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Autor: pfontela

4 de Setembro, 2004 pfontela

O Islão «soft»

Todos nós pensávamos que o Irão era uma teocracia conservadora, opressiva que está fechada ao mundo, mas estávamos errados. De facto, de acordo com um grupo islâmico extremista, o governo de Teerão é brando, está em vias de ser colonizado pelos EUA, Grã Bretanha e Israel e, como se isto não fosse suficiente, ainda incentiva à prostituição e ao desvio da única moral correcta, a do Alcorão. E tudo isto porque (horror dos horrores) algumas raparigas usam lenços coloridos. E muitas chegam mesmo à devassidão de usar jóias.

Estes são os mesmos senhores que, quando houve manifestações estudantis, foram vistos a agredir pessoas, mas, como é para defender os «bons costumes», não há problema. Esta é mais uma situação que quase grita a necessidade urgente de uma secularização nos paises islâmicos para que finalmente possam existir liberdade e progresso, para que saiam da idade das trevas em que se encontram mergulhados.

28 de Agosto, 2004 pfontela

O barco do pudor

Sabe-se hoje que o barco da organização «Women on Waves» não vai poder entrar em águas portuguesas. As desculpas são múltiplas, desde questões de saúde ao respeito pela ordem. Todos estamos cansados de saber que o que se passa: este governo, já conhecido pelas suas manobras dúbias (alguém se lembra de uns panfletos de Fátima? E da «declaração de voto» sobre o art.º 13?), está em pânico para impor as suas crenças religiosas a todas as mulheres. O tempo da ditadura acabou e estes senhores ainda não se aperceberam disso. Além dos impulsos descontrolados de puritanismo que ficam sempre bem a qualquer católico fanático (pelo menos aqueles que sabem aquilo que a sua fé defende) existe ainda a questão de isto ser uma violação dos tratados que temos vindo a assinar com União Europeia. Mas parece que este governo só sabe qual é a sua fé e não qual a sua posição quanto à UE.

Toda esta situação é um espectáculo deplorável que deveria encher de vergonha qualquer país dito laico e civilizado.

16 de Agosto, 2004 pfontela

Erros, abusos e má fé

Ontem o decrépito líder católico dirigiu-se aos peregrinos em Lourdes, proferindo um discurso de «apoio à vida» onde condenou a eutanásia e o aborto. Não há nada de surpreendente nestes factos, já desde há muito que não esperamos ouvir nada de razoável dos representantes dessa corte medieval que é o Vaticano. O facto de um embrião com dias ou poucas semanas não ser vida humana por nenhum padrão aceitável cientificamente não impende a ICAR de continuar a insistir na sua versão errónea. Mas há uma história algo divertida por detrás de toda esta posição. Tudo começa com Tomás de Aquino, que defendia que o embrião não tem alma até várias semanas depois do inicio da gravidez, aceitando assim o princípio de Aristóteles que dizia que a alma é a «forma substancial» do ser humano. De forma simples este princípio implica que não existe alma até se ter um corpo distintamente humano. Ora, Tomás de Aquino sabia que um embrião não tem uma forma humana desde o momento da concepção e assim chegou à sua conclusão de que até ao fim de algumas semanas não havia alma. A ICAR aceitou este ponto de vista oficialmente em 1312 no Concílio de Viena. Durante o Séc. XVII ao observar óvulos fertilizados em microscópios primitivos vários cientistas pensaram ter observado pequenas pessoas completamente formadas (chamaram-lhes homúnculos). A ICAR, seguindo o seu ponto de vista, afirmou que visto terem forma humana desde a concepção, tinham que ser tratados como seres humanos e seguiu-se a condenação total do aborto. Ora hoje sabemos que tais homúnculos não existem, tratou-se apenas de um erro de observação. Mas enquanto a ciência progrediu a posição da Igreja manteve-se inalterada, mesmo sendo sustentada por um erro com quase 400 anos. É de notar que a posição do concílio de Viena nunca foi revogada.

Depois temos a posição sobre a eutanásia que além de atentar contra a mais básica liberdade do indivíduo (a de dispor da sua vida como entender) é francamente desumana. Para quando políticos com coragem para enfrentar estes MIB (Men In Black – também conhecidos por padres) e repor a dignidade e liberdade humanas?

Ao longo de uma cerimónia que durou 3 horas (zzzz…) houve ainda tempo de exortar as mulheres católicas contra o materialismo e a secularização… não vá um dia acontecer que essas duas coisas possam de facto torná-las iguais.

5 de Julho, 2004 pfontela

A fé renovada

Ouço todos os dias católicos a falarem à “boca cheia” da força do catolicismo renovado e da força crescente da fé. Se acreditasse em tudo o que dizem pensaria que a ICAR está no meio de algum longo e profundo processo de renovação, mas como céptico que sou não acredito em tudo o que me dizem sem confirmação, especialmente quando a informação que tenho aponta noutro sentido.

Ora uma renovação implica mudança, progresso. Mas eu olho e procuro e não vejo nada de diferente:

– O sexismo continua tão presente como sempre, sendo a sua manifestação mais visível a forma como tentam condicionar o lugar da mulher na sociedade e na família.

– O medievalismo é omnipresente no pensamento do vaticano (ser representante directo de deus e por consequência infalível tem destas coisas…).

– A sede de poder continua lá sendo a sua última manifestação a brilhante jogada de distracção da referência Cristã na Constituição Europeia que resultou na aprovação de dois artigos bem mais importantes mas menos mediáticos.

– O sentimento de imunidade às leis também ainda cá está (como pode ser visto pelos padres pedófilos abrigados pelo Vaticano), está visto os representantes de deus não querem ser julgados por meros mortais.

– A homofobia que permeia cada poro das atitudes da ICAR e que cada vez vai ser mais visível devido ao novo papel do Vaticano nas Nações Unidas (Já por mais que uma vez tentaram bloquearam os direitos das minorias sexuais, sendo que os seus principais apoiantes foram as nações Islâmicas).

– A vontade de por trelas aos cientistas e à ciência, ditando que áreas podem ou não podem ser investigadas.

– A sua oposição sistemática a tudo o que possa remotamente ser chamado de liberal, seja em termos sociais, políticos, pessoais…

Devo dizer que não vejo diferença alguma. Será que se referem ao facto de não haver autos de fé? Será que se referem à “morna” separação da Igreja do estado português? As poucas mudanças que a ICAR sofreu (ou aparenta ter sofrido) foram impostas de fora para dentro e não o contrário, ou seja, a igreja foi forçada a dobrar os joelhos à democracia e à liberdade e não as aceitou de bom grado.

Se isto é o catolicismo renovado devo dizer que é terrivelmente parecido com o antigo.

18 de Maio, 2004 pfontela

As raízes do problema americano…

Agora que se fala muito nos abusos de Bush e da ligação abusiva que esta administração tem com a religião (a deles entenda-se…), achei que era boa ideia chamar a tenção para um dos grandes culpados da descriminação do ateísmo (e não só…) na América. O senador McCarthy.

“Today we are engaged in a final, all-out battle between communistic atheism and Christianity.”

— Sen. Joseph McCarthy -1950

Tradução: “Estamos hoje a travar a batalha final entre o ateísmo comunista e a cristandade”

Esta frase mostra a pesada carga negativa que foi associada ao ateísmo nos EUA (e não só…), foram muitos anos de propaganda,repressão e caça às bruxas, e tudo isto deixou marcas profundas na psique americana que podem demorar décadas a curar.

Será Bush a versão menos (ou será mais??) polida de McCarthy? É claro que Bush arranjou um inimigo diferente… Será que, como McCarthy, Bush também abusa do álcool e das drogas? Ou serão as suas medidas apenas resultado de calculismo politico misturado q.b. com interesses económicos e zelo fanático cristão?