabistas.

3 – «FÁTIMA DESMASCARADA», João Ilharco, Coimbra, 1971
Aproveitando a maior liberdade marcelista, este autor de Coimbra abriu uma estrondosa brecha na coesão e unanimismo religiosos ao publicar este livro com semelhante título.
Levantou uma enorme polémica, nas hostes católicas, e foi severamente exprobrado pelos agentes da clericalha tartufa. Durante uns tempos, O Correio de Coimbra, entre 1971 e 1972, teceu grossa discussão com o autor, até a coisa se ir diluindo.
Foi preciso alguma coragem ao autor para publicar tal livro, nas condições, no mínimo, imprevisíveis, do marcelismo?
A tese do autor, tal como a de Tomás da Fonseca, remete o caso das «aparições» para uma conspiração, do princípio ao fim, por partes de agentes clericais (padres). Só que, a tese de Ilharco, defendendo que foi colocada uma imagem no sítio da «aparição», com incidência de raios solares orientados para a imagem com o espelho colocado a distância recatada e manipulado por um cúmplice, não me convence. É uma tese extravagante e inverosímil. Não repudio a hipótese duma qualquer intervenção conspirativa e cénica, como defendeu Tomás da Fonseca, mas não me convence inteiramente.
Esta obra talvez se consiga adquirir em alfarrabistas, sobretudo em Coimbra.

4 – «FÁTIMA – O QUE SE PASSOU EM 1917», Fina d`Armada, Bertrand, 1980
Foi o primeiro livro estudioso de Fátima, após o 25 de Abril. Eu assisti à sua apresentação pública, na livraria Bertrand, no Porto, e falei com a autora.
Posteriormente, também assisti ao debate de apresentação do livro, em auditório, e pude verificar as provocações de que foi alvo a autora, por parte de agentes católicos, que estavam na sala para fazer comentários depreciativos e provocatórios. Vocês nem sabem do que é que esta gente pestífera é capaz de fazer quando se sente incomodada e «ofendida» na sua doutrina .
A autora, que é professora de História, e que foi também a mais importante feminista portuguesa, nos primeiros anos pós-25 de Abril, desenvolveu também uma tese, nesse livro, sobre influência ovnilógica no fenómeno de Fátima.
Não aceito esta tese sobre OVNIs, por motivos que não vou focar aqui. Registo, contudo, o mérito da investigação desta autora, muito esmerada e minuciosa na análise social do caso de Fátima, recolhendo importantes e inéditas informações no Arquivo Formigão, o mais importante investigador e historiador do fenómeno de Fátima e o principal promotor do negócio…
E mesmo no que toca a OVNIS, a autora patenteia uma metodologia e perspectiva científica sobre a questão, indo o mais longe que a ciência pode ir?
Este livro ainda estará disponível em livrarias e alfarrabistas.

5 – «FÁTIMA – NOS BASTIDORES DO SEGREDO», Fina d`Armada e Joaquim Fernandes, Âncora Editora, Lisboa, 2002
Trata-se duma edição semelhante à anterior, mas com a vantagem de ser mais recente (22 anos depois) e apresentar novas perspectivas e informações sobre a questão. Obra muito informativa, constituindo uma extraordinária investigação, como é característico destes autores.
Joaquim Fernandes foi, durante cerca de 20 anos, jornalista no JN. Fundou na década de 70, no Porto, o CEAFI, Centro de Estudos Astronómicos e Fenómenos Insólitos, organismo muito prolífico nessa década e na de 80, em estudos de ovnilogia, constituindo o mais importante centro de investigação de OVNIS, que houve em Portugal, e ele, J. Fernandes foi o mais importante investigador português nessa matéria, sem nunca sair da perspectiva científica no estudo dos OVNIS, não fazendo quaisquer concessões aos esoterismos que a ovnilogia suscitou.
É licenciado em História e docente da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, onde fundou o CTEC ? Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência, grupo com ligações internacionais, que procura investigar as bases neurobiológicas do fenómeno religioso, intersectando a Física, Química, Sociologia, História, Psicologia, assunto esse sobre o qual tal centro já editou uma antologia, em livro, de artigos de autores nacionais e estrangeiros.
Está a preparar o doutoramento sobre «Imaginário Extraterrestre na Imprensa Portuguesa». Estuda os aspectos teóricos, históricos e antropológicos das «aparições». É membro da Society for Scientific Exploration, da Universidade de Stanford, na Califórnia.
Obra disponível nas livrarias.

6- «FÁTIMAMENTE», Padre Mário de Oliveira, edição de Guilherme Silva, 2000
Que dizer do padre Mário de Oliveira?!
Cada livro que ele edita, e é quase um por ano, são obras que nós subscrevemos, numa grande parte, sobretudo, as respeitantes à religião.
Mário de Oliveira é um laico, fortemente anticlericalista e? e? criptoateu?
O que é que faltará a este homem para renegar os últimos resquícios de fé e religiosidade?!
Com a vantagem de ser um profundo conhecedor do meio, pois já foi padre, quero dizer foi-lhe retirada a paróquia por excessiva dissidência com a hierarquia. É o nosso mais importante aliado, sem dúvida nenhuma.
Nesta obra, Mário desanca na exploração religiosa de Fátima e nega a validade de todo o fenómeno, com várias perspectivas e dados.
Guilherme Silva ilustra a obra com muitas fotos evidenciadoras dos rastejamentos e outras cenas degradantes do antro fatímico.
Certamente que está disponível nas livrarias.

7 – «FÁTIMA NUNCA MAIS», Padre Mário de Oliveira, Campo das Letras, Porto, 1999
Outra obra do Mário, denunciadora do fenómeno de Fátima, com várias perspectivas e ligações a outros acontecimentos.

8 – «AS “APARIÇÕES” DE FÁTIMA, Imagens e Representações (1917-1939)», Luís Filipe Torgal, Editora Temas e Debates, Lisboa, 2002
Outro livro muito bom sobre Fátima deste professor de História, de Coimbra, e o melhor em bibliografia, pois contém uma extensíssima bibliografia, não só sobre o assunto, mas também sobre enquadramentos conjunturais e correlativos numa vasta perspectiva.
Nas livrarias.

9 – «AS DUAS FACES DE FÁTIMA», Manuel Eladio Laxe, Editorial Império, Lisboa, 1987
Deixei para o fim, propositadamente, aquela que me parece ser a melhor obra de investigação sobre Fátima. Extraordinária investigação, enriquecida com fotografias que, normalmente, muitos autores desprezam. Um portento de minúcias, ilações, explicações, comparações.
Uma autêntica investigação judicial sobre a matéria.
Só me parece que o autor deveria ter abordado melhor as «Memórias da Irmã Lúcia». Será, a priori, a única crítica que lhe faço.
É um autor espanhol e o livro foi editado em Espanha, donde foi traduzido para Portugal.
Dificilmente se conseguirá adquirir nas livrarias.