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Jesus esse ilustre desconhecido (1)

No Antigo Testamento aparecem uma série de personagens e acontecimentos que fazendo parte da mitologia se vão misturando gradualmente com a história. Actualmente só os fundamentalistas recusam admitir a não existência de Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Josué, David e Salomão, assim como a veracidade do êxodo, a conquista da terra prometida e por aí adiante; senão na sua totalidade pelo menos nos detalhes com que a Bíblia os descreve. Estas dúvidas foram inclusivamente admitidas em 2002 pelos tradicionalistas das Sinagogas Unidas do Judaísmo Conservador, que representam um milhão e meio de judeus nos estados unidos.

Mas, ao chegarmos ao Novo Testamento, até o simples facto de questionarmos a existência de Jesus e seus pretensos milagres ou a veracidade dos evangelhos, se converte numa ofensa para os cristãos e num insulto à religião. No entanto nem a arqueologia nem a história nem o Antigo Testamento contêm uma única referência ao personagem Jesus. Apenas o Novo Testamento.

As primeiras notícias sobre Jesus, são anteriores aos evangelhos, aparecem em meados do séc. I, nas cartas de Paulo, um personagem que nunca viu Cristo. Nos documentos históricos contemporâneos ou posteriores à época de Jesus, “nunca” se fala  d`Ele, e apenas quatro historiadores o referem:

Flávio Josefo: “Naquele tempo viveu Jesus, um homem sábio, pode chamar-se homem, porque realizou obras extraordinárias…” após análise criteriosa dos seus restantes escritos, conclui-se facilmente, ser uma falsificação grosseira, uma tentativa de “colar” o nome do historiador à prova existencial do suposto Jesus, e nem Orígenes que viveu no séc. III o refere, queixando-se que Flávio Josefo “não aceitava Jesus como Cristo”, enquanto Clemente de Alexandria questionava que “não dizia nada sobre as coisas maravilhosas que o Senhor havia feito”. Plínio o Jovem faz referência numa carta a Trajano em que fala vagamente, que os cristãos, “afirmavam que as culpas ou erros se redimiam no facto de encontrar o dia esperado antes da alba para cantar um hino a Cristo como se fora um deus…”.

Seutónio (referindo-se a alguém que no ano 45, estava em Roma): “ uma vez que os judeus fomentavam contínuos distúrbios instigados por Crestos, [Claudio] expulsou-os de Roma”. Crestos é a tradução do original latino Chrestus; nome derivado do grego Chrestos, que quer dizer – Bom, Valente -. Mais do que um erro de transcrição de Christus, este era um nome comum na altura. Tácito cita algumas vezes os cristãos nos seus “Annales”, dizendo que estavam em Roma no tempo de Nero, entre 54 e 65, escrevendo que “Cristo foi condenado à morte por Pôncio Pilatos, durante o reinado de Tibério”.

Estas são as passagens “não cristãs”, da antiguidade, que de alguma maneira referem Jesus . Demasiado vagas para se poderem considerar uma prova convincente da sua existência. O que não significa que não tenha existido. Houve inúmeros personagens reais, que não deixaram rasto na história oficial. Mas isso não significa que para provar a existência de Jesus só possamos confiar nas fontes do Novo Testamento, porque então o Mahabharata ou a Ilíada provariam a existência de divindades que nenhum cristão estaria disposto a aceitar como reais.

Além disso, as eventuais coincidências nos evangelhos com factos objectivos, não constituem prova alguma da veracidade dos seus personagens. A descrição dos factos na Ilíada é tão “real” que, baseando-se nela, Heinrich Schlieman conseguiu localizar em 1873 as ruínas de Troia; mas isso não nos autoriza a confirmar a veracidade do relato da batalha ou a existência dos heróis e deuses homéricos.