Loading

Categoria: Religiões

10 de Maio, 2018 Carlos Esperança

Donald Trump, o cristão dissoluto e empreiteiro que rompe acordos

Política e religiões

Há três razões a impedir a designação de besta perfeita ao presidente do EUA. A primeira é o respeito que merece a função e o país, a segunda é o simples dever de educação e, finalmente, saber que ninguém é perfeito.

É enorme a perplexidade perante o mais poderoso líder mundial, capaz de pôr em causa todos os compromissos assumidos pelo seu país, desde a normalização das relações com Cuba até ao acordo sobre o clima e, agora, o difícil e auspicioso acordo obtido sobre a desnuclearização do Irão.

O Irão, com a própria e difícil anuência dos aiatolas, submeteu-se ao acordo unânime dos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (P5), China, França, Rússia, Reino Unido e os EUA, assinando a desistência do programa nuclear estruturado, em curso, altamente perigoso numa região fortemente instável.

O desmantelamento do programa, em fase avançada, monitorizado pela Agência Internacional de Energia Atómica, sob cuja vigilância se mantém, foi escrupulosamente respeitado pelo Irão, como ainda em fevereiro o confirmou a referida agência, ao contrário do que declarou Trump.

O apoio ao perigoso disparate pela Arábia Saudita e Israel é motivo acresciso de preocupação, a juntar à ignorância crassa do cowboy americano que acusou o Irão (xiita) de ser apoiante dos talibãs e da Al-Qaeda, assumidamente sunitas e financiados pelos sauditas.
Será o dissoluto Trump, um sionista desvairado ou sunita desmiolado disfarçado de ignorante?

Quem pode travar este néscio à solta, este irresponsável que a Cambrydge Analytyca levou à Casa Branca? Já nem a Europa, nem mesmo o Reino Unido, satélite habitual da antiga colónia, o acompanham no desvario que ultrapassou as piores previsões.

A decisão de Donald Trump em relação ao Irão, é um perigo iminente para a paz mundial e uma traição ao Irão e à Europa que já teme acompanhá-lo.

Apostila – Desconheço, nos últimos anos, qualquer ataque terrorista ao Ocidente, perpetrado por xiitas. Trata-se de um cristão que se alia aos sunitas contra os xiitas.

8 de Maio, 2018 Carlos Esperança

A vitória sobre o nazi/fascismo – 73.º aniversário

A 8 de maio de 1945 a Alemanha capitulou perante os aliados ocidentais, após uma tentativa gorada do Alto Comando alemão para negociar a paz com os ocidentais. Foi o dia em que os nazis, antecipando em 1 dia a rendição à URSS, se renderam em Berlim, e 1 milhão de pessoas festejou em Londres o fim da II Guerra Mundial, com a paz a voltar à Europa, destroçada, ferida e ensanguentada, ainda a preceder a rendição do Japão.

Na euforia da vitória e na cumplicidade de vários países vencedores, puderam continuar vivos e impunes os dois regimes fascistas da Península Ibérica, Espanha e Portugal.

Há 73 anos findou o mais cruel e demente plano genocida da História. Hoje, esquecidos a data, o pesadelo, o racismo, a xenofobia e os milhões de vítimas, parecem ressurgir os demónios que causaram a maior tragédia do século XX. Já se pressente, na deriva neoliberal, na sedução da extrema-direita, até em episódios antissemitas, a trágica repetição das circunstâncias que conduziram à devastadora guerra.

Com grupos económicos e financeiros a dirigirem a política e a recriarem as monstruosidades passadas, o ano de 2017 viu a extrema-direita avançar nos EUA e na Europa, atingindo níveis preocupantes na França, Alemanha, Áustria, Holanda, e a consolidar-se no poder na Hungria e Polónia, ainda que formalmente de forma democrática, já com desprezo dos direitos humanos.

Celebrar o dia 8 de Maio é condenar a violência de Estado, repudiar o antissemitismo e honrar as vítimas, todas as vítimas, de várias origens e de diferentes algozes, que ao longo dos séculos foram perseguidas por preconceitos religiosos, étnicos e culturais.

6 de Maio, 2018 Carlos Esperança

Do meu arquivo

Winston Churchill disse em 1.899:

«Os muçulmanos podem mostrar qualidades esplendidas, mas a influência da religião paralisa o desenvolvimento social de aqueles que a seguem. Não existe nenhuma força tão retrógrada mais forte no mundo.»

Ainda mais surpreendente é que isto não tenha sido publicadas mais cedo e que algumas pessoas não vejam razão para se preocuparem.

O breve discurso foi feito por Winston Churchill, em 1.899, quando ele era um jovem soldado e jornalista. Provavelmente explica a opinião atual de muitos, e foi expressa na maravilhosa frase de Churchill a usar o idioma Inglês, do qual era mestre.

Sir Winston Churchill foi um eminente homem dos séculos XIX e XX. Foi um valente jovem soldado, jornalista brilhante, político, um extraordinário estadista durante a segunda guerra mundial e um ótimo Primeiro-Ministro.

Era como um profeta no seu próprio tempo. Ele morreu em 24 de Janeiro de 1.965, com a idade de 90 anos e depois de uma vida de serviço ao seu país, foi-lhe concedido um funeral de chefe de Estado.

Eis aqui o seu discurso:

«Quão terrível são as maldições que o islamismo coloca aos seus devotos!

Além do frenesim fanático, que é tão perigoso num homem como hidrofobia num cão, não existe essa apatia fatalista do medo. Os efeitos são evidentes em muitos países, hábitos imprevistos, desleixados, não há sistemas para a agricultura, métodos lentos de comércio e insegurança da propriedade existem sempre que os seguidores do Profeta são instalados ou vivem.

O sensualismo degradado priva as suas vidas de graça e requinte, a distância da sua dignidade e da santidade.

O facto de, em direito maometano cada mulher dever pertencer a um homem como sua propriedade absoluta, seja como uma criança, uma mulher ou uma concubina, atrasa a extinção final da escravidão de fé do Islão deixar de ser um grande poder entre os homens.

Os Muçulmanos individualmente podem mostrar qualidades esplêndidas, mas a influência da religião paralisa o desenvolvimento social daqueles que o seguem. Não existe nenhuma força retrógrada mais forte no mundo.

Longe de ser moribundo, o islamismo é uma fé militante e proselitista. Já se espalhou por toda a África Central, criando guerreiros destemidos a cada passo e se não se cuidar o cristianismo que está abrigado nos braços fortes da ciência, ciência contra a qual eles lutaram em vão, a civilização da Europa moderna pode cair, como caiu a civilização da Roma antiga.»

(Sir Winston Churchill; (Fonte: “O rio da guerra”, primeira edição, Vol. II, páginas 248-250 Londres).

30 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Tribunais, animais, anormais e outros mais

A herança da cultura judaico-cristã

A benevolência com que alguns juízes julgam as agressões a mulheres pode dar início a um novo paradigma jurisprudencial. Nem tudo está parado nas sociedades ou amolecido na consciência que as molda. De vez em quando, um sobressalto cívico torna contagioso o fervor da indignação. Ainda bem.

Espanha está em pé de guerra perante a complacência com que foram condenados cinco violadores de uma jovem de 20 anos, alcoolizada, enquanto os alarves a filmavam. Que raio de machos aqueles, que sentiam prazer na humilhação da mulher indefesa e vaidade na filmagem do crime! Que manada de filhos de uma nota de 5 euros!

Foi preciso que três juízes chamassem ‘abuso sexual’ à violação da «Manada», e que as mulheres reagissem contra as penas, eventualmente de acordo com o código penal, para porem em causa as leis e a jurisprudência, a sociedade machista e a tradição misógina, a violência ancestral e o sofrimento feminino milenar.

Em Portugal, há sentenças que não envergonham apenas os juízes que as proferiram e a sociedade conformada. Ficaram para a história do Portugal reacionário, que habita togas que escondem corpos sem cabeça, no país de agora.

As jovens violadas no Algarve, por se vestirem de forma provocante, seja isso o que for, numa zona de praia, em Albufeira, foram de algum modo incriminadas pela violação de que foram vítimas, na “coutada do macho ibérico”, o que reduziu largamente o crime.

O adultério, tão condenado pela santa Bíblia e por venerandos desembargadores, passou a atenuante de peso para a selvática e premeditada agressão a uma mulher.

Um taxista, perante uma jovem de 16 anos que, tendo fretado o táxi, a conduziu para um pinhal e aí a violou, viu a pena suspensa porque a vítima já tinha obrigação de perceber os riscos que corria ao entrar sozinha num táxi.

É verdade que Paulo de Tarso considerava obscenos o cabelo e a voz das mulheres, um bom motivo para lhes ser impedida a entrada nos templos, sem o véu que as cobrisse, e interdito o canto, para o que a Igreja preferia os “castrati”, jovens a quem castrava para preservar a voz e evitar as mulheres no canto lírico em louvor do Divino, mas isso era o pensamento de quem estava destinado à santidade e não à judicatura.

É verdade que os juízes são pessoas normais, mas os que apavoram são os anormais!

E, no Islão a demência machista atinge o apogeu.

29 de Abril, 2018 Carlos Esperança

O Exorcismo da Celeste (Crónica)

Em terras da Beira, depois da guerra, a gratidão para com a senhora de Fátima, pela afeição a Portugal, estendia-se ao senhor presidente do Conselho por nos ter livrado do conflito. No Cume sobrava piedade e faltava comida. Estavam no fim os anos quarenta e os portugueses longe de começarem a ser gente.

A Celeste morava ao cimo do povo, sozinha, e cismava que se matava. Via-se que não regulava bem da cabeça e adivinhava-se a fome que a apoquentava. Suspeitaram os vizinhos de mau olhado e a ti Catrina, calhada nas benzeduras para tal moléstia, já a tinha ido visitar com outras mulheres embiocadas no xaile e os rostos sumidos na copa de enormes lenços pretos. Das conversas delas nada se disse, mas ouviu-se na rua a ladainha:

«Dois to deram, três to tirarão,
foi S. Pedro e S. Paulo e o apóstolo S. João
Sant’Ana pariu Maria, Maria pariu Jesus,
assim como isto é verdade,
livre este corpo de ares, olhares e todo o mal
em louvor de Sant’Ana e Santa Iria…
padre nosso, ave-maria…»

Muitos padre-nossos e ave-marias depois, sem abrandar o mal, as mulheres mais velhas concluíram que deviam ser espíritos que atenazavam a bendita alma da Celeste, tão temente a Deus que ela era, mas nestas coisas de espíritos ruins são estes que escolhem a morada e, embora a oração lhes dificulte a entrada, está provado que não é intransponível a barreira.

A adensar a suspeita ouvia-se na habitação, durante a noite, o barulho de máquina de costura, que não havia, a trabalhar, a perturbar o sono e a aumentar a angústia. À porta juntavam-se pessoas vindas da igreja a ouvir o som que os espíritos produziam. Os poucos que não ouviram, apesar da atenção e do silêncio, conformaram-se com a deficiência auditiva e renderam-se à maioria.

O senhor padre pode ter desconfiado do diagnóstico, o sr. António Bernardo dizia que ela não batia bem da bola, podia até ser dos espíritos, a senhora professora aconselhou um médico, que disparate, o que sabe um médico destas coisas e onde é que o há, mas o povo na sua infinita sabedoria já tinha o veredicto, eram espíritos, só podia ser, falava-se de uma avó falecida há muitos anos, a voz tinha sido reconhecida, faltaram-lhe algumas missas ao trintário na encomendação da alma, não se perde nada em benzer a casa e deixar algum latim – conformou-se, acossado, o padre Pires –, dizem-se as missas em dívida e logo se verá.

A Celeste é mulher e o destino das mulheres serem possuídas, os espíritos malignos aproveitam e, depois de entrarem, são difíceis de expulsar. É um combate para senhores párocos, ou mesmo para um reverendíssimo bispo se as posses da vítima e a malignidade o aconselham. Pouco avezado a tais pelejas, mas com habilitações canónicas e compleição adequada à luta, bem se esforça o padre a desalojá-los. Quem julgue que a força da cruz e do divino devem bastar não conhece os espíritos e o furor que transmitem às mulheres possuídas, levando à exaustão o exorcista que não raro precisa de várias tentativas para se fazer obedecer. Fracassa e fica extenuado, à primeira, o padre Pires, valendo-lhe a gemada que o aguarda com vinho e açúcar, enquanto a ceia e o breviário lhe não retemperam as forças e devolvem a serenidade.

A Celeste não melhora. Continua a ouvir vozes que desconhece, definha. Alguns dias após, no regresso do Carapito, onde tinha ido levar o viático a um moribundo, volta o padre Pires à peleja com o maligno. Pode ser que na vez anterior se tenha entupido o hissope, avariado o crucifixo ou faltado à água a bendição, quem sabe, o senhor prior não costuma partilhar as dúvidas, se dúvidas assaltam o ministro de Deus, isto é um incréu a pensar, a força da fé move montanhas, sempre ouvi dizer, a Celeste pode ter perdido a fé com a fraqueza, e sem fé não adianta, é um esforço inglório, o certo é que o senhor padre volta a entrar naquela casa, se pode chamar-se assim ao sítio, mal nunca faz, senhor eu não sou digna de que entreis na minha morada, isto é uma forma de dizer, a Celeste refere-se a Deus que está em toda a parte, mas quando vem acompanhado do seu representante há de infundir maior respeito, as pessoas humildes dizem estas coisas, o senhor padre mergulha bem o hissope, asperge-o com vigor, desenha cruzes, vai-se ao demo com o latim e as mãos, põe as pessoas a rezar o terço que a irmã Lúcia recomenda contra o comunismo, que também resulta com os espíritos, tudo obra do demo, deixa a reza para os paroquianos e sai da refrega exausto à procura da gemada com vinho, açúcar e nódoas para a batina, sem saber se os espíritos encurralados no corpo frágil obedeceram à ordem de expulsão, onde resistiam acossados à parafernália de alfaias sagradas e pias intimações.

As pessoas esperam na rua alheias ao perigo de serem apanhadas para refúgio dos espíritos em fuga. Nessa noite a máquina de costura inexistente permanece silenciosa e quieta, calam-se as vozes das almas penadas, a Celeste dorme bem pela primeira vez em muitos dias, depois da canja que lhe levaram. Se os espíritos não saíram estão debilitados.

A Celeste, com pouco alento, é certo, volta à horta e à igreja, o exorcismo resulta.

Finou-se algumas semanas depois, completamente curada, liberta de espíritos malignos.

In Pedras Soltas (Ed. 2006) – esgotada

26 de Abril, 2018 Carlos Esperança

9.º aniversário da canonização de D. Nuno Álvares Pereira (26- 4-2009)_2

Há nove anos D. Nuno foi criado santo, não por pelejar contra mouros, judeus ou outros infiéis, nem, certamente, pelo desembaraço com que matou cristãos castelhanos, atitude que comprometeria a Igreja e a santidade, mas por desejo do episcopado luso.

Enquanto Espanha se ajoelhava a Franco e ao Papa de turno, nunca foi possível elevar à santidade o herói nacional. Nem o opúsculo do Sr. Duarte Pio, especialista em solípedes pios, o investigador que descobriu que os cavalos de D. Nuno se ajoelharam em Fátima, antes da batalha de Aljubarrota e muitos anos antes de o Sol ter ali bailado, logrou com tão árdua pesquisa e tão transcendente milagre, fazer do herói um santo.

O patriarca Policarpo bem quis que o Vaticano usasse outro pretexto para a canonização que ansiava, mas o cardeal Saraiva Martins, então o Prefeito que certifica milagres, nem o Papa dispensavam um milagre obrado. A tradição exige contrariar as leis da Física ou o estado da arte médica para criar santos.

Como os milagres estão cada vez mais difíceis e os grandes acontecem sempre longe do País, recorreu-se a um milagre pífio, mas autóctone, aquém da dimensão do santo, mas em zona de prodígios e, em breve, com 3 santos no espaço de uma só aldeia.

O milagre foi encomendado à Sr.ª Guilhermina de Jesus, a desmazelada cozinheira que, em Ourém, expôs o olho esquerdo a salpicos do óleo fervente com que fritava os peixes e que, em vez do colírio, recorreu à súplica a D. Nuno, com mais eficácia terapêutica e menor custo.

O País devoto deve à cozinheira de Ourém e ao risco em que colocou o olho esquerdo, o milagre que possibilitou ao mais insigne dos 26 filhos conhecidos do prior do Crato, Álvaro Gonçalves Pereira, filho do bispo de Lisboa, D. Gonçalo Pereira, ser elevado aos altares no escalão máximo.

De futuro, quando um crente for atingido no olho esquerdo, não há experiência no olho direito, com salpicos de óleo fervente, incluindo o azeite Santo Condestável, não mais se recordará daquelas expressões que aliviam, mas perigam o destino da alma, e rezará, valha-me o Santo Condestável, Ave-maria… E o olho ficará curado.

26 de Abril, 2018 Carlos Esperança

9.º Aniversário da canonização de D. Nuno Álvares Pereira

D. Nuno e D. Guilhermina

Há nove anos, D. Nuno foi posto a render ao serviço do obscurantismo e da superstição. Não se referiram as leis da época, as lealdades a que os cavaleiros medievais eram obrigados nem as circunstâncias políticas das batalhas, e, por lapso, não foi referido que do lado de Castela também se ajoelhavam os cavaleiros, como era hábito.

Se houvesse exigência de rigor em alguma afirmação, alguém devia ter sido explicado como se tornou D. Nuno o homem mais rico do reino e como exigiu a fortuna. Mas isso são coisas alheias à santidade e à cura do olho da D. Guilhermina.

Só do lado de D. Nuno se genufletiram os cavalos, é certo, a fazer fé num opúsculo do Sr. Duarte Pio, especialista em cavalos devotos e tolices avulsas, não se percebendo o esquecimento dos cavalos com o precedente de S. Guinefort, o cão injustamente morto pelo dono e feito santo. Os historiadores ignoraram o espetáculo e deixaram ajoelhar consolados os escuteiros, bispos e beatos que foram agradecer a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina, órgão que devia ser protegido com grades, não vá um especulador de relíquias arrancar-lho em vida.

O Patriarca Policarpo acusou o Estado de conviver mal com a Igreja, sem compreender a separação e a laicidade a que o Estado é obrigado. O Sr. Duarte Pio, com vocação para a asneira, considerou que a canonização «tem mais importância para Portugal do que os «prémios Nobel».

Apostila – Este texto foi escrito na data da canonização e ora adaptado para a efeméride.
Dada a importância da cura do olho esquerdo de D. Guilhermina para a santidade de D. Nuno, trarei aqui, a este mural, os textos da época.

23 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Religiões e ditaduras

Conheci bem a conivência da Igreja católica com as ditaduras ibéricas. Ainda recordo os apelos feitos nas missas para que Deus protegesse os «nossos» governantes, lhes desse longa vida e iluminasse a inteligência, sendo certo que Deus foi sensível aos primeiros e surdo ao último. De Salazar ouvi a vários padres que a Providência o tinha designado para governar Portugal. Creio que nasceram aí as minhas dúvidas relativamente a Deus e a suspeita aos seus padres.

O cardeal Cerejeira avisou Salazar do desígnio providencial, de que teria conhecimento pelas confidências da senhora de Fátima à Irmã Lúcia. E escreveu-o com o despudor com que João Paulo II confirmou ao mundo que a beata Alexandrina de Balazar passou mais de uma década sem comer, nem beber, em anúria, a alimentar-se apenas de hóstias consagradas.

Em Espanha o caudilho era idolatrado pelo clero e numerosas missas de ação de graças foram celebradas em sua honra, agradecendo ao Senhor a encomenda. Mons. Escrivá de Balaguer, já na altura bastante íntimo do divino, incensava o generalíssimo e combatia os seus adversários. Foi um apóstolo denodado do franquismo na região de Burgos, primeiro, e um pouco por toda a parte, depois. Como compensação levou para o túmulo o truque para fazer milagres e rapidamente chegar a santo.

Pio IX excomungava os que defendiam a separação entre a Igreja e o Estado. Pio XI declarou numa missa grandiosa em honra do «Duce», que ascendeu ao poder com o apoio ativo da ICAR: «Moussolini é um homem que a Providência Divina nos enviou». Na sequência do atentado falhado de que foi alvo pelo jovem Anteo Zamboni, militante da Liga ateísta, com 15 anos de idade, este foi preso no local e linchado por fascistas. O Vaticano fez difundir nas igrejas e escolas uma imagem piedosa mostrando a morte do jovem Zamboni, «joguete do Diabo, inimigo da fé, punido pela mão de Deus».

A simpatia de Deus pelos ditadores comprometeu-lhe o prestígio e distanciou a clientela quando as democracias se popularizaram. Excetuando o comunismo em que Estaline (um ex-seminarista que quase chegou a padre) se entregou a uma demência sanguinária, as ditaduras tiveram quase sempre o apoio militante e entusiástico do clero, da Europa à América latina, com grande destaque para a ICAR. Pinochet foi sempre devoto da missa e desenvolveu pela eucaristia uma síndroma de habituação e dependência. Nos países árabes, onde o livro sagrado é de cumprimento obrigatório, sabe-se como a liberdade ofende Alá, irrita o seu profeta e obriga o clero a proceder em conformidade.

Penso, no entanto, que é menos a fé do que a volúpia do poder que atira o clero para relações promíscuas com o Estado. A sedução por regimes autoritários é o corolário lógico da verdade única, do ser supremo, do respeito pela hierarquia, da obediência cega. A submissão e a obediência são apresentadas como virtudes e estimuladas pelos guardiões da fé.

Quando o poder vem de Deus instala-se o poder discricionário e institucionaliza-se a violência. Quando o sufrágio universal e secreto se conquista, Deus emigra e os homens tornam-se livres.

18 de Abril, 2018 Carlos Esperança

Sintra e a sua mesquita

Sei da minha irrelevância na formação da opinião pública, mas o silêncio é o perigo que ameaça a ausência de opinião, o narcótico que anestesia as consciências, a cumplicidade que permite as iniquidades.

Não tenho o monopólio da verdade. Aceito, em teoria, que seja melhor a opinião oposta, mas se não expuser a minha arrisco-me a que vença a única que é expressa. Entendo que é um dever cívico pronunciar-me sobre o que acontece no mundo e, sobretudo, no meu País.

Depois de Lisboa é em Sintra que vai ser construída uma nova mesquita, cuja Câmara cedeu o terreno onde irá ser erigido um Centro Comunitário com Mesquita, com 7141 metros quadrados.

Não é o direito à construção de um templo que está em causa, é o roubo do património público a favor de uma crença particular, é a apropriação de um bem coletivo por uma associação pia.

Num país cuja Constituição estabelece de forma irrevogável a separação das Igrejas e do Estado não se percebe que instituições religiosas gozem de isenções fiscais, recebam terrenos, dinheiro, heranças e se permita que a escola pública sirva para evangelização com professores pagos pelo erário público.

A Concordata assinada por Durão Barroso é uma afronta à autoridade do Estado e uma cedência que transforma Portugal em protetorado do Vaticano. A presença do clero nas cerimónias públicas converte o Estado e as autarquias em sacristias.

É evidente que o tratamento igual para todas as religiões levaria a que o Islão exigisse o mesmo tratamento da Igreja católica e não foi surpresa saber do regozijo do sheik David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, na cerimónia de início das obras em Sintra, em vez de saber o que sucedeu ao processo onde foi acusado de maus tratos à mulher.

O catolicismo é hoje tolerante, mas isso deve-se á repressão política sobre o clero e não à virtude intrínseca da religião. Não se pode dizer o mesmo do Islão cuja deriva fascista e carácter totalitário é uma realidade de que as primeiras vítimas são os muçulmanos.

O Estado fica sem meios, e sem terrenos, ao trair a laicidade e não submeter as religiões a um tratamento igual ao de qualquer outra associação. Um dia, amargamente, serão os católicos a compreender a virtude da laicidade que aceitam com reservas.

«L’État chez lui, l’Église chez elle». “O Estado na sua casa e a Igreja em casa dela”. Um dia, as palavras pronunciadas por Vítor Hugo, em 14 de janeiro de 1850, no Parlamento francês, ressoarão tarde nos ouvidos de beatos, tímidos e idiotas que cedem à tentação de entregar o que é de César aos funcionários dos deuses que surgem nas esquinas da História.