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Categoria: Cristianismo

4 de Abril, 2010 Fernandes

Jesus esse ilustre desconhecido (1)

No Antigo Testamento aparecem uma série de personagens e acontecimentos que fazendo parte da mitologia se vão misturando gradualmente com a história. Actualmente só os fundamentalistas recusam admitir a não existência de Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Josué, David e Salomão, assim como a veracidade do êxodo, a conquista da terra prometida e por aí adiante; senão na sua totalidade pelo menos nos detalhes com que a Bíblia os descreve. Estas dúvidas foram inclusivamente admitidas em 2002 pelos tradicionalistas das Sinagogas Unidas do Judaísmo Conservador, que representam um milhão e meio de judeus nos estados unidos.

Mas, ao chegarmos ao Novo Testamento, até o simples facto de questionarmos a existência de Jesus e seus pretensos milagres ou a veracidade dos evangelhos, se converte numa ofensa para os cristãos e num insulto à religião. No entanto nem a arqueologia nem a história nem o Antigo Testamento contêm uma única referência ao personagem Jesus. Apenas o Novo Testamento.

As primeiras notícias sobre Jesus, são anteriores aos evangelhos, aparecem em meados do séc. I, nas cartas de Paulo, um personagem que nunca viu Cristo. Nos documentos históricos contemporâneos ou posteriores à época de Jesus, “nunca” se fala  d`Ele, e apenas quatro historiadores o referem:

Flávio Josefo: “Naquele tempo viveu Jesus, um homem sábio, pode chamar-se homem, porque realizou obras extraordinárias…” após análise criteriosa dos seus restantes escritos, conclui-se facilmente, ser uma falsificação grosseira, uma tentativa de “colar” o nome do historiador à prova existencial do suposto Jesus, e nem Orígenes que viveu no séc. III o refere, queixando-se que Flávio Josefo “não aceitava Jesus como Cristo”, enquanto Clemente de Alexandria questionava que “não dizia nada sobre as coisas maravilhosas que o Senhor havia feito”. Plínio o Jovem faz referência numa carta a Trajano em que fala vagamente, que os cristãos, “afirmavam que as culpas ou erros se redimiam no facto de encontrar o dia esperado antes da alba para cantar um hino a Cristo como se fora um deus…”.

Seutónio (referindo-se a alguém que no ano 45, estava em Roma): “ uma vez que os judeus fomentavam contínuos distúrbios instigados por Crestos, [Claudio] expulsou-os de Roma”. Crestos é a tradução do original latino Chrestus; nome derivado do grego Chrestos, que quer dizer – Bom, Valente -. Mais do que um erro de transcrição de Christus, este era um nome comum na altura. Tácito cita algumas vezes os cristãos nos seus “Annales”, dizendo que estavam em Roma no tempo de Nero, entre 54 e 65, escrevendo que “Cristo foi condenado à morte por Pôncio Pilatos, durante o reinado de Tibério”.

Estas são as passagens “não cristãs”, da antiguidade, que de alguma maneira referem Jesus . Demasiado vagas para se poderem considerar uma prova convincente da sua existência. O que não significa que não tenha existido. Houve inúmeros personagens reais, que não deixaram rasto na história oficial. Mas isso não significa que para provar a existência de Jesus só possamos confiar nas fontes do Novo Testamento, porque então o Mahabharata ou a Ilíada provariam a existência de divindades que nenhum cristão estaria disposto a aceitar como reais.

Além disso, as eventuais coincidências nos evangelhos com factos objectivos, não constituem prova alguma da veracidade dos seus personagens. A descrição dos factos na Ilíada é tão “real” que, baseando-se nela, Heinrich Schlieman conseguiu localizar em 1873 as ruínas de Troia; mas isso não nos autoriza a confirmar a veracidade do relato da batalha ou a existência dos heróis e deuses homéricos.

29 de Março, 2010 Carlos Esperança

Cristo era gay?

Pedofilia pia

Deus criou pessoas e para elas não definiu orientação sexual. Portanto, todas devem poder casar-se, se assim o desejarem, diz a teóloga feminista Myra Poole que, porém, vai mais longe: “Acredito que Cristo era gay.”

4 de Janeiro, 2010 Ricardo Alves

«Deus» é uma questão estética?

O Alfredo Dinis, como anunciara, resolveu dedicar-se aos «Grandes equívocos do ateísmo contemporâneo». O que é de saudar.

Comete um equívoco de base quando caracteriza a posição ateísta de uma forma em que muitos de nós não se revêem:

  • «Se uma afirmação é digna de crédito, então ela pode ser formulada como uma hipótese empiricamente testável pela metodologia científica. A existência de Deus não é formulável como uma hipótese empiricamente testável pela metodologia científica. Logo, a afirmação da existência de Deus não é digna de crédito».

O ateu que há em mim não se revê em nenhuma das duas premissas, embora concorde com a conclusão.

Mas a segunda premissa é a que me interessa mais refutar (embora seja totalmente ignorada no texto que refiro).

Anti-premissa#2: a existência de deuses é formulável como uma hipótese empiricamente testável pela metodologia científica. É necessário é saber de que deuses estamos a falar. Porque os cristãos (e outros) supostamente acreditam num «Deus» interventor no nosso mundo, e portanto passível de ser observado pela ciência, como «um campo gravitacional ou uma galáxia». Exemplos: um «Deus» que opera uma ressurreição; um «Deus» que faz parar a Terra; um «Deus» que criou o universo; um «Deus» que criou a espécie humana (tendo ou não criado o universo). Se em cada um destes exemplos «Deus» é uma entidade auto-consciente e interventora no universo em que existimos, as acções referidas são comprovadamente falsas porque impossíveis. Refutar as acções não é refutar a entidade em si, claro: pode existir sem actuar. Mas, nesse caso, não teria relação com o «Deus» dos mitos judeo-cristãos.

O que nos leva à primeira premissa.

Anti-premissa#1: há afirmações dignas de crédito que não podem, por enquanto ou talvez não, ser formuladas como hipóteses empiricamente testáveis. Aqui, é necessário saber muito bem de que afirmações estamos a falar. O Alfredo passa boa parte do seu texto a argumentar que há experiências fora do âmbito da ciência. Por exemplo, experiências estéticas (a arte…) ou afectivas (o amor filial) e… o «testemunho» dos primeiros cristãos. Devo confessar que não estou convencido de que a ciência não possa, um dia, explicar porque preferimos certos padrões estéticos ou cromáticos a outros, ou porque nos sentimos mais atraídos por umas pessoas e não por outras. A ciência já explicou muita coisa que parecia incompreensível ou fora do seu âmbito. Até explica como é possível que algumas pessoas delirem e vejam pessoas que não existem, ou «testemunhem» fenómenos impossíveis.

E sim, é verdade que nos conduzimos, em grande parte das nossas decisões diárias, por decisões emocionais que nada têm de científico. Tomar uma limonada em vez de uma sumo de laranja. Ou ler isto e não aquilo. Mas também é verdade que tentamos tomar decisões baseados em expectativas realistas, e não em impossibilidades. E, se em muitos aspectos da nossa vida confiamos nas informações e conselhos de outros, geralmente perdemos a confiança nesses outros quando descobrimos que fomos enganados, deliberadamente ou não.

Concluindo com o «testemunho» dos cristãos: um facto cientificamente refutável, se for transmitido por pessoas bem intencionadas durante milénios, não se torna mais credível (mas retira credibilidade a quem o repete). E mesmo que todos os cristãos da História tivessem sido pessoas bondosas (e não foram, embora isso agora não venha ao caso), a «ressurreição» não se torna mais possível.

31 de Dezembro, 2009 Ricardo Alves

Ricardo Araújo Pereira sobre a mensagem de Policarpo

O ateu Ricardo Araújo Pereira escreveu na Visão sobre a mensagem de José Policarpo. A não perder.

  • «O Natal é tempo de paz, tempo de amor, tempo de lamentar a existência de pessoas como eu. Não admira que seja uma época que toda a gente aprecia. No dia que assinala o nascimento do salvador, o cardeal-patriarca não resistiu a lembrar que há quem não tenha salvação possível. (…) O ateísmo tem sido, para mim e para tantos outros incréus, a luz que me tem conduzido na vida. Às vezes fraquejo, em momentos de obscuridade e de dúvida, mas, mesmo sendo incapaz de provar a inexistência de Deus, tenho conseguido manter a fé – uma fé íntima fundada numa peregrinação que tem a grandeza e a humildade da longa caminhada da vida – em que Ele não exista. Todos os dias busco a não-existência do Senhor com renovada crença, ciente de que a Sua inexistência é misteriosa demais para que eu a tenha inventado. (…) Acreditar que Deus existe é uma convicção profunda, mas acreditar que não existe, curiosamente, não o é. Alguém, munido de um aparelho próprio, mediu a profundidade das convicções e deliberou que as do crente são mais fundas que as do ateu. Quando alguém diz acreditar em Deus, está a exprimir legitimamente a sua fé; quando um ateu ousa afirmar que não acredita, está a agredir as convicções dos crentes. Ser crente é merecedor de respeito, ser ateu é um crime contra a humanidade. (…)»
15 de Dezembro, 2009 Ricardo Alves

Farinha do mesmo saco

Há um bispo anglicano que acha que os talibã «podem ser admirados pela sua convicção na sua fé e pela sua lealdade uns para com os outros». O bispo já pediu desculpa, mas fica a nota: os homens de fé acham a fé admirável. E quanta mais melhor. E mais, e mais. E até se for fanática. Ou, de repente, assassina. Não, quando chega a esse ponto é melhor pedir desculpa. Fui claro demais? A fé nunca é demais.