Já aqui partilhei uma excelente série de vídeos sobre uma experiência de desconversão. Pela forma séria, sofisticada e apelativa como está construída e pela clareza e pertinência dos argumentos apresentados, sugeri vivamente o seu visionamento completo.
Recentemente descobri que essa série foi legendada em português. Agradecendo a quem fez a tradução, aproveito para divulgar a série de novo neste espaço.
Aqui está um dos melhores vídeos da série, o momento da desconversão, desta feita legendado em português:
PS- Não esquecer de activar as legendas, para quem não tem essa opção por omissão.
Este vídeo é uma sátira muito bem feita, relativa à alegação disparatada de que o enquadramento jurídico ou moral das sociedades ocidentais é baseado nos 10 mandamentos.
E algumas questões pertinentes.
«Se um homem achar uma moça virgem não desposada e, pegando nela pela força, deitar-se com ela, e forem apanhados, o homem que se deitou com a moça dará ao pai dela cinquenta siclos de prata, e porquanto a humilhou, ela ficará sendo sua mulher; não a poderá repudiar por todos os seus dias.»
Deuteronômio 22:28-29
Aos que alegarem que esta passagem está «fora do contexto» desafio que expliquem em que contexto é que é justo e razoável forçar uma vítima de violação a casar com o agressor.
É também conveniente lembrar as palavras de Jesus em Mateus: «Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim aboli-la, mas fazê-la cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.»
Sou da opinião que as crenças religiosas cristãs têm uma influência perniciosa na moralidade.
Este vídeo explica de forma muito clara e adequada algumas das principais razões pelas quais isso acontece:
Uma sátira perspicaz ás crenças associadas ao Mistério Pascal:
Nos textos anteriores referi cinco condições que um conjunto de relatos deveria respeitar para justificar a confiança de um historiador nos eventos relatados:
-serem feitos por quem observou o(s) evento(s)
-serem recentes face ao(s) evento(s) descrito(s)
-serem feitos por parte desinteressada
-serem de fontes independentes entre si
-serem consistentes
No segundo texto mostrei que a maioria dos académicos acredita que não são verificadas as duas primeiras condições, no terceiro mostrei o mesmo em relação às duas condições seguintes, e no quarto texto mostrei o mesmo em relação à quinta condição.
Existe, no entanto, uma outra condição que justifica não apenas uma falta de confiança no relato, mas uma confiança activa na sua falsidade – a contradição com outros factos históricos estabelecidos.
Claro que, se um conjunto de fontes que, por respeitar todas as cinco condições mencionadas, mereça a nossa confiança relatar algo contrário a factos históricos estabelecidos, o historiador fica perante um problema. Terá de avaliar se as fontes usadas para estabelecer esse facto merecem mais ou menos confiança que as novas fontes analisadas, e essa avaliação pode ser difícil.
Mas se um conjunto de fontes que não mereça a nossa confiança (por várias razões diferentes) relatar algo contrário a factos históricos estabelecidos, o historiador terá de concluir, sem grandes hesitações, que o relato feito por estas fontes – por equívoco ou por outras razões – é falso. A fonte como um todo passa a merecer ainda menos confiança.
Isto ocorre com os evangelhos. Veja-se o caso do massacre dos inocentes referido em Mateus:
«Quando Herodes percebeu que havia sido enganado pelos magos, ficou furioso e ordenou que matassem todos os meninos de dois anos para baixo, em Belém e nas proximidades, de acordo com a informação que havia obtido dos magos.
Então se cumpriu o que fora dito pelo profeta Jeremias: “Ouviu-se uma voz em Ramá, choro e grande lamentação; é Raquel que chora por seus filhos e recusa ser consolada, porque já não existem”.»
É de notar que não existe qualquer referência histórica a um evento desta magnitude. Nenhum cronista, nenhum outro relator mencionou este alegado massacre de dimensões «bíblicas». Mas, mais que isto, este episódio coloca o nascimento durante o reinado de Herodes o grande, o qual terminou no ano de 4 a.C.
Veja-se agora esta passagem de Lucas relativa ao recenseamento de Quirino:
«E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse (Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria). E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade.
E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de David, chamada Belém (porque era da casa e família de David), a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida.»
Existem referências históricas ao recenseamento de Quirino. Mas ele terá ocorrido nos anos 6-7 d.C.
Ora ninguém pode ter nascido simultaneamente antes de 4 a.C., e em 6 ou 7 d.C.
E as contradições com os factos históricos estabelecidos não terminam por aqui. Os romanos não faziam receseamentos simultâneos em todo o Império, e certamente não exigiam que famílias inteiras retornassem às terras dos seus ancestrais.
Nos comentários aos textos anteriores, vários crentes alegaram que nada têm a obstar à falta de confiança que os evangelhos merecem do ponto de vista estritamente histórico. Que, ao invés de documentos históricos fiáveis que nos permitam elucidar com alguma confiança a respeito dos factos ocorridos, são descrições míticas, com um objectivo simbólico e teológico, e que é como tal que devem ser lidos e analisados.
No que diz respeito ao ponto de vista estritamente histórico, estamos certamente de acordo.
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