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Categoria: Política

9 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Os homens nascem ateus

Os homens nascem ateus mas a família, a sociedade e os padres logo os corrompem à nascença com um qualquer ritual iniciático que os integra numa sociedade exotérica donde apenas se sai com o anátema de apóstata e a cabeça a prémio.

Quando uma criança aprende a ler, logo lhe ensinam o catecismo. Servem-lhe os rituais e conduzem-na pelos trilhos da tradição que faz de uma pessoa crente e deste prosélito.

É assim que a geografia da fé faz muçulmanos no Médio Oriente, católicos no Sul da Europa e nos países colonizados pela cruz e a espada, protestantes nos países de cultura anglo-saxónica e hinduístas e budistas na Ásia, com excepções e oásis de pluralismo onde o Estado se tornou laico ou os acasos da história criaram condições propícias.

Seja qual for a religião, é a vocação totalitária que devora os crentes. Não lhes basta o Paraíso que os espera, exigem aos outros que os acompanhem nem que para isso seja preciso usar os métodos preconizados nos livros sagrados.

É assim que os homens se habituam a viver de joelhos quando a honra lhes exigia que ficassem de pé e acabam de rastos quando os padres lhes apontam a vontade do deus à custa de quem vivem.

Os homens nascem ateus mas há sempre quem queira transformar cidadãos em beatos e livres-pensadores em prosélitos da fé. 

5 de Janeiro, 2008 Ricardo Silvestre

Sistemas de apoio

Mike Huckabee teve uma primeira vitória nas primárias do partido republicano para ver quem vai ser o candidato desse partido à presidência dos Estados Unidos.

Este produto da criação directa de deus, que não teve, na sua opinião, de passar pelos estágios da evolução das espécies, quer “devolver a América a cristo” (que na verdade nunca lhe “pertenceu”) através da Casa Branca.

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Até aqui, tudo bem. Este idiota tem o direito de fazer o que quiser, mesmo concorrer para o emprego que deve ser uma das maiores dores de cabeça que pode existir, com uma economia caótica, uma guerra do Iraque sem saída à vista, e um dólar sem qualquer relevância.

Mas, tal como com Pat Robertson antes dele, apesar destes charlatães não terem nada de concreto a nível político (com o Huckabee a ser o exemplo mais ridículo que se podia

encontrar, não percebe nada de economia, relações internacionais, ciência, educação, etc, etc) apelam aos “movimentos evangelistas” e a todos os fanáticos que estão mortinhos para o fim dos tempos.

Reparem só nos sistemas de apoio que Huckabee teve em Iowa (onde foi a primeira eleição destas primárias). Entre as várias organizações a trabalhar com este simplório pode-se contar: o Iowa Family Policy Center, mais um grupo de focos nos valores de famílias cristãs; a Home School Legal Defense Association, esta associação então é de abanar a cabeça em descrédito uma vez que tenta defender os direitos de “educação parental em residência” ou seja, as crianças serem educadas na vertente académica em casa – artificio normalmente associado a famílias cristãs que não querem os filhos “expostos” à ciência ensinada nas escolas; a FairTax uma organização cristã de angariação de fundos, e a Iowa Christian Alliance, entre outras.

Porque é isto importante? Porque 80% dos que votaram em Huckabee caracterizam-se a eles próprios como cristãos evangélicos!!!!

Ou seja, o futuro presidente dos USA pode ser eleito porque a plataforma que o pode eleger é aquela que está mais bem organizada. Que se lixe a visão política (ou a falta dela), a competência, ou as crenças.

Façam as vossas contas, aproxima-se o regresso do JC

5 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

O clericalismo não é exclusivo dos cristãos

A judia fundamentalista Esther Mucznick brindou-nos, no Público de quinta-feira, com a sua (má-)fé e fanatismo habituais.

Exemplo:

  • «(…) a laicidade radical que considera a religião como um factor de atraso e obscurantismo a banir do espaço público, e se possível da estratosfera, está de facto completamente ultrapassada, não só em França, mas onde quer que ela se manifeste. Existe apenas em cabeças dogmáticas que fizeram do laicismo e do anticlericalismo a sua própria religião».

Em primeiro lugar, a laicidade constitucional é bem mais «radical» nos EUA do que em França (note-se os subsídios estatais de que gozam centenas de igrejas católicas em França, e que seriam inconstitucionais nos EUA). Em segundo lugar, considerar a religião «um factor de atraso e obscurantismo» não é anticlericalismo (ou laicismo), mas sim anti-religiosidade. Em terceiro lugar, os laicistas sabem distinguir o espaço estatal (que deve ser religiosamente neutro) do espaço público (que pode ser
pluriconfessional). Em quarto lugar, considerar o laicismo uma religião necessita de um conceito tão abrangente de religião que duvido que a senhora Mucznick lhe aturasse as consequências. Mas é de registar a espontaneidade com que associa dogmatismo e religião.

E continua:

  • «“Se não tiveres Deus”, afirma T.S. Eliot, “terás de te prostrar perante Hitler ou Estaline.” Certo ou errado, a verdade é que a religião tem sido frequentemente um fermento no combate às ditaduras políticas e militares: contra os regimes comunistas no Leste europeu, contra as próprias ditaduras militares seculares no mundo islâmico, onde as mesquitas são frequentemente, e com os excessos que se conhecem, o único centro de oposição política, ou mais recentemente na resistência dos monges birmaneses a um dos regimes mais opressivos do mundo.»

Esqueceu-se a senhora Mucznick do papel de «combate» às ditaduras desempenhado pela ICAR em Portugal (saberá onde fica?), na Espanha de Franco a Aznar, na França de Pétain, na Alemanha do católico Hitler, na Eslováquia do padre Tiso, na Croácia de Pavelic e Stepinac, na Argentina dos militares, no Chile de Pinochet, e, já agora, o papel de «fermento» da religião no Irão dos aiatolás, no Tibete feudal, na Arábia Saudita onde as
mulheres não podem sair à rua sozinhas, ou no Sudão, para nos ficarmos apenas pelos casos mais recentes. Esqueceu-se também a senhora Mucznick de que quem se prostrou perante Hitler foi o Partido do Centro Católico que lhe votou os plenos poderes (ditadura) e o Pio 12 da Concordata que a ICAR recebeu em troca. Esqueceu-se ainda de que o ser humano não tem nenhuma tendência natural para a prostração ou para rastejar, são as
religiões abraâmicas que o tentam transformar em escravo.

No fundo, o clericalismo judeu é pior do que o católico, embora se dê menos por isso.

3 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Eu e os crentes

Conheço e aprecio quase todas as grandes catedrais católicas da Europa, bem como os templos protestantes e ortodoxos, alguns templos budistas e mesquitas.

Do Brasil ao Canadá, de Lisboa a Roma, de Atenas a Marrocos, de Efésio a Londres, da Tailândia aos EUA, nunca deixei de apreciar a arte sacra: a arquitectura, a escultura, a pintura e a música. O ateísmo que perfilho, há meio século, nunca me embotou a sensibilidade nem me levou a desequilíbrios psíquicos que me transtornassem em sítios onde os crentes cantam, rezam e se divertem em festejos místicos.

Nunca pensei entrar num templo para fazer a apologia do ateísmo, gozar os crentes que se ajoelham, rastejam e espojam ao som do latim, do grego, do árabe ou da língua autóctone.

Desprezo as crenças, aborrecem-me os sinais cabalísticos, condoo-me com os embustes com que o clero explora, aterroriza e torna infantis os crentes, mas não interfiro entre o clérigo quer vigariza e o crédulo que cai no conto do vigário.

Podia esperar a mesma postura dos avençados da fé que entram no Diário Ateísta como piolhos em costura. Vêm com surro no cérebro e ódio no coração, fartos de rezas e água benta, a cheirar a incenso e fumo de velas, com o mesmo fanatismo que leva os judeus a quererem derrubar o Muro das Lamentações à cabeçada e os muçulmanos que desejam abrir a porta do Paraíso com explosivos.

Eu sei que a fé os enlouquece, que as orações os embotam e os jejuns os debilitam, mas os padres podiam ensinar-lhes o tino que lhes falta e as maneiras que se usam em casa alheia. Mas vá lá alguém convencer um doido de que não é o Napoleão.

Alguns crentes prometem não regressar ao Diário Ateísta. Enquanto ruminam o acto de contrição prometem não voltar, mas voltam sempre. Garantem não voltar a pôr aqui os pés. Mas põem. TODOS.

1 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Diário Ateísta deseja a paz para 2008

Os anos passam, envelhecem as pessoas e envilecem os clérigos. Os votos de paz que se formulam em noites de passagem de ano, por entre beijos quentes e húmidos, quebram-se no início do novo ano na demência prosélita das religiões que, a troco da miragem do Paraíso, semeiam ódios e colhem guerras.

As religiões monoteístas iam no bom caminho quando começaram a eliminar os deuses. Deixaram um, para comprometerem a felicidade humana, e fizeram da sobra o carrasco da felicidade. Quase chegaram à verdade. Bastava terem deixado no caixote do lixo da História o que restou para desgraça.

Não haverá paz enquanto os parasitas de Deus se esforçarem por impor as suas crenças aos que as não têm e aos que as têm diferentes. A burla da fé corrói as consciências e amolece o carácter, arruína a compaixão e exacerba a raiva. Só a razão e a ciência se podem opor à fé e à superstição, mas são poderosos os interesses, os constrangimentos sociais e os hábitos.

Não são os crédulos que ameaçam a paz e semeiam a cizânia entre os povos, são as religiões, e os que vivem à custa delas, que lutam por um mercado onde a dignidade se perde de joelhos e a honra fica de rastos. São os bandos de sotainas que fanatizam as crianças. São os costumes tribais e o clero que transformam as crianças em crentes e as diferenças em divergências.

O ano que ora nasce podia ser um ano de paz. Bastava que fizessem greve os parasitas que convocam para as orações, os dementes que se afirmam detentores do único Deus verdadeiro e os trogloditas que acirram os crentes para combaterem o livre-pensamento ou o pensamento de quem não pensa como eles.

Em 2008 os talibãs dos três monoteísmos, os defensores do livro único, das cópias com erros de tradução e fraudes históricas, vão continuar a fúria evangelizadora e os ataques aos estados laicos. São os Rottweilers de Deus, sedentos de sangue, na paranóia de que a guerra santa lhes reserva uma centelha de eternidade.

31 de Dezembro, 2007 Carlos Esperança

Espanha – ICAR e a democracia

 Ontem, na Praça de Colombo, em Madrid, centenas de milhares de pessoas reuniram-se para contestar o Governo, sob o lema «Pela família cristã». Bandos de padres e bispos dinamizaram a manifestação e vociferaram contra os casamentos homossexuais, contra o divórcio e contra a nova disciplina «educação para a cidadania».

 Havia bispos, cardeais e cerca de trinta organizações católicas, num desafio ao Governo a dois meses de eleições legislativas. O bispo de Valência chegou a culpar o Governo de pôr em perigo a democracia. O presidente da Conferencia Episcopal Espanhola, Ricardo Blázquez, afirmou que «A família está fundada sobre o matrimónio, que é a união de um homem e uma mulher para transmitir a vida». 

Celibatários, estes primatas de báculo, mitra e anelão não se limitam a defender os seus princípios para os católicos, querem obrigar os que os desprezam a submeter-se à sua moral e aos seus caprichos. São detritos do franquismo a adejar as sotainas pelas praças de Espanha numa cruzada raivosa contra a modernidade. 

O cardeal de Barcelona, Lluís Martínez Sistach, retido pela gripe humana, enviou uma mensagem a justificar a ausência na manifestação e para recordar que havia dedicado a sua última pastoral à defesa da vida, «perante o horror do cifra de 110.000 abortos em Espanha, em 2006, e das clínicas abortistas».

28 de Dezembro, 2007 Carlos Esperança

Extremistas hindus atacam cristãos

Extremistas hindus atacam cristãos e queimam igrejas na véspera de Natal.

Com a mesma clareza com que denuncio as interferências políticas e o proselitismo do Vaticano, a infiltração e influência dos protestantes evangélicos na Administração dos EUA, a exegese reaccionária do cristianismo ortodoxo ou o demente fascismo islâmico dos suicidas assassinos, também repudio com firmeza a intolerância hindu para com os cristãos.

Parece que o racionalismo e o iluminismo foram esquecidos, que à secularização que enfraqueceu o espírito prosélito e a justiça eclesiástica sucede, de novo, uma ânsia de impor um só Deus a todos os homens e eliminar os que o não aceitem. É a exaltação da fé pelos que não toleram a liberdade. É a exacerbação da violência em nome de Deus.

Estamos a assistir ao agravar dos radicalismos religiosos e, em vez de se pugnar por um laicismo profiláctico, beatos de todos os quadrantes defendem maior influência das suas religiões na esfera pública. É o regresso à Idade Média em que havia indulgências para quem convertesse os outros, a bem ou a mal.

É este erro fatal que leva à limpeza da fé e ao totalitarismo religioso de acordo com a geopolítica. O Islão, que já foi tolerante no fim do primeiro milénio da era actual, há muito que entrou na paranóia prosélita que dilacera o mundo.

Dos EUA os protestantes evangélicos aguardam a vinda do novo Messias e envolvem-se em cruzadas de sabor medieval. Do Vaticano saem instruções para evangelizar os outros e convertê-los à religião verdadeira – a do Papa.

Só faltavam os hindus a queimar igrejas e a perseguir cristãos. Em nome do pluralismo e da liberdade religiosa temos de exigir aos estados civilizados que a natureza religiosa dos crimes seja um factor de agravamento de pena.

A Humanidade precisa de paz e o pluralismo é condição indispensável. À semelhança do que acontece na política, onde a pluralidade partidária é uma exigência democrática, também as religiões se deverão submeter às normas que impeçam o totalitarismo que as devora.

28 de Dezembro, 2007 Ricardo Alves

Sam Harris lança o «Projecto Razão»

Sam Harris, depois do sucesso do seu primeiro livro e da publicação de um segundo, prepara-se para lançar uma fundação («The Reason Project») dedicada a «difundir o conhecimento científico e os valores laicos» na sociedade, com o propósito de contribuir para a «erosão (…) do dogmatismo, superstição e fanatismo». A fundação contará, no seu conselho consultivo, com figuras como Richard Dawkins, Daniel Dennett, Rebecca Goldstein, Ayaan Hirsi Ali, Steven Pinker, Ibn Warraq e Steven Weinberg, e promoverá conferências, produzirá filmes e fornecerá bolsas.

Em muitos casos, o ateísmo militante é uma porta de entrada para a militância laicista ou para a divulgação científica. Em Setembro, na conferência da Atheist Alliance (aqui referida pelo Ricardo Silvestre e pelo Helder Sanches), Sam Harris mostrara já ter compreendido que a religião não vai desaparecer, talvez nem no século 4º da era iluminista, e que os ateus, de facto, têm pouca apetência para «converter» crentes. Efectivamente, não existem, em todo o mundo, muitas organizações ateístas. Os ateus que decidem associar-se optam ou pela intervenção política laicista, ou pela difusão do pensamento crítico e céptico (nalguns casos, pelos dois caminhos), em ambas as situações misturados com outros que não são ateus ou não se definem nesses termos. Em Portugal, temos a Associação República e Laicidade e a Associação Cépticos de Portugal.

27 de Dezembro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

O circo de Policarpo

Na edição de 26/12/2007 do Correio da Manhã surgem as normais anormalidades natalícias, os desaforos e ódios vesgos a tudo e todos por parte dos fanáticos católicos, aproveitando a maré de capitalismos cristãos exacerbados, recorrente embora a tempos se identifiquem lufadas de ar fresco. Proselitismo de pré-primária da teologia do niilismo absoluto e chovem os ataques dementes ao que está mais à mão, ao ateísmo, ou mais provavelmente a todos os não-cristãos a tomar em conta determinadas afirmações.

Policarpo assume o discurso fanático e criminoso na página 7 do jornal, no qual se podem encontrar certos paralelos dentro dos discursos dos talibãs, dizendo que “o afastamento de deus ou o seu esquecimento é o maior drama da Humanidade”. Mais vergonhoso para uma Democracia é possivelmente impossível, o sectarismo assume a demência da mentalidade católica dos medievalistas inquisitórios e a plenitude do fascismo emanado pelo Vaticano.

Para este clérigo demente a Declaração dos Direitos Humanos será certamente um documento ao qual nutre o mais profundo dos ódios, declarando como o maior drama da Humanidade tudo o que hoje ergueu explicações para a realidade, para a liberdade de pensamento e expressão, para o desenvolvimento científico e tecnológico que fizeram com que parte do Mundo saísse da idade das trevas da Inquisição. A epidemia da SIDA, ajudada a propagar pela criminosa condenação do preservativo segundo as doutrinas católicas, os milhares de clérigos que abusaram sexualmente de crianças indefesas, as epidemias várias e guerras religiosas oriundas do fanatismo islâmico e cristão nada são comparadas com o drama da liberdade de pensamento e expressão.

Pior ainda, identifica que “todas as expressões de ateísmo tiraram todo o sentido ao natal”, certamente coloca o Hinduísmo, o Judaísmo, o Islamismo, o Budismo, o Jainismo e todas as outras religiões como expressões de ateísmo por não celebrarem a festa que ele apregoa, o que é uma barbaridade colossal, uma demência vácua de minimalismo de racionalidade, uma verborreia infame e vergonhosa que insulta e descrimina todos aqueles que não acreditam no deus que Policarpo apregoa e que não celebram o capitalismo cristão natalício.

As apoteoses de demência fanática católica começam a extravasar todos os limites do bom senso, e atentam aos mais básicos Direitos Humanos.

P.S.: Artigo enviado para o Correio do Leitor do Correio da Manhã, porque o que é demais é exagero.

Também publicado em LiVerdades