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Itália – Combate à laicidade

A Itália é o país onde os crentes se queixam de viver longe de Deus e perto do Vaticano, embora dependa da fé a distância do mito e da geografia a que separa o antro papal.

É um facto histórico que o bairro de 44 hectares mal frequentados, onde se concentram os mais bizarros e garridos vestidinhos por metro quadrado, a acompanhar as barrigas de eminentes eclesiásticos, foi criado pelos acordos de Latrão, sob os auspícios de Benito Mussolini a quem o Papa de serviço definiu como enviado da Providência.

Não se duvidaria da maldade da Providência se, acaso, fosse provável a sua existência. Já o Papa, os cardeais, arcebispos, bispos, monsenhores e padres são uma realidade que infesta o Vaticano e polui numerosos países. Foi essa gente que apoiou o fascismo, na sua quase totalidade, que conseguiu a troco de umas indulgências e bênçãos especiais tornar o ensino católico obrigatório e plantar cruzes em todos os edifícios públicos, especialmente nas escolas e tribunais.

Acontece agora que um juiz, na defesa do laicismo, se recusa a proceder a julgamentos com o sinal mais dependurado na parede, com ou sem o atleta espetado com ar de ter sido crucificado por um bando rival da Camorra.

E o que sucede ao juiz por este acto de civismo, pela atitude pedagógica, pela dignidade do seu comportamento? É louvado? Promovido?
– Não, é simplesmente perseguido.

Um tribunal italiano condenou quinta-feira esse juiz a um ano de prisão e outro de suspensão de carreira por ter suspendido três audiências devido à existência de um crucifixo na sala.

Um cirurgião não pode operar num bloco infectado, mas um juiz é obrigado a julgar numa sala onde se impõe o símbolo de uma religião particular que ainda beneficia do seu conluio com o fascismo. Está em causa a laicidade do Estado e a higiene pública.