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Autor: Mariana de Oliveira

2 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Reitor dos santuários de Lourdes investigado

A Justiça francesa está a investigar a origem de 427 mil euros na conta corrente pessoal do reitor do santuário de Lourdes, o padre Raymond Zambelli, que nega qualquer ilegalidade.

O dinheiro tinha sido detectado em Maio por funcionários da «Tracfin», um organismo dependente do Ministério das Finanças francês cuja missão é seguir os movimentos monetários suspeitos e possíveis operações de bloqueio de fundos.

Segundo o jornal satírico «Le Canard Enchaîné», o caso ameaça estragar a festa da visita do Papa a Lourdes, a 13 de Setembro, pelo que a Justiça decidiu adiar o interrogatório e a detenção do padre para depois da viagem de Bento XVI.

O reitor dos santuários, cujo salário oficial anual ronda os 8.700 euros, incluiu, no ano passado, na sua conta 16.500 euros em dinheiro, em seis ocasiões, e 26 cheques de particulares, no valor de 14.328 euros, adianta o mesmo jornal.

Raymond Zambelli alega que o dinheiro provém da venda, em 1996, de uma casa doada por uma paroquiana e dos investimentos que efectuou. A 13 de Setembro cumprem-se, em Lourdes, os 150 anos das aparições da Virgem Maria.

Fonte: Sol, 02 de Julho de 2008.

2 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Papa apoia indígenas

O papa Bento XVI garantiu hoje a dois líderes indígenas brasileiros que «tudo fará» para ajudar e proteger as suas terras na reserva da Raposa Serra do Sol.

Na véspera de se deslocarem a Portugal para divulgar a campanha de defesa do direito da terra «Anna Pata, Anna Yan» (Nossa Terra, Nossa Mãe) e denunciar as violações e crimes de que dizem ser alvo na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, Norte do Brasil, os dois delegados entregaram uma carta ao Pontífice apelando à sua intervenção no conflito.

«Faremos tudo o possível para vos ajudar a protegerem as vossas terras», afirmou Bento XVI, durante o encontro que foi mantido em sigilo a pedido do Vaticano.

A reserva indígena da Raposa Serra do Sol tem sido alvo de disputa entre tribos indígenas e seis grandes fazendeiros, que ocupam cerca de seis mil hectares do território e se recusam a sair, considerando que os índios «apenas atrapalham o progresso».

Jacir José de Souza, de 61 anos, da tribo Makuxi, e Pierlangela Cunha, de 32, da tribo Wapixana, coordenadora das escolas da reserva Raposa Serra do Sol, foram nomeados pelo Conselho Indígena de Roraima como representantes dos seus povos, e desde 16 de Junho viajam pela Europa para sensibilizar os governos e organizações para a sua causa.

Foram recebidos terça-feira pelo secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz, D. Giampaolo Crepadi, que reconheceu o valor da luta e exemplo dos indígenas da região.

«A Santa Sé vem a comprometer-se na defesa dos direitos dos povos indígenas, principalmente no que diz respeito à promoção humana, o reconhecimento de sua identidade cultural e a defesa do direito de propriedade intelectual», afirmou o responsável.

Na segunda semana de Agosto, o Supremo Tribunal Federal brasileiro (STF) deve decidir se é constitucional ou não a homologação das terras em área contínua, feita pelo presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, em 2005.

Os delegados indígenas exigem que o STF ratifique o decreto de homologação e que faça cumprir a retirada dos agricultores, que «além da violência e intimidação» desenvolvem actividades com um «impacto ambiental altamente prejudicial na zona e nos recursos naturais dos índios», segundo disse à o padre Elísio Assunção, director da Fátima Missionária, que coordena a visita a Portugal.

Fonte: Sol, 02 de Julho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Milagre atinge funcionária de Junta de Freguesia

A funcionária administrativa da Junta de Freguesia de Vitorino de Piães, em Ponte de Lima, que reclama reforma antecipada por alegada doença degenerativa «melhorou a olhos vistos», dizendo que foi «um milagre», afirmou o autarca local.

Luís Lima, presidente da Junta de Vitorino de Piães, disse que a evolução do estado de saúde da funcionária, Ana Maria Brandão, de 44 anos, deixou a população da freguesia «estupefacta».

«O que me dizem é que ela alega que foi um milagre, conseguido numa igreja de Braga. Se foi milagre ou não, não sei. O que sei é que ela está irreconhecível, para melhor. Quando foi vista na igreja, no Dia do Corpo de Deus, a pegar numa criança ao colo, com toda a naturalidade, foi como se tivesse rebentado um barril de pólvora na freguesia», afirmou.

«Quem a viu em Novembro, acabrunhada, atada da cabeça aos pés, dizendo que não se podia mexer, fica completamente de boca aberta quando a vê hoje, muito mais magra, a andar normalmente, a conduzir, a pegar em crianças ao colo. É uma mudança tão grande tão grande, que até custa a acreditar», acrescentou.

Em meados de Junho, o pai de Ana Maria garantiu que ela iria regressar ao trabalho, o que acabou por não acontecer.

«Já não usa o colar cervical, nem a braçadeira no braço direito nem a cinta lombar. Já consegue andar mais ou menos, já conduz, já escreve, já está bem melhor», acrescentou o pai, confessando não encontrar explicação para esta melhoria do estado de saúde da filha.

Esta evolução do estado de saúde da funcionária pública choca, de alguma forma, com a declaração emitida a 22 de Janeiro de 2007 pelo neurocirurgião Joaquim Couto Reis, que considera que a doença de Ana Maria é «crónica» e a «incapacita» para o exercício da sua actividade profissional.

Nessa declaração, o especialista acrescenta que Ana Maria «é seguida em neurocirurgia por cervicalgias e lombalgias incapacitantes» e que o seu caso clínico está documentado por ressonâncias magnéticas que demonstraram «alterações degenerativas».

«Foram realizados vários tratamentos fisiátricos e com analgésicos que não obtiveram sucesso. É uma situação crónica, sem melhoria, que incapacita a doente para a sua actividade profissional, pelo que sou do parecer que [a doente] não tem capacidade física para continuar a exercer a sua actividade profissional», lê-se na referida declaração.

Em contrapartida, as sucessivas juntas médicas a que Ana Maria se submeteu sempre recusaram conceder-lhe reforma antecipada, considerando que ela não se encontra «absoluta e permanentemente incapaz» para o trabalho.

«Afinal, em que ficamos? Pode trabalhar ou não pode trabalhar? Foi milagre ou não foi milagre? É preciso tirar tudo isto a limpo e apurar responsabilidades, porque há aqui muita coisa que não bate certo. E a freguesia, se calhar, está a ser a maior prejudicada com toda esta situação», referiu Luís Lima.

A Junta já instaurou um processo disciplinar à funcionária, por alegado incumprimento da legislação laboral, que poderá conduzir ao seu despedimento.

Fonte: Sol, 30 de Junho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Receita para a felicidade segundo Alberto João

O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, defendeu, em Caracas, que a religião e a riqueza são elementos que dão felicidade e justiça social aos portugueses, em particular os madeirenses.

«Não se pode ter pessoas felizes sem a riqueza crescer, não se pode ter justiça social sem ter riqueza para distribuir e não se pode dar poder de compra às pessoas se elas não estiverem empregadas e se não houver investimentos que criem esses empregos», disse.

«Não há dúvida que a religião traz valores ao dia a dia de cada homem e de cada mulher, que lhe permitem trabalhar melhor, com mais esperança, objectivos claros, honestos que acabam por ser convergentes com a actividade económica com toda a moral e a fé no sentido de uma sociedade melhor», disse Alberto João Jardim.

«A comunidade portuguesa em particular os madeirenses estão certamente nessa convergência», enfatizou.

Fonte: Sol, 30 de junho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Fátima vista por Fernando Pessoa

O historiador José Barreto vai revelar quarta-feira, em Lisboa, um texto inédito de Fernando Pessoa a propósito de Fátima, assunto sobre o qual o poeta fez várias referências desde 1920 até à sua morte.

«Trata-se de um texto inédito de cinco páginas manuscritas em que Pessoa reflecte sobre o fenómeno de Fátima», disse José Barreto.

«Pessoa e Fátima. A prosa política e religiosa», será o título da palestra que o historiador apresentará na Casa Fernando Pessoa, quarta-feira às 18h30, no âmbito de um ciclo dedicado ao 120.º aniversário do seu nascimento.

No ano da sua morte, em 1935, Fernando Pessoa «tinha três projectos editoriais ligados a Fátima», afirmou o investigador.

Segundo José Barreto, o poeta «não tinha uma referência especialíssima com Fátima e era, aliás, anti-católico, mas acompanhou o fenómeno desde a sua génese à oficialização do culto e à construção da igreja».

Apesar de anti-católico, «em prol da liberdade, Pessoa defendeu a Igreja Católica contra o radicalismo republicano, em especial do Partido Democrático», explicou o investigador do Instituto de Ciências Sociais.

Esta não é a primeira vez que José Barreto aborda a figura de Fernando Pessoa, sobre a qual tem estado a investigar.

Já publicou na imprensa um artigo sobre esta temática religiosa, mas é a primeira vez que traz a lume o texto inédito intitulado Fátima.

A sua área de investigação tem sido, desde a década de 1990, a história social e política do século XX em Portugal, com destaque para a política católica, as relações Estado-Igreja e Fátima, bem como a história do pensamento político e dos intelectuais portugueses.

Fonte: Sol, 01 de Junho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Vaticano ecológico

O Papa recebeu o primeiro de dois mil painéis solares que serão montados nos telhados da cidade do Vaticano, uma oferta do presidente do Estado alemão da Saxónia.

A oferta do primeiro painel ocorreu na segunda-feira, quando o presidente do Estado da Saxónia, Stanislaw Tillich, foi recebido por Bento XVI em audiência privada.

A instalação dos painéis solares, a cargo de uma empresa alemã e que fornecem à Santa Sé uma quantidade considerável da energia gasta, foi recentemente classificada pelo Vaticano como um sinal do seu «compromisso ecológico».

A Santa Sé conseguiu, aliás, alcançar a meta de «emissões zero» de carbono, ao ter criado, no ano passado, uma área florestal na Hungria.

Fonte: Sol, 01 de Julho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Cavaco conversa com o Papa

As relações entre Portugal e a Santa Sé, a União Europeia (UE) e o Tratado de Lisboa, África e Timor-Leste foram os assuntos abordados entre o Papa Bento XVI e Cavaco Silva, recebido numa audiência no Vaticano.

«Foi uma conversa útil» , concluiu o Presidente da República em declarações aos jornalistas no final da audiência, na embaixada de Portugal, em Roma.

«Para mim, como católico e chefe de Estado de uma nação que tem uma forte tradição católica, é sempre um acto de alguma emoção, mas eu trazia uma agenda bem definida para as conversas como o Santo Padre e com o secretário de Estado, o cardeal Bertoni» , confessou.

Para Cavaco Silva – que enquanto primeiro ministro esteve no Vaticano em 1987 para uma audiência como Papa João Paulo II – o actual Papa, Bento XVI é «com certeza, sem dúvida nenhuma um papa diferente do antecessor», mas foi uma «conversa útil».

«Penso que foi um encontro importante. As conversas incidiram basicamente sobre as relações entre Portugal e a Santa Sé, sobre a União Europeia e o Tratado de Lisboa, sobre África e sobre Timor-Leste» , explicou.

No que diz respeito às relações entre a Santa Sé e Portugal, Cavaco Silva e Bento XVI falaram sobre a Concordata.

«Há uma comissão paritária que est á neste momento a trabalhar com resultados positivos e Portugal irá respeitar totalmente a letra e o espírito da Concordata» , disse o chefe de Estado, referindo que os trabalhos da comissão paritária estão «ultrapassados e estão a trabalhar bem».

«Há já propostas no que diz respeito à acção da Igreja nas prisões, nos estabelecimentos militares e nos hospitais. Isso foi muito bem acolhido pela Santa Sé» , disse ainda aos jornalistas a propósito do processo de regulamentação da Concordata.

Durante a conversa de cerca de 20 minutos que o chefe de Estado português teve com o Papa, na sua biblioteca privada, Cavaco Silva teve ainda ocasião de mencionar o contributo de Portugal ao longo da sua história para que cinco países em África, Brasil e Timor Leste sejam hoje países de influência forte por parte da Igreja.

Sobre a UE, o Presidente da República comentou ao Papa que a Europa leva um momento «difícil» em resultado do referendo na Irlanda.

«Sabemos a influência da Igreja Católica na Irlanda, que apoiou o referendo, no sentido do voto pelo sim, mas talvez tenha sido um pouco tarde» , disse.

«Tive ocasião de sublinhar que é importante para o mundo e para os valores que a Igreja e a Europa partilham, uma Europa unida, uma Europa forte, esperemos que num futuro referendo, a igreja irlandesa possa esclarecer algumas ansiedades que foram exploradas pelos partidários do não na Irlanda» , acrescentou.

Sobre África, que tem sido um dos temas preferidos de Bento XVI, Cavaco Silva lembrou que Portugal tem uma relação «muito especial» com o continente, nomeadamente por ter feito parte da agenda das últimas presidências do Conselho Europeu.

«Como é óbvio falámos sobre os países de língua oficial portuguesa que são exemplos positivos em comparação com a situação trágica que se vive no Zimbabué e que a comunidade internacional não pode ignorar» , disse.

Para Cavaco Silva, «não pode dar legitimidade à limitação de acto eleitoral que ocorreu neste país», especialmente numa altura em que vão ocorrer eleições em Angola em Setembro.

«Moçambique tem sido um bom exemplo do funcionamento das instituições democráticas, tal como Cabo Verde» , frisou.

A situação de Timor Leste foi o último assunto abordado por Cavaco Silva, que sensibilizou o Papa Bento XVI para o facto de a Igreja católica constituir «uma referência decisiva» na identidade cultural do país.

«As instituições são ainda frágeis em Timor e a voz dos bispos é talvez uma voz mais forte do que a voz dos líderes dos partidos políticos» , frisou.

No final do encontro, em que Cavaco Silva diz ter ficado satisfeito ao verificar «que o Santo Padre estava bem informado sobre as questões de política internacional abordadas durante as conversações»,o chefe de Estado português aproveitou a ocasião para dizer a Bento XVI que «seria uma grande honra» acolher o Papa em Portugal.

A visita dependerá, no entanto, de uma actuação por parte da Conferência Episcopal, mas Cavaco Silva teve ainda tempo para lembrar das passagens de João Paulo II por Portugal e Angola.

Para Cavaco Silva, Bento XVI falou de uma forma «muito positiva» relativamente a Portugal, enquanto país com uma história ligada à difusão da fé pelo mundo.

A visita de hoje de Aníbal e Maria Cavaco Silva ao Vaticano – a que a Lusa teve acesso com algumas restrições de protocolo – ocorreu pelas 11h00 locais (10h00 em Lisboa) no segundo andar da biblioteca da Santa Sé.

Bento XVI recebeu Cavaco Silva na Sala do Trono Pequeno (ante-câmara da biblioteca e decorada com gravuras de Rafael de S. Pedro e S. Paulo) com um «Welcome Mr. President» e um grande sorriso, convidando o chefe de Estado português a entrar na sua biblioteca privada para uma conversa a sós.

Após esta audiência, que teve a duração aproximada de 20 minutos, os jornalistas presentes puderam entrar na sala e presenciar os cumprimentos de Maria Cavaco Silva e da restante delegação portuguesa que acompanhou o presidente nesta cerimónia.

Seguiu-se uma rápida troca de presentes entre Cavaco Silva e Bento XVI.

O chefe de Estado português ofereceu uma reprodução da Bula papal que reconheceu a independência de Portugal, assinada pelo Papa João Paulo III, em 1179.

O documento provém da Torre do Tombo e foi encadernado de acordo com o formato original pela Fundação Ricardo Espírito Santo.

Durante a entrega do presente português Aníbal e Maria Cavaco Silva explicaram ao Papa que aquela Bula – que reconheceu D. Afonso Henriques e a independência de Portugal – se trata “do documento mais importante” para a Nação.

Fonte: Sol, 28 de Junho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Vinte minutos com Bento XVI

«Welcome Mr. President» , foram as palavras usadas por Bento XVI, para dar hoje as boas vindas a Cavaco Silva, que 21 anos depois regressou ao Vaticano para um audiência privada com um papa.

O encontro a dois, na biblioteca privada do papa, começou poucos minutos depois das 11h00 locais (10h00 de Lisboa), durou cerca de 20 minutos e foi seguida de uma pequena cerimónia de cumprimentos à primeira-dama, Maria Cavaco Silva, e à restante comitiva portuguesa que acompanha o Presidente da República.

Seguiu-se uma troca de presentes entre Cavaco Silva e Bento XVI.

O chefe de Estado português ofereceu uma reprodução da Bula papal que reconheceu a independência de Portugal, passada pelo papa Alexandre III, em 1179.

Este documento provém da Torres do Tombo e foi encadernado pela Fundação Ricardo Espírito Santo.

Bento XVI ofereceu uma medalha comemorativa do pontificado, em ouro, que habitualmente oferece aos chefes de Estado que o visitam, e a Maria Cavaco Silva um rosário em madrepérola.

Fonte: Sol, 28 de Junho de 2008.

24 de Junho, 2008 Mariana de Oliveira

Sócrates e a liberdade religiosa

O primeiro-ministro, José Sócrates, considerou hoje que a liberdade religiosa não é «um assunto resolvido», defendendo o empenhamento permanente da comunidade política na sua defesa.

«A liberdade religiosa não é um tema fácil, nem está resolvido», afirmou José Sócrates, na abertura do III colóquio internacional sobre O contributo das religiões para a paz, que decorre até terça-feira em Lisboa.

Sublinhando que a liberdade religiosa é uma questão que «exige o empenhamento permanente da comunidade política», o chefe do Governo alertou para a existência de «sintomas» que «em todos os momentos» não deixam que a liberdade religiosa possa ser dado como «um dado adquirido».

«A diversidade e a tolerância são valores democráticos que contribuem para a afirmação da liberdade religiosa», declarou, descrevendo a liberdade religiosa como «o respeito pela diferença» e a «igualdade de dignidade a todas as crenças».

José Sócrates falou ainda da laicidade do Estado, ou seja, «o Estado neutro perante todas as religiões».

Contudo, acrescentou, «neutralidade não significa o não reconhecimento do valor ético de todas as religiões».

«Acredito na contribuição da religiões para a paz», salientou ainda José Sócrates.

Antes, o presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, Mário Soares, aludiu igualmente à importância do diálogo inter-religioso.

«Acredito nas virtudes do diálogo inter-religioso e entre crentes e não crentes», afirmou o ex-Presidente da República.

O cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, salientou também a importância das religiões para a construção da paz.

«As religiões não são mais um capítulo para a construção da paz, elas interferem com todos os outros», disse.

D. José Policarpo fez ainda referência ao «longo caminho» que é preciso percorrer nas relações entre as religiões, defendendo a necessidade de acentuar «o conhecimento mútuo e o respeito pelos limites».

«Há um universo ético comum a todas as grandes religiões que pode ser decisivo para o caminho da paz», declarou.

Fonte: Sol, 23 de Junho de 2008.

18 de Junho, 2008 Mariana de Oliveira

ICAR prepara central de compras

Os bispos portugueses estão a estudar a criação de uma central de compras comum a todas as dioceses que garanta poupanças e economias de escala, revelou hoje o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

Falando no final das Jornadas Episcopais que foram dedicadas à «gestão e liderança», D. Jorge Ortiga explicou que agora os bispos deverão reunir com «os seus conselheiros mais próximos para definir o que se pode fazer para motivar os padres para esta nova maneira de gestão» partilhada dos recursos.

A gestão dos cartórios paroquiais, instituições de solidariedade, centros paroquiais ou equipamentos eclesiais devem ser assim partilhados com os leigos, levando os padres a concentrarem-se mais no trabalho pastoral.

«Uma paróquia ou uma diocese não são comparáveis com uma empresa», mas pode haver «alguma aprendizagem» com os modernos meios de gestão, defendeu o presidente da CEP.

Por isso, os bispos vão apostar na «concentração de efectivos» e na criação de uma «central de compras», optimizando também o trabalho dos funcionários.

«É preciso formar as pessoas para novas responsabilidades», salientou D. Jorge Ortiga.

Por seu turno, o secretário-geral da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), Líbano Monteiro, que ajudou à realização das jornadas, mostrou-se muito satisfeito com a adesão dos bispos às propostas de modernização administrativa das estruturas da Igreja Católica.

Durante os três dias das jornadas em Fátima, os bispos fizeram trabalhos de grupo e ouviram os «mais modernos ensinamentos de gestão», procurando ter «uma visão da gestão e do mundo empresarial».

O objectivo final é sempre «melhorar a gestão das dioceses para melhorar o serviço da evangelização», salientou o responsável da ACEGE.

«As dioceses são independentes entre si», mas a meta é «conciliar o trabalho em comunhão para ganhar economias de escala», pelo que está em estudo a criação de uma central de compras comum para serviços vários, entre os quais os seguros, referiu Líbano Monteiro.

Esta solução irá permitir «descontos imediatos nos produtos comprados», que serão também «fiscalizados por especialistas», conselheiros das dioceses nas decisões a tomar.

Líbano Monteiro defendeu, também, que as delegações de competências dos padres para os leigos devem estar inseridas numa nova orgânica interna da Igreja que garanta mecanismos de controlo.

«Ninguém pode delegar sem controlar», pelo que é necessário «uma cultura diferente de organização» interna, salientou o secretário-geral da ACEGE, recordando a importância da formação dos quadros da Igreja e dos leigos.

Estes conselhos vão ao encontro da posição da própria CEP, que se tem apercebido que «há uma mudança cultural e eclesial» nas dioceses.

D. Jorge Ortiga recorda que estas alterações que estão a ser estudadas já procuram responder ao apelo à mudança feito pelo próprio Papa Bento XVI ao episcopado português.

«A transformação deve ser um dinamismo permanente perante objectivos concretos e específicos», promovendo uma «reorganização profunda das dioceses» do ponto de vista da gestão dos recursos humanos e financeiros, sustentou o arcebispo de Braga.

Mas D. Jorge Ortiga salientou que esta «não será uma mudança do ponto de vista pastoral», até porque as «dioceses são diferentes e têm capacidades diferentes».

No entanto, «há hoje uma panóplia de responsabilidades que é preciso assumir» ao nível da gestão de cada diocese que «podem ser partilhadas», com uma maior participação dos leigos.

«Importa cada vez mais descobrir essas pessoas, confiar e delegar com alguma coragem responsabilidades de gestão», afirmou, considerando que o exemplo deve partir de cada paróquia.

Aí, «o padre não deve fazer tudo, deve delegar as competências», considerou o prelado.

Fonte: Sol, 18 de Junho de 2008.