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Categoria: Islamismo

16 de Janeiro, 2012 Ricardo Alves

«Faz parte da vossa religião permitir que um homem e uma mulher se sentem juntos num café, por exemplo?»

Resposta: «não». Quem assim responde é porta-voz do partido Al-Nour – que teve uns 25% dos votos nas eleições parlamentares egípcias. Temia-se que a Irmandade Muçulmana ganhasse estas eleições. E ganhou-as, com uns 48% dos votos. Mas o Al-Nour foi a surpresa: com quase um em cada quatro dos votos expressos, surgiu como o segundo maior partido. Trata-se de um partido salafista, que pretende aplicar a chária à moda da Arábia Saudita. Ainda mais integrista, portanto, do que a Irmandade Muçulmana.
Este resultado não é mau, é péssimo. Se na Tunísia os islamistas venceram sem maioria absoluta, no Egipto terão dois terços dos deputados. E em Marrocos, o novo Primeiro Ministro é também um islamista. Num ano, passámos portanto da Primavera árabe ao Inverno islamista. Como diz o porta-voz que «tenta olhar para a cara [da jornalista] o menos possível» e promete mandar as mulheres para casa e os cristãos para o gueto: «chegou o tempo da verdade, e de mostrar aos outros o verdadeiro islão». Alá que os carregue.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
2 de Novembro, 2011 Ricardo Alves

A besta islamista voltou a atacar

A redacção do jornal Charlie Hebdo foi incendiada esta madrugada, aparentemente com um cocktail molotov. A razão é óbvia: o jornal satírico francês lança hoje nas ruas uma edição (capa aqui ao lado) destinada a assinalar a vitória dos islamistas do Ennahda na Tunísia e o anúncio pelo CNT de que as leis líbias se basearão na chária. A edição apresenta o título «Charia Hebdo» e um novo editor: «Maomé» (lui-même). A redacção ficou totalmente destruída.

A sátira e o riso são tão importantes para o meu ateísmo como o ajoelhamento e a prece o são para os religiosos. Se os muçulmanos e os católicos não entendem assim, eu explico melhor: atacar o Charlie Hebdo é como pôr uma bomba em Meca ou em Fátima. Ou melhor ainda: na Europa, o anticlericalismo é um direito. Pôr bombas por causa de umas caricaturas é próprio de bestas que se levam demasiadamente a sério. Ou de fascistas (neste caso, da variante islamofascista). Se não gostam de rir, vão rezar. 
P.S. Agradeço aos leitores que informem na caixa de comentários da localização de alguns dos quiosques e papelarias que vendem o Charlie Hebdo para que todos possamos, em solidariedade, adquirir um exemplar (ou mais…).
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
25 de Outubro, 2011 Carlos Esperança

Da Primavera Árabe ao inverno muçulmano

O júbilo da comunicação social dos países democráticos com a queda das ditaduras do Norte de África pareceu-me sempre exagerado. Não que a queda dos ditadores me deixe triste mas porque, em contexto religioso, pressinto os piedosos facínoras que se seguem.

Assustou-me a amnésia colectiva em relação à ascensão da Frente Islâmica de Salvação (FIS) na Argélia cujo pavor levou ao golpe de Estado que impediu a segunda volta das eleições em 1992, eleições que, a terem lugar, como estava previsto e era justo, dariam a vitória aos fanáticos religiosos. Não esqueço a onda de euforia que percorreu o Irão após a queda de Xá Reza Pahlavi, um déspota corrupto, com o regresso do exílio do aiatola Khomeini, com cheiro a santidade.

Não esqueço as palavras do infalível Pio IX que considerava o catolicismo incompatível com a democracia e a liberdade, nem as tolices do Corão que nas mesquitas e madraças intoxicam desde a infância as legiões de crentes.

Não conheço nenhuma religião que tenha lutado pela democracia e pela liberdade mas não faltam exemplos de ditaduras apoiadas pela fé e violências cometidas em nome do deus imposto. A vocação totalitária é comum ao cristianismo e ao islamismo mas, enquanto o primeiro foi moldado pela cultura grega, pelo direito romano, pela Reforma e pela pressão secular, o islamismo não conheceu o Iluminismo, a Revolução Francesa e a derrota dos seus próceres. O Papa foi derrotado por Garibaldi, o secularismo sobrepôs-se às sotainas e o pluralismo e a emancipação da mulher criaram a superioridade moral das democracias em relação às teocracias.

A decadência da civilização árabe, a pobreza e o atraso dos povos submetidos ao Corão, fizeram do Islão o mais implacável monoteísmo, uma cópia grosseira do cristianismo que legitima todos os poderes e as atrocidades praticadas nos países árabes e não árabes, nomeadamente no Irão e na Turquia.

Há a tendência de apelidar de moderado o proselitismo islâmico em curso na Turquia onde os pilares da laicidade – os militares e os juízes – vão sendo assassinados ou neutralizados. O legado de Kemal Atatürk vai definhando com o apoio e simpatia dos países europeus e dos Estados Unidos. Nos países islâmicos, até prova em contrário, não está em curso uma Primavera política, assiste-se à queda de ditadores laicos a substituir por ditadores pios. O Iraque, a Tunísia, o Egipto e a Líbia conquistaram a liberdade de votar democraticamente a supressão da democracia.

Como espero enganar-me!!!   E não ouvir falar da sharia como fonte de todos os direitos, isto é, de todas as iniquidades.