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Carlos Esperança

23 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Fátima – A vida de Francisco

FRANCISCO MARTO

Nasceu em Aljustrel, Fátima, a 11 de Junho de 1908. Foi baptizado a 20 de Junho de 1908.

Adoeceu vítima da pneumónica em Dezembro de 1918.

Faleceu em Aljustrel às 22 horas do dia 4 de Abril de 1919

Foi enterrado no cemitério de Fátima e depois trasladado para a Basílica, em 13 de Março de 1952.

A sua grande preocupação era a de «consolar Nosso Senhor».

O espírito de amor e reparação para com Deus ofendido, foram notáveis na sua vida tão curta.

Passava horas a «pensar em Deus». Ele foi um contemplativo.

Comentários à biografia oficial:

1 – Com tanta necessidade de ser consolado, «Nosso Senhor» terá feito uma depressão?

Que tal uma consulta psiquiátrica?

2 – Não era só o Francisco a preocupar-se com «Deus ofendido». É uma inquietação constante dos católicos mais piedosos. Mas, se o Deus é assim tão susceptível, porque não lhe dão uns pingos para o tranquilizarem?

3 – O pobre do Francisco ganhou a promoção a beato muitos anos depois de ter morrido e ainda teve que ser co-autor (com a Jacinta) do milagre da cura da D. Emília, que estava paralítica, e morreu, pouco tempo depois, completamente curada.

4 – O triste passava horas a «pensar em Deus» e a paga foi a pneumónica que o deixou agonizar durante mais de 3 meses. Deus, além de se comportar de forma desequilibrada e sem qualquer lógica, é um sádico. Talvez, por isso, os panegiristas dizem que «castiga os que mais ama». Com quem os ama assim, os crentes não precisam de quem os odeie.

22 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Iraque – Um cidadão sul-coreano sequestrado por um grupo da Al-qaeda (espécie de Opus Alá, com poucas habilitações literárias), acaba de ser decapitado. Fica-nos a dúvida sobre quem é mais cruel, se Alá ou os crentes.

NATO – Foi ratificada a renovação dos submarinos em Portugal. Como se sabe o Dr. Paulo Portas encomendou 2 submarinos (1 para subir e outro para descer), enquanto o nome do bispo que os vai aspergir e dar a eucaristia ao Sr. Ministro continua em segredo.

EUA – Bill Clinton parece ter sido um excelente presidente (sobretudo comparado com o actual) mas só é questionado, ainda hoje, pelo escândalo criado com a estagiária da Casa Branca, Mónica Lewinsky. Parece que os americanos não se importam que o presidente governe ou não, exigem apenas fidelidade à esposa legítima.

Vaticano – O papa anda possesso com a política de José L. Zapatero para a família. JP2 voltou a condenar ontem os projectos do Governo espanhol que visam autorizar o casamento entre homossexuais e a adopção por esses casais. O único ditador europeu, escolhido por umas dezenas de cardeais e por um clandestino Espírito Santo, atreve-se a censurar o presidente de um país livre eleito democraticamente.

Espanha – A derrota da selecção no Euro 2004, cuja protecção do apóstolo Tiago se revelou um fracasso, deu origem a um corrosivo comentário que circula em Espanha:

“Le doy la razón al presidente, hace meses Zapatero dijo que todos los

españoles que estuviesen fuera volverían a España antes del 30 de junio.”

21 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Catástrofe para o apóstolo Tiago

A selecção espanhola, que se deslocou a Santiago de Compostela a pedir protecção para o Euro 2004, acaba de averbar uma derrota com Portugal que a excluiu da competição.

O apóstolo foi severamente humilhado pela segunda vez, em pouco tempo. Ainda há pouco tinham morrido no Iraque vários militares espanhóis que lhe tinham sido confiados pelo cardeal titular da diocese, durante uma missa solene.

Claro que não faltarão oportunistas portugueses a aproveitar o fracasso a favor da senhora de Fátima.

20 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas



Matrimónio – O papa, grande defensor do matrimónio, exorta a sociedade a não ceder «a certas vozes que parecem confundir o matrimónio com outras formas de união tão diferentes, ou mesmo contrárias, ou que parecem considerar os filhos como meros objectos para satisfação própria». É espantoso como um homem que recusou sempre o matrimónio, e evitou fazer um único filho, se considera uma autoridade em tais matérias.

Constituição Europeia – Enquanto o Vaticano lamenta a omissão das raízes cristãs, os cidadãos recordam a Revolução Francesa e as lutas liberais que fizeram a democracia, sempre contra a vontade dos sucessivos papas. A liberdade deve pouco à religião mas devem-lhe muito a escravatura, o colonialismo, o fascismo e as monarquias absolutas. Quem defendeu a origem divina do poder em detrimento da legitimidade popular?

EUA – O velho ditador JP2 já manipula as próximas eleições presidenciais. Prefere o candidato republicano ao democrata, apesar deste ser um católico moderado e Bush um metodista exaltado. O papa não tolera que J. F. Kerry seja favorável à liberalização do aborto. Assim, deu ordem aos bispos católicos para recusarem a comunhão a quem defenda semelhante ideia. Sabendo-se como a eucaristia é um aperitivo indispensável aos bons católicos, calcula-se o número de deserções das hostes democráticas para evitarem o síndrome de privação da hóstia.

Polícia Judiciária – Há quem censure a direcção da PJ pela transferência dos investigadores dos crimes de corrupção no futebol. Temem que a operação «Apito Dourado» se transforme num apito laranja reduzido ao silêncio. É uma injustiça para quem pôs a PJ a investigar os casos de aborto que estão a ser julgados em Setúbal. Há quem prefira o combate ao crime à erradicação do pecado, sem lhe ocorrer que este pode levar à eterna perdição da alma.

19 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Vaticano lamenta. Laicidade regozija-se

A Concordata, recentemente assinada por Portugal, foi o aborto praticado por aqueles que se obstinam a combater a despenalização. Temos de estar atentos à influência nefasta da ICAR e ao potencial de perversidade deste papa decrépito.

À medida que aumenta entre os vivos o número de pecadores, JP2 descobre entre os mortos cada vez mais santos. Com tantos intermediários dedicados à intercessão divina torna-se difícil, para os crentes, uma audiência a sós com Deus. E entre os intermediários, promovidos a beatos e santos, não faltam biltres da estirpe de Pio IX ou Josemaria Escrivá de Balaguer. Muitos deles, para além dos honorários que renderam ao Vaticano, foram a moeda para subornar o beatério dos países aliciados para tentarem contaminar a Constituição Europeia com referência explícita ao cristianismo. A vontade do confronto com as outras religiões está na sua natureza. Tal como na fábula da rã e do lacrau, está na natureza do papa a necessidade de segregar veneno.

Os chefes de Estado e de Governo que aprovaram a Constituição Europeia resistiram à chantagem do último ditador europeu.

O Vaticano lamenta a ausência de “raízes cristãs” na Constituição europeia.

O catolicismo é um cristianismo que resistiu, por entre leiras de batatas e regos de couves, à modernidade. Continua a alimentar superstições rurais com capatazes de batinas negras, com ou sem tonsura, que, várias vezes por dia, anunciam as penas violentas que aguardam no Inferno os desgraçados que recalcitrem.

19 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Mais uma decapitação em nome de Alá.

Como prometido pelos mujaidine foi decapitado o refém norte-americano Paul Marshall, segundo declaração assinada pela Organização da Al-Qaeda na Península Arábica.

À tomada do refém, junta-se a crueldade do assassinato e a brutalidade da decapitação. Os facínoras não são meros bandidos em busca da sobrevivência, são beatos que lêem o Corão, rezam cinco vezes ao dia, fazem jejuns e adoram fanaticamente Alá.

O livro sagrado é um insulto aos mais elementares direitos humanos e os crentes são feras que só pensam no Paraíso.

Nunca percebi a fúria de morte que os crentes de um deus nutrem contra os crentes de outro deus, ou contra os que pensam que deus está a mais num mundo que se quer livre, fraterno e pacífico.

Estes actos de barbárie são obscenos e interpelam as pessoas civilizadas para o combate cultural que é preciso travar contra o obscurantismo, a superstição e a fé.

O Deus dos cristãos divertia-se com as fogueiras e diversas formas de tortura. O Alá dos muçulmanos tem um gosto perverso nas lapidações e decapitações.

É urgente pôr termo ao sofrimento que as religiões provocam.

18 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Constituição Europeia

As agências noticiosas anunciaram, há poucas horas, o acordo obtido em Bruxelas sobre a Constituição Europeia.

Desejando que seja omissa em referências religiosas, saúdo a nova Constituição e faço votos para que estejamos no dealbar de uma nova época de paz, prosperidade e tolerância, num continente onde o direito de não ter religião, ou de ter qualquer uma, seja uma realidade para todos os cidadãos.

Espero que, definitivamente, se apague a memória das lutas religiosas que dilaceraram a Europa e fizeram milhões de mortos.

É a Europa laica e democrática que eu saúdo, onde a última ditadura de um minúsculo Estado – o Vaticano – não terá a força suficiente para impelir os povos para novas cruzadas nem para restabelecer novas inquisições.

18 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Os negócios da fé e do cimento

«O padre José Maria Cortes assumiu a responsabilidade de construir duas igrejas em Alverca e Sobralinho no valor de 4,5 milhões de euros. O sacerdote, que tentou ser toureiro e jogou rugby, conta com uma equipa de assessores e dezenas de cristãos que o ajudam a enfrentar os desafios.» – lê-se em O MIRANTE, um jornal que me chega pela mão piedosa de um amigo (Manuel Maça) cujo interesse pela cultura o não distrai dos assuntos piedosos.

«A Igreja dos Pastorinhos, na Quinta das Drogas, em Alverca terá 500 lugares sentados. O edifício de seis pisos, contempla uma cave, aproveitada para 49 garagens que estão a ser vendidas a bom ritmo e a preços que variam entre os 15 mil e os 20 mil euros.»

Deixo estas informações para os ateus que pretendam ainda comprar uma garagem na nova igreja, sem que o preço contemple indulgências ou facilidades de estacionamento futuro da alma na mansão da entidade patronal – o Paraíso.

17 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Federação Portuguesa de Futebol – O apelo aos portugueses para que, além das bandeiras, se «acendam velas e se manifeste a fé», para além do encanto rural, beato e analfabeto, revela que a cunha faz parte da sua natureza. Quem pretende subornar o deus que julga justo, o que será capaz de tentar com um árbitro que presuma venal?!

Vaticano – Segundo este Estado, onde as verdades são frequentemente mentiras piedosas, entre 1540 e 1629 a Inquisição só queimou em Portugal 4 bruxas e em Espanha (entre 1570 e 1700) arderam apenas cerca de 1800, o que indicia uma clara preferência por judeus, na Península Ibérica. Um outro acto litúrgico que alimentava a devoção católica era a queima em efígie, que consistia em queimar um boneco a representar o réu que tinha conseguido fugir. A exumação de cadáveres destinados às fogueiras era igualmente um acto de piedade que agradava a Deus e ajudava à salvação da alma dos praticantes.

Euro 2004 – O treinador Otto Baric justificou a visita da comitiva croata a Fátima «com a devoção católica existente na Croácia e com o facto da comitiva ter relíquias de adeptos para serem benzidas» – lê-se no Diário As Beiras de hoje, pg. 14. Depreende-se que a bênção das relíquias lhes acrescenta valor.

Coimbra – É um orgulho para os autóctones viver na única cidade do mundo que tem uma vidente viva, com certificado de garantia. As entrevistas da Irmã Lúcia com a senhora de Fátima estão autenticadas pelo Vaticano e nas imediações do convento onde a sequestraram afluem diariamente numerosos peregrinos em busca do odor a santidade.

16 de Junho, 2004 Carlos Esperança

A visita pascal – crónica piedosa

O Senhor Jesus Ressuscitado viajava, no Domingo de Páscoa, pelas casas da aldeia a recolher o ósculo e a esmola dos devotos. Onde não chegava antes do anoitecer ia no dia seguinte, com desgosto dos paroquianos que o aguardavam. A bênção valia o mesmo, é certo, mas perdia-se o tempo da espera e era diferente. Por isso, para não contrariar os mesmos, todos os anos mudava o itinerário.

Transportava-o o sacristão, que o entregava ao vigário em cada paragem, e era acompanhado por devotos que aliviavam a alma e recolhiam esmolas suplementares para os santos que exornavam a igreja local. Um garoto levava a caldeirinha de água benta que passava ao sacristão enquanto o padre se ocupava da cruz e recolhia-a depois deste despachar a tarefa e de se ocupar do hissope, num movimento de rotação, a aspergir com vigor, em cada lar, um círculo protector das investidas do demo, bênção que não deixaria de acautelar também o vivo que morava na corte, por baixo.

Era um tempo em que não havia vírus nem pneumonias atípicas, as pessoas viviam porque Deus queria e finavam-se quando o Senhor era servido, sem intromissão do médico a estorvar a divina vontade de as chamar.

Em todas as casas as vitualhas aguardavam a visita ao lado de uma garrafa de jeropiga rodeada de cálices. Entrava primeiro o padre, seguido do sacristão e do garoto que conduzia a caldeirinha. Aguardavam nas escadas os outros para depois os revezarem. Genuflectiam-se os da casa, por ordem cronológica, para beijar o pé do Jesus até chegar ao chefe de família que era o último a ajoelhar e o primeiro a soerguer-se. Borrifada de água benta a habitação, recolhida a esmola destinada ao Ressuscitado, a mais substancial, o padre bebia um trago de jeropiga e mordiscava um naco de pão-de-ló, por consideração, enquanto o sacristão aviava o cálice, de um sorvo, e se desforrava nos bolos. Às vezes demoravam-se mais um pouco para que o senhor padre rezasse uns responsos a rogo, geralmente por alma de quem tinha deixado com que pagar o latim.

Havia no séquito que aguardava nas escadas um homem por cada santo que ornava os altares da igreja, disponível para arrecadar a oferenda. Assim, enquanto o padre e o sacristão desciam, subiam eles para recolher, se a houvesse, a esmola que a cada santo cabia, consoante as posses e a devoção dos anfitriões. Creio que os turnos de acesso se estabeleciam em função do espaço e não da liturgia.

Mais de metade da paróquia percorrida, com o padre e o sacristão aguentando o múnus a pão-de-ló e regada a fé a jeropiga, a vingar-se o último, a conter-se o primeiro, a acelerarem todos para as casas que faltavam, o sacristão avaliou mal a distância que o separava das escadas na última casa onde entraram, abalroou o garoto que transportava a caldeirinha que logo a soltou, verteu a água e arremessou o hissope contra a parede. Foi grande o reboliço enquanto o sacristão e a cruz varreram enrolados as escadas sem que alguém do séquito lhes deitasse a mão, impávidos, como se evitassem estorvar se acaso fosse promessa a queda.

O padre, vermelho de raiva e da jeropiga, aguentou-se nas pernas e conteve a língua, ao cimo das escadas, enquanto, sem largar a cruz, se despenhou por entre as alas de acompanhantes o sacristão. Este recuperou rapidamente o alinho e endireitou a cruz, sem ninguém se aleijar, Deus seja louvado, e o padre despachou logo um paroquiano com uma jarra de vidro a caminho da igreja a sortir-se de água benta, com o aviso de se apressar, estava a fazer-se tarde, faltava ainda muito povo para aviar. Se recriminações houve ficaram reservadas para a discrição da sacristia.

No dia seguinte as conversas da aldeia começavam todas por Deus me perdoe, seguidas de persignações apressadas e de risos amplos, terminando em ansiedade, pelo pecado cometido ou pelo temor da desobriga, mas ninguém resistiu a contar o sucedido e a comentá-lo, sendo mais forte a tentação do que a piedade.