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Hora da Poesia

Um soneto de Antero de Quental.

DIVINA COMÉDIA

Erguendo os braços para o Céu distante

E apostrofando os deuses invisíveis,

Os homens clamam: – «Deuses impassíveis,

A quem serve o destino triunfante,

Porque é que nos criastes?! Incessante

Corre o tempo e só gera, inextinguíveis,

Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,

Num turbilhão cruel e delirante…

Pois não era melhor na paz clemente

Do nada e do que ainda não existe,

Ter ficado a dormir eternamente?

Porque é que para a dor nos evocastes?»

Mas os deuses, com voz inda mais triste,

Dizem: – «Homens! porque é que nos criastes?!»