Loading

Mês: Outubro 2004

16 de Outubro, 2004 jvasco

Dúvidas Ateístas

O ateu é aquele que não acredita em Deus (ou Deuses), ou é aquele que não acredita em Deus (ou Deuses) nem no sobrenatural?

Certamente que a esmagadora maioria daqueles que não acreditam em Deuses também não acreditam no sobrenatural (partem do princípio que, existindo fenómenos que não sejam explicáveis pela ciência actual, são à mesma fenómenos naturais explicáveis porventura pela ciência do amanhã). Certamente que faço parte desse grupo.

Mas isso não quer dizer que me seja fácil responder a esta pergunta, que tenho verificado dividir ateus e as pessoas em geral (nas raras ocasiões em que se debruçam sobre o assunto).

Qual a vossa opinão? Participem no sistema de comentários, ou, melhor ainda, no fórum.

15 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Um católico romano na Europa

O comissário Rocco Buttiglione, amigo do peito e da missa de Berlusconi e do Papa, considera que «a homossexualidade é um pecado» e, sobre a família, defende «que a mulher tenha filhos e que o homem a proteja». É um filósofo respeitado pela Cúria Romana, um intelectual com joelhos calejados por muitas rezas, um católico cheio de bênçãos de JP2 e um tubo digestivo repleto de hóstias.

Os conceitos são interessantes e populares mas com dois séculos de atraso. Face a tão piedosos pensamentos, a comissão de Justiça do Parlamento Europeu julgou-o indigno de ocupar o pelouro que Durão Barroso lhe destina e vetou-o.

É a Mariana Cascais da Comissão europeia. Alguns leitores já não se lembram da tristemente célebre secretária de Estado da Educação do Governo de Durão Barroso que julgava que Portugal era um país oficialmente católico e garantiu que só havia educação sexual porque ela deixava. Era uma militante do Opus Dei que tinha pelo sexo aquele horror que Maomé destinou ao toucinho. Era uma governante que fazia a delícia dos jornalistas e o gáudio da população urbana.

Há outra Mariana Cascais à espera de Durão Barroso. Desta vez chama-se Rocco Buttiglione, destinado a ocupar a pasta da «Liberdade, Segurança e Justiça», mas os problemas agravam-se com um sacristão que faz as delícias da comunicação social.

15 de Outubro, 2004 jvasco

Os ateus não acreditam em NADA?

Tenho discutido com um número razoável de pessoas (algumas delas ateias) que consideram que ser ateu «a sério» é não acreditar em nada. Nem na Felicidade, nem no Bem, nem no Amor.

Na maior parte dos casos esta ideia não vem associada a qualquer argumento: é apenas uma impressão que se tem de que o ateu «a sério» é alguém tão cétpico que não poderá acreditar nem nada que pareça pouco «científico». No entanto, recentemente tive contacto com um argumento que defendia esta ideia: sem Deus, não haveria qualquer ser ou referência sobrenatural para criar os valores referidos como valores absolutos. A Felicidade, o Bem ou o Amor seriam apenas ilusões, tal como a religião, para manter o poder vigente.

Não concordo, de todo, com esta forma de pensar. Devo dizer que acredito no Bem, na Felicidade e no Amor. Posso saber que o Amor não é algo de sobrenatural, mas sim um conjunto de reacções físico-químicas no meu cérebro (e saber isso nem decorre do meu ateísmo, mas sim do meu materialismo – há ateus que não partilham desta perspectiva), mas isso não lhe tira importância: quando vivo o amor, não estou naturalmente a pensar nessas reacções naturais, estou a agir condicionado por elas e fazer os mesmos filmes que todos fazem. Por isso, sei que existe, e que mexe com as pessoas.

O Bem também não corresponde à obediência a um conjunto de tábuas da lei absolutas, mas isso não quer dizer que não exista. A Palmira já analisou neste espaço o problema da ética, e é dessa problemática que decorre aquilo a que chamamos o Bem.

A Felicidade também não é nada de sobrenatural: surge devido à selecção natural. Mas existe e quero lutar por ela.

A religião surgiu por muitas razões, porque respondia com ilusões agradáveis a muitos anseios humanos, porque dava explicações fáceis a muitos mistérios naturais, etc. O facto de ser um meio adicional para manter e justificar a autoridade do poder vigente pode ter feito com que se espalhasse mais rápido em muitos casos, mas suponho que não foi delineada com esse objectivo. Por ser um conjunto de superstições distingue-se, e bem, destes valores em que acredito.

Um ateu é alguém que não acredita em Deus, nem no sobrenatural. É só isto. Assim sendo, qualquer pessoa que não acredite que a Felicidade, Amor e Bem decorram de Deus, pode acreditar nestes conceitos e ser um «ateu a sério».

Por fim respondi ao argumento, mas não à sensação. É difícil explicar com um texto porque é que acreditar na Ciência e na racionalidade não implica ser frio e vazio de emoções. É uma sensação muito errada que muita gente tem. Não há texto que explique isso. Posso ir repetindo esta ideia, artigo após artigo, e vou fazendo-o. Mas creio que enquanto quem assim sente não conhecer pessoalmente algum apaixonado pela Ciência e puder verificar que não está perante um ser frio e desumano, esta sensação não irá mudar.

15 de Outubro, 2004 André Esteves

Opus Dei e a Batata e Vinho?

Costumo seguir os blogs que nos linkam e é sempre com imenso prazer que leio os pensamentos e opiniões de todos. Ora bem, estava a ler o Maré Alta quando deparo com este artigo, citando extractos das actas da censura, de Os Segredos da Censura, de César Príncipe, Lisboa, Caminho, 1979, 2.ª edição.

E nele isto:

3/7/68. «Crise da batata e do vinho, em Oliveira do Bairro e Oliveira do Hospital – CORTAR. Tudo quanto se refira à “OPUS DEI” – CORTAR. Coronel Saraiva.»

Alguém é capaz de me explicar o que a «Crise da batata e do vinho» teve a ver com a Opus Dei, durante o antigo regime? (Se calhar sou eu que estou a ler mal a coisa… 😉 )

Foi alguma conspiração contra o vinho tinto comunista por ser vermelho? E as batatas?? O que a Opus Dei têm contra as batatas?? Coitadinhas das batatas… Têm lá alguma culpa por não conseguirem distinguir a água benta da outra?

P.S. O interessante, na realidade, é o fervor do censor em querer apagar qualquer referência à Opus Dei. Porque é que a existência e exemplo da seita seria algo a esconder? Não é a santidade através do trabalho um dos seus objectivos máximos? Não seria isso um bom exemplo para o resto dos portugueses? Quem se esconde, têm sempre algo a esconder.

14 de Outubro, 2004 jvasco

O que é a ICAR?

Algumas das pessoas que espreitam este blogue não sabem a que é que nos referimos quando falamos na ICAR.

A ICAR é a Igreja Católica Apostólica Romana, mais conhecida em Portugal por «Igreja Católica» (embora essa denominação seja insuficiente pois inclui a Igreja Ortodoxa).

14 de Outubro, 2004 jvasco

A importância que damos

Alguns amigos meus, uns ateus, outros agnósticos, outros crentes, têm reagido com surpresa à minha participação neste blogue. Embora eu não dedique muito tempo a escrever para aqui, aquele tempo que passo parece-lhes excessivo. Não estarei eu a dar muita importância à religião? Se eu não acredito em Deus, por que dou tanta importância a estas questões? Será que não posso «deixar em paz» as religiões e dedicar-me a outros assuntos?

O que se passa, é que a religião tem mesmo importância. Não fui eu que escolhi que tivesse sido e seja uma causa significativa de grande número de guerras; não fui eu que escolhi que estivesse na origem da inquisição e das cruzadas; não fui eu que escolhi que sistematicamente mine as políticas de planeamento familiar e sustente políticas sexistas e homofóbicas; não fui eu que escolhi que seja um importante factor na escolha do próximo presidente dos EUA; não fui eu que escolhi nada disso.

A religião tem importância no mundo em que vivemos, e a importância que lhe dou é um mero reflexo de me importar (bastante) com o que se passa à minha volta.

Tal como quem se indigna com a injustiça, a corrupção, o crime ou a miséria sabe que vários factores estão interligados, por me preocupar com o mundo que me rodeia, preocupo-me com o papel que as superstições têm no mundo actual, provocando muitas vezes guerras e ódio ou sabotando o desenvolvimento.

É importante que sejam as teocracias (como o Irão, por exemplo) a evoluir para uma sociedade laica, e não as sociedades laicas a regredirem no sentido do fundamentalismo. É por isso importante que ateus, agnósticos, e até os crentes, vigiem as religiões, os abusos, as injustiças.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

O milagre do Sol

Faz hoje 87 anos que o Sol girou sobre si mesmo e desceu três vezes à altura do horizonte num desafio às leis da gravidade celeste, suspensas na Cova da Iria para gáudio exclusivo de 50.000 devotos. A informação é idónea pois foi confirmada pelo Secretariado de Informação do Santuário de Fátima.

A ICAR vive da suspensão das leis da Física, da boa vontade dos crédulos e dos interesses comerciais e financeiros a que consegue deitar a mão, à semelhança das outras religiões. Em 1917 iniciaram-se e ampliaram-se as relações entre a Virgem, o seu divino filho e um anjo de nome e categoria indeterminada, com Portugal, através de três crianças que trocavam a escola pela pastorícia e pelas orações.

A embaixada celeste começou a funcionar numa azinheira e, em breve, a Cova da Iria transformou-se na delegação comercial do Paraíso com os negócios da fé a prosperarem a um ritmo alucinante só quebrado com o aumento da alfabetização e o advento da democracia.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Dia de festa em Balasar

Hoje, 13 de Outubro do Ano da Graça de 2004, celebra-se a primeira Festa Litúrgica de Alexandrina de Balasar. O bispo da diocese, D. Jorge Ortiga, a participar no 48º Congresso Eucarístico Internacional (México), lamentou encontrar-se ausente mas pediu que o considerassem presente em Balasar «neste dia histórico».

«Situando-me na temática do Congresso, a Eucaristia, rezo para que a Beata Alexandrina interceda por nós de modo que, na Arquidiocese, a Eucaristia seja luz e vida do novo milénio. Necessitamos de ?almas? eucarísticas que vivam da Eucaristia e para a Eucaristia» – sublinha em nota pastoral.

Convém lembrar aos mais desatentos que a beata Alexandrina, a primeira de um bando de 25 a quem a ICAR prometeu a promoção e os milagres necessários, passou numerosos anos sem comer, nem beber, em anúria e alimentando-se apenas de hóstias consagradas, facto confirmado pelo actual Papa cuja credibilidade não é posta em causa.

O Diário Ateísta admite que a morte se deveu à falta de consagração de alguma hóstia, por distracção ou incúria, privando-a do único alimento que a mantinha.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Está aberta a audiência

Está aberto o tribunal eclesiástico para julgar os arguidos Francisco e Jacinto Marto, suspeitos de terem curado pela televisão uma criança, residente na Suíça, filha de pais portugueses, portadora de diabetes melitus tipo I, «insulino-dependente».

Segundo os autos, a mãe da criança viajava de joelhos à volta do televisor da sala de jantar e empurrava a criança contra o ecrã no dia 13 de Maio do ano 2000, enquanto João Paulo II dava a bênção em Fátima e promovia os ora arguidos à condição de beatos. Na consulta seguinte os médicos ficaram aparvalhados por verem a criança curada.

Dada a complexidade do milagre, só possível graças à invenção da televisão, o julgamento avaliará testemunhos e documentos antes de declarar milagre a cura, mais difícil do que a primeira, (a de D. Emília dos Santos, que esteve entrevada e morreu pouco tempo depois, a andar).

Os arguidos Francisco e Jacinto estão dispensados de comparecer em tribunal para evitar uma nova exumação dos dois defuntos, que gozam de enorme consideração da ICAR e que Deus foi servido de chamar à sua divina presença, respectivamente em 1918 e 1920, ambos por volta dos 10 anos de idade.

Segundo conseguiu saber o Diário Ateísta de meios beatos ligados ao negócio de Fátima, o veredicto já está confirmado, sendo o simulacro de julgamento um acto simbólico para gáudio dos devotos. Assim, em menos de um ano, os beatos serão promovidos a santos, numa acção de intensa propaganda para relançar a fé e reanimar os negócios na Cova da Iria.

O Diário Ateísta regista o milagre, inteiramente concebido, fabricado e distribuído sem recurso a tecnologia estrangeira, com um grau de autenticidade igual a todos os outros que JP2 aprovou nos países onde a ICAR enveredou pela superstição como método de alienação colectiva e caminho para a sua sobrevivência.