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Carlos Esperança

28 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

O Imperador Constantino

O cristianismo nasceu para sustentar o poder totalitário do Imperador Constantino que, por oportunismo, o transformou em religião de Estado, um privilégio cuja nostalgia a ICAR não consegue disfarçar. Constantino deveu a unidade do seu Império ao cristianismo e este recebeu dele o poder que lhe permitiu a expansão e, quantas vezes, a destruição da concorrência. O concílio de Niceia foi convocado pelo próprio Imperador, depois da oportuna conversão, e aí fez aprovar dogmas que ainda hoje a ICAR explora.

Sabe-se que a conversão de Constantino foi uma farsa, pois nunca deixou de invocar o «Invencível Sol». Mas o que é a fé senão uma farsa que, à força de repetida, acaba por se acreditar nela?

Já quanto ao hábito de mandar supliciar e assassinar os seus inimigos políticos, hábito que manteve até à morte, pode ter-se tratado de uma genuína conversão ao cristianismo ou, pelo contrário, de uma prática própria que deixou como herança. De qualquer modo a ICAR, como reconhecimento, canonizou-o. Não foi o primeiro patife e, nos últimos tempos, o bando tem aumentado.

«… À vista destes factos, quais são as obras de Deus? Quais os seus homens? Quem manda ele para nos dirigir e resgatar? Inácio de Loiola, que ensinou à Humanidade a arte de sofrer e ser cadáver; Torquemada, que inaugurou a Inquisição da Espanha, encarcerando, degolando e queimando muitos milhares de cidadãos prestantes; Carlos 9º e Catarina de Médicis, que, em uma noite apenas, cobriram de sangue as ruas de Paris, matando e afogando cegamente o seu povo indefeso;»

«Tomás da Fonseca (Sermões da Montanha ‘extracto’)».

27 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Europa laica

O Parlamento Europeu, eleito directamente por sufrágio universal dos países que compõem a União, deu hoje uma prova de independência perante um pequeno Estado que não é democrático nem faz parte da União – o Vaticano. Ao recusar um talibã da ICAR, com ideias sobre a família e a homossexualidade comuns ao Vaticano e aos Estados muçulmanos, o Parlamento defendeu o seu carácter laico e a independência face às religiões.

José Manuel Barroso, depois de ter assinado em Portugal a Concordata (uma vergonha nacional amplamente apoiada na Assembleia da República), depois de ter perdido a referência religiosa na Constituição Europeia pela qual se bateu com o denodo com que os crentes pretendem salvar a alma, tentou até ao fim a manutenção do comissário Rocco Buttiglione, o Ai Jesus de João Paulo II e de Berlusconi.

Só depois de perceber que o Parlamento Europeu rejeitaria a equipa de 24 comissários, enquanto o legado pontifício para as questões da família a integrasse, Barroso recuou, adiando a votação para poder preparar uma nova comissão.

A intransigência de José Manuel Barroso (entrada de durão, saída de sendeiro) deixou-o mais frágil e a Europa perdeu com isso. A única coisa boa foi a derrota do Vaticano, que tinha investido na manutenção do seu homem de mão, a quem resta agora fazer um exame de consciência antes de elevar aos altares o mártir Rocco Buttiglione.

27 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

O Banco do Vaticano

Há em Roma um bairro de 44 hectares, recheado de monsenhores, cónegos, bispos e cardeais, com inúmeras freiras a fazerem o trabalho doméstico de tais dignitários, convencidas de que estão ao serviço de Deus. As vestes coloridas que acompanham a curvatura dos ventres dão um ar garrido ao bairro. O Papa é o patrão daquela malta, que passa revista às igrejas e se mostra aos inúmeros peregrinos que ali vão com o mesmo encantamento com que em crianças demandavam o circo.

O que nem todos sabem é que o Vaticano tem um poderoso Banco que sustenta a fé e alimenta o poder da Cúria romana. O dinheiro é o alimento espiritual do clero. Ao Papa é indiferente que as pessoas da Santíssima Trindade sejam três ou trezentas, mas não é insensível às cotações da Bolsa, ao preço do petróleo ou à subida dos juros.

Sabe-se que o Deus lá do sítio gosta de dinheiro, razão dos frequentes apelos do clero aos fregueses para que paguem a sustentação do culto e a divulgação da fé.

Mas o que poucos sabem é que o Vaticano faz parte das dez maiores praças financeiras de branqueamento de capitais. Calcula-se que seja o destino principal do equivalente a 55 mil milhões de dólares americanos de dinheiro sujo italiano. O Banco do Vaticano é um dos principais paraísos fiscais para o branqueamento do dinheiro sujo, muito à frente das Bahamas, Suíça e Liechtenstein, o que não admira pois o Paraíso é mesmo o seu principal negócio.

Talvez não fosse acaso o facto de ao Papa João Paulo I, poucos dias após ter anunciado um inquérito ao Banco, ter sido Deus servido de o chamar à sua divina presença.

Sabe-se como o Banco do Vaticano defende o ouro confiscado aos judeus, vítimas do holocausto, opondo-se a qualquer investigação que desmascare a sua conivência como receptador internacional de alto gabarito. É mais firme o Banco na defesa do dinheiro do que os padres na defesa da virgindade de Maria.

26 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Santo Pereira (2)

A Mariana Pereira da Costa não deixou passar em claro as circunstâncias que levaram à abertura do processo de canonização do «Santo Pereira». Todavia, perante a onda de entusiasmo que varre a Pátria, vou retomar o assunto.

Não havia necessidade de adjudicar qualquer milagre ao beato D. Nuno, para ser elevado a santo, pois «Urbano II fez uma excepção para quem há mais de 200 anos era prestado culto e reconhecido, pelo povo, a santidade», excepção que D. José Policarpo, bispo e cardeal-patriarca de Lisboa, tinha já confirmado aplicar-se-lhe. Nuno Álvares Pereira renunciou, porém, à prerrogativa que o dispensava do milagre, para não ser acusado de favoritismo. Recusou a passagem administrativa. Iniciou-se no ramo dos milagres e logo logrou a cura do olho esquerdo de uma mulher de Ourém que o havia danificado com azeite fervente.

Assim, o intrépido guerreiro revelou-se um poderosos antídoto contra as queimaduras e vai passar por mérito próprio no exame de admissão à santidade, com provas de mérito irrefutáveis e a mesma indómita vontade de subir ao altares que o levou a desbaratar castelhanos em Aljubarrota.

Cadáver há 573 anos, em excelente estado de beatitude, só agora conseguiu a santidade para maior glória da Pátria, vaidade do clero e euforia dos créus. Durante séculos foi o terror das crianças de Castela que recusavam a sopa, agora passa a ser o orgulho dos portugueses e uma cunha sempre à mão para apanhar um bilhete de ida para o Céu na Agência de Turismo Celeste da ICAR.

Surpreende que os papas anteriores tenham apagado o beato Pereira, que as sucessivas levas de bispos e cardeais tenham esquecido um santo desta dimensão, que desde 1431 os devotos o tenham ignorado nas novenas e que os milhares de soldadores a quem caiu um pingo de solda num olho tenham recorrido àquelas horríveis obscenidades, em vez de dizerem «valha-me Santo Pereira», e recuperado a visão em vez de perderem a alma.

Foi preciso o olho clínico de JP II, para diagnosticar milagres e descobrir taumaturgos, para criar este grande santo. Teve várias nomeações no passado mas foi sempre preterido pela bajulação dos papas a Espanha e escrúpulos por alguns milhares de mortos e estropiados em Aljubarrota – minudências que lhe atrasaram a promoção.

25 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

A ICAR e a Inquisição

«É uma nova Inquisição, mas uma inquisição profana».

(Cardeal Renato Martino, referindo-se ao Parlamento Europeu, após o veto à nomeação do italiano Rocco Butiglione para comissário da Justiça, Liberdade e Segurança, na sequência de ter considerado a homossexualidade como pecado e definido o casamento como uma instituição destinada para a mulher conceber filhos e ser protegida pelo marido).



OBS.: O Cardeal confunde o sinistro «Tribunal da Santa Inquisição», que torturava e assassinava, com um órgão democrático que se limitou a considerar um cidadão indigno de ocupar determinadas funções, por se tratar de um troglodita com ideias medievais, e não por ser amigo do Papa e de Berlusconi.

25 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Votos de um ateu

Longa vida para João Paulo II.

25 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Amor cristão

«Todos esperamos que Fidel morra»



(Loyola de Palácio, católica, vice-presidente da Comissão Europeia, após a queda e fractura de um joelho de Fidel de Castro ).

15 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Um católico romano na Europa

O comissário Rocco Buttiglione, amigo do peito e da missa de Berlusconi e do Papa, considera que «a homossexualidade é um pecado» e, sobre a família, defende «que a mulher tenha filhos e que o homem a proteja». É um filósofo respeitado pela Cúria Romana, um intelectual com joelhos calejados por muitas rezas, um católico cheio de bênçãos de JP2 e um tubo digestivo repleto de hóstias.

Os conceitos são interessantes e populares mas com dois séculos de atraso. Face a tão piedosos pensamentos, a comissão de Justiça do Parlamento Europeu julgou-o indigno de ocupar o pelouro que Durão Barroso lhe destina e vetou-o.

É a Mariana Cascais da Comissão europeia. Alguns leitores já não se lembram da tristemente célebre secretária de Estado da Educação do Governo de Durão Barroso que julgava que Portugal era um país oficialmente católico e garantiu que só havia educação sexual porque ela deixava. Era uma militante do Opus Dei que tinha pelo sexo aquele horror que Maomé destinou ao toucinho. Era uma governante que fazia a delícia dos jornalistas e o gáudio da população urbana.

Há outra Mariana Cascais à espera de Durão Barroso. Desta vez chama-se Rocco Buttiglione, destinado a ocupar a pasta da «Liberdade, Segurança e Justiça», mas os problemas agravam-se com um sacristão que faz as delícias da comunicação social.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

O milagre do Sol

Faz hoje 87 anos que o Sol girou sobre si mesmo e desceu três vezes à altura do horizonte num desafio às leis da gravidade celeste, suspensas na Cova da Iria para gáudio exclusivo de 50.000 devotos. A informação é idónea pois foi confirmada pelo Secretariado de Informação do Santuário de Fátima.

A ICAR vive da suspensão das leis da Física, da boa vontade dos crédulos e dos interesses comerciais e financeiros a que consegue deitar a mão, à semelhança das outras religiões. Em 1917 iniciaram-se e ampliaram-se as relações entre a Virgem, o seu divino filho e um anjo de nome e categoria indeterminada, com Portugal, através de três crianças que trocavam a escola pela pastorícia e pelas orações.

A embaixada celeste começou a funcionar numa azinheira e, em breve, a Cova da Iria transformou-se na delegação comercial do Paraíso com os negócios da fé a prosperarem a um ritmo alucinante só quebrado com o aumento da alfabetização e o advento da democracia.

13 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Dia de festa em Balasar

Hoje, 13 de Outubro do Ano da Graça de 2004, celebra-se a primeira Festa Litúrgica de Alexandrina de Balasar. O bispo da diocese, D. Jorge Ortiga, a participar no 48º Congresso Eucarístico Internacional (México), lamentou encontrar-se ausente mas pediu que o considerassem presente em Balasar «neste dia histórico».

«Situando-me na temática do Congresso, a Eucaristia, rezo para que a Beata Alexandrina interceda por nós de modo que, na Arquidiocese, a Eucaristia seja luz e vida do novo milénio. Necessitamos de ?almas? eucarísticas que vivam da Eucaristia e para a Eucaristia» – sublinha em nota pastoral.

Convém lembrar aos mais desatentos que a beata Alexandrina, a primeira de um bando de 25 a quem a ICAR prometeu a promoção e os milagres necessários, passou numerosos anos sem comer, nem beber, em anúria e alimentando-se apenas de hóstias consagradas, facto confirmado pelo actual Papa cuja credibilidade não é posta em causa.

O Diário Ateísta admite que a morte se deveu à falta de consagração de alguma hóstia, por distracção ou incúria, privando-a do único alimento que a mantinha.