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Carlos Esperança

30 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

A existência de Deus

Cabe a quem afirma e explora a existência de Deus o ónus da prova mas não há a mais leve suspeita de que exista nem, da parte dele, o menor esforço para fazer prova de vida.

Todas as religiões reivindicam o único Deus verdadeiro, donde se conclui que, na melhor das hipóteses, todas, menos uma, são falsas e, certamente, são todas.

A falta de provas não desanima os propagandistas nem lhes tolhe o proselitismo. Uma multidão de clérigos esforça-se por submeter a humanidade à vontade do mito e procura bater a concorrência.

Os livros sagrados propalam que Deus, farto de ócio e do Paraíso, veio à Terra anunciar os seus desejos e ameaçar quem o contrariasse. Trouxe um ror de proibições e ameaças que os padres se encarregam de divulgar e fazer cumprir.

São pouco credíveis os livros, pouco idóneos os escribas e pouco recomendáveis os zeladores. A Tora, a Bíblia e o Corão são piedosas falsificações, revistas e corrigidas ao longo dos tempos, destinadas a espalhar o terror, a crueldade e a submissão.

As religiões monoteístas perpetuam o tribalismo e a barbárie de acordo com as páginas que lhes servem de referência. A vontade divina confunde-se com os interesses do clero, aliado indefectível das classes dominantes e dos detentores do poder.

Os crimes religiosos, as guerras travadas e a violência perpetrada e perpetuada ao longo dos séculos pelos jagunços de Deus tornam as religiões uma tragédia. Os negócios, os privilégios e o charlatanismo asseguram a longevidade das Igrejas.

O ateísmo é uma vacina eficaz contra a acção deletéria da fé e não pretende, ao contrário dos parasitas de Deus, fazer proselitismo. Os ateus limitam-se a desmascarar a mentira e o charlatanismo, à semelhança das associações de defesa do consumidor.

Ao serviço deste desígnio, faz hoje dois anos, nasceu o Diário Ateísta.

29 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Bispo de Coimbra desafia a Constituição

A guerra das cruzetas
Albino Cleto, arcebispo de Coimbra por decisão do Papa, conhece a vontade de Deus e obedece a um obscuro Estado de 44 hectares – o Vaticano -, e não às leis portuguesas.

Durante a ditadura o crucifixo era obrigatório nas escolas, tal como a foto do Presidente da República, vassalo do ditador, e facultativa a de Salazar, que sempre integrava o trio. Dizia-se até que o Cristo estava entre dois ladrões.

A democracia trouxe a liberdade. O Estado tornou-se laico. Os símbolos religiosos deixaram de acompanhar os outros fungos que as paredes das escolas exibiam.

Nas Escolas do Magistério do Estado Novo era obrigatória, de facto, a catolicidade dos futuros professores, havia missa de consagração de curso (obrigatória) e fazia parte do currículo uma cadeira de religião católica em igualdade com a pedagogia, didáctica e psicologia infantil.

Isto passava-se na Guarda, distrito donde saiu este reverendíssimo exemplar apostólico.

No último domingo depois de abençoar um enorme crucifixo na periferia de Coimbra (nada precisará mais de uma bênção do que um crucifixo) o senhor Albino fez um forte ataque à decisão de retirar os símbolos católicos das escolas públicas, durante a missa.

«Não vamos deixar, pois seria cobardia nossa e traição a Deus guardá-los em casa» – disse a reverendíssima criatura para quem o Estado democrático e a Constituição da República não contam.

O Bispo também não gostaria que lhe pusessem o busto da República nas igrejas.

29 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Histórias do cristianismo

O deus de Abraão, Isaac e Jacob era celibatário. O ócio e a solidão levaram-no a abrir uma oficina de oleiro onde iniciou, à mão, o processo de reprodução. Fez o homem à sua imagem e semelhança e, porque lhe sobrasse barro, tempo ou ambos, criou a mulher e expulsou os dois.

Do Paraíso, onde tinha domicílio e dormia a sesta, Deus espiava a Terra e assistiu à forma como Sodoma e Gomorra se divertiam à tripa forra. Acicatado pelos padres foi ruminando ódios e maquinando vinganças. Sabe-se a crueldade que usou para todos os habitantes, incluindo as crianças, que não sabiam pecar, e os velhos, que já não podiam.

Quiçá o tornou intolerante a velhice ou o Alzheimer. Deus andava tão enxofrado com o divertido método que os humanos tinham engendrado para se reproduzirem, que encomendou um filho a uma pomba. Esta recorreu a uma barriga de aluguer e sujeitou a mulher a uma cesariana para a manter virgem, indiferente aos murmúrios e chistes que sofreu um pobre carpinteiro de Nazaré.

O alegado filho de Deus dedicou-se à pregação e ao lucrativo ramo dos milagres mas menosprezou a concorrência e deixou que lhe dessem cabo do canastro.

Apareceu então uma seita a dizer que o defunto era Deus e a acusar os judeus de não o levarem a sério e a culpá-los pela morte. Começaram a contar histórias fantasiosas a seu respeito e a maldizer os judeus. Puseram a correr que o pregador milagreiro, após três dias de defunção, ressuscitara e emigrara para o Paraíso, onde tinha uma cadeira à direita do pai, que passava o tempo a tossir e tirar macacos do nariz.

Foi tal o sucesso dos boatos que se escreveram numerosos livros, hoje reduzidos a quatro por questões de eficácia e um mínimo de coerência. Os créus logo nomearam um quadro – Pedro – para organizar os negócios da nova religião.

Graças à cumplicidade de alguns imperadores, à dedicação de propagandistas e ao vigor com que eliminavam os adversários, fabricaram uma das mais prósperas e ricas religiões do Planeta, dando emprego a dezenas de milhares de clérigos e ilusões a milhões de crentes.

27 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

O sexo e a ICAR

O Papa Rätzinger, ressentido de longa repressão sexual, nutre pela sexualidade a animosidade e o constrangimento que caracteriza a ICAR.

Proibir o acesso ao sacerdócio de homens que tenham «tendências homossexuais profundamente enraizadas» é surpreendente para quem exige a castidade absoluta. Que interessa a orientação sexual se é vedada a actividade?

O paradigma católico de sacerdote é um homem com tendências heterossexuais profundamente enraizadas e nunca experimentadas. Não admira. A ICAR nega à mãe do seu Deus o êxtase de um orgasmo e ao marido a consumação do matrimónio. Já o Deus mais velho quis reduzir a reprodução a um trabalho de olaria.

B16 não conhece o desejo? Nunca percorreu um corpo, saboreou uma boca ávida ou sentiu o afago de mãos macias? Não descobriu no seminário um púbere adolescente ou um diácono curioso; não viu na paróquia o cio de uma catequista; não sentiu, na diocese, o assédio de um diácono ou a languidez da freira que engomava os paramentos.

A raiva às mulheres e o desvario perante opções sexuais minoritárias remete para uma adolescência em que o pecado solitário foi a única fonte de prazer e vergonha, o coito uma obsessão reprimida e a ejaculação nocturna se tornou remorso com sabor a genocídio.

Se, em vez de orações e jejuns, fizesse amor, este vetusto inquisidor saberia amar.

24 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Bento 16 e os homossexuais

O novo documento do Vaticano em relação aos homossexuais é, contrariamente à opinião geral, um progresso relativamente à Bíblia (Génesis), que manda matá-los, e rompe com a tradição da inquisição, que os queimava.

Claro que só desiludiu quem julgava que o velho inquisidor Ratzinger, tantos anos responsável pela sagrada Congregação da Fé (ex-Santo Ofício), pudesse transformar-se num liberal e pessoa de bem.

A ICAR e B16 ilustram a fábula da rã e do lacrau. Quando este injecta o veneno letal, a rã pergunta-lhe porque o fez sabendo que morreriam ambos. «É da minha natureza» – respondeu o lacrau.

18 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Anglicanos à beira do cisma

As três religiões monoteístas não toleram a sexualidade pura ou a simples sexualidade. Sem procriação é um mal absoluto, razão pela qual condenam à morte os homossexuais.

O carácter misógino que a Tora reflecte, oriundo de culturas anteriores, foi plagiado pelo Novo Testamento e encontrou defensores acérrimos em Paulo de Tarso e Agostinho, dois santos doutores, sofríveis cidadãos e execráveis beatos.

O próprio Papa Paulo VI, que odiava mulheres mas tinha especial carinho por homens, não fazia mais do que ser coerente com a fé. O resto eram fraquezas.

Claro que o delírio esquizofrénico contra as mulheres e os homossexuais atinge o seu esplendor no Corão, esse plágio tosco da Bíblia cristã, feito por Deus e ditado durante vinte anos à cabeça dura de um profeta analfabeto.

A ordenação de mulheres – um ser inferior como declaram os livros sagrados e garantem os santos doutores – está na origem de um eventual cisma da Igreja anglicana, agravado pela sagração de bispos homossexuais.

O anglicanismo, muito próximo do catolicismo, digere mal a liberdade sexual, ou melhor, a transparência. Os bispos podem ser homossexuais – houve e há muitos -, mas não se deve saber. Houve papas homossexuais mas não se admite oficialmente.

A hipocrisia é uma característica eclesiástica muito arreigada.

Os crentes julgam que estas taras foram debeladas e que a igualdade entre sexos é uma evidência. Transcrevo da Visão de hoje, palavras do patriarca Policarpo (EM FOCO, pg. 34): «Muitas [mulheres] lamentam que a Igreja seja demasiadamente masculina. Não é de facto, e sê-lo-á cada vez menos na medida em que mais mulheres sejam santas e sejam capazes de abraçar o mundo num acto de amor».

E por que não abraçar um homem ou uma mulher? Abraçar o mundo deve ser uma metáfora sexual só para crentes.

17 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Ciência e religião

Nunca soube de um cientista que perseguisse um crente por acreditar nas mentiras da religião, mas são conhecidos os casos das religiões que assassinam cientistas por causa das verdades que põem em causa os livros pueris que consideram sagrados.

A ciência procura explicar a vida e melhorar a sua qualidade, a religião alimenta-se da morte e exalta o sofrimento na mórbida contemplação de caveiras e restos mortais.

A ICAR nasceu do silêncio perante os crimes de Constantino a troco da isenção de impostos, da construção de novas igrejas e da repressão da concorrência. Ainda hoje procura amancebar-se com os déspotas que governam, para se tornar dominante.

Há na matriz genética da Igreja católica uma tendência totalitária, tara comum, aliás, às outras religiões do livro.

Cedo se tornou poder. Desde 380 que, sob o imperador Teodósio, foi declarada religião oficial do Estado, estatuto que sempre procurou conquistar e de que jamais abdicaria pacificamente, onde quer que fosse.

Justiniano proibiu o direito de herdar ou transmitir bens aos pagãos, baniu a liberdade de consciência (529) e obrigou os pagãos a serem instruídos na religião cristã, para obter o baptismo, sob pena de exílio e confiscação de bens. Quem é que não se converte a uma verdade tão vigorosamente promovida?

Deus foi o amuleto de que se serviram as tribos que temiam perecer para dar alento aos guerreiros que as defendiam. Daí a violência, crueldade e ódio de Deus contra inimigos da tribo a que pertencia. O Deus sanguinário foi uma necessidade para excitar o espírito belicoso dos que lutavam pela sobrevivência.

Hoje permanece como negócio de que se governam os padres e como instrumento do poder de que aproveitam os ditadores.

O baptismo é o ritual em que a água benta torna a pele do catecúmeno permeável à entrada do divino para inocular a alma. É a praxe com que se recebe o neófito no bando.

Constantino, Teodósio e Justiniano foram os padrinhos da seita. A ICAR, sem o braço do poder temporal, não passaria de uma proposta filosófica, algures entre o ridículo e o perigoso.

16 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

A religião é uma mentira sagrada

Se as mentiras religiosas pagassem imposto não havia défice na balança de pagamentos de qualquer país, contrariamente ao que os crédulos julgam e alguns leitores do Diário Ateísta juram.

Os livros sagrados, onde tudo e o seu contrário se justifica, revelam a crueldade de uma época onde a sobrevivência era precária e os instintos tribais violentos. A versão actual da Bíblia foi aprovada em 1546, no concílio de Trento, a partir da Vulgata que Jerónimo (séc. IV e V) fabricou com o texto hebreu e o rigor intelectual de futuro santo.

O Corão foi ditado por Deus, durante 20 anos, em Meca e Medina, a um homem que aprendeu o livro sem saber ler nem escrever. Vinte anos a aturar Maomé foi obra.

A ICAR, por exemplo, que se arroga direitos especiais por se julgar a mais frequentada das religiões em Portugal, junta às aldrabices dos evangelhos a imbecilidade dos dogmas e a insânia dos milagres.

Os concílios ajudaram a rever, rectificar e aumentar a fábula de Cristo ao gosto de cada época e de acordo com as necessidades do mercado.

O sepulcro de Cristo foi invenção de santa Helena, mãe de Constantino, em 325, tal como o lugar do Calvário situou sob o templo de Afrodite que, por isso, foi destruído.

No séc. VI ainda se discutiu no concílio de Mâcon (585) o livro de Alcidalus Valeus «Dissertação paradoxal onde se tenta provar que as mulheres não são criaturas humanas».

Os católicos dizem que Deus existe porque milhões de pessoas o amam. É um critério que prova a existência de anjos de duas, quatro e seis asas, como garantem pias leituras ou que o Sol gira à volta da Terra, dúvida que conduzia à fogueira.

Se o critério da quantidade fosse científico biliões de moscas decidiriam qual o alimento mais saboroso. O número decide votações, não altera gostos nem factos.

15 de Novembro, 2005 Carlos Esperança

Só a estupidez é santa

O Talmude e a Tora, A Bíblia e o Novo Testamento, O Corão e a Sunnah (séc. IX) têm em comum o carácter misógino mas diferem em relação ao álcool, à carne de porco e na defesa do véu e da burka. No islão as proibições atingem o esplendor esquizofrénico, onde até urinar com o jacto virado para Meca é proibido.

Paulo de Tarso moldou o cristianismo. Perseguir era a sua obsessão esquizofrénica sem cuidar do objecto da perseguição. Ouviu vozes na estrada de Damasco e passou a perseguir o que deixara em nome do que abraçou. Juntou a essa tara a vocação pirómana e apelou à queima dos manuscritos perigosos.

Paulo de Tarso odiava o prazer e injuriava as mulheres. Advogou o castigo do corpo e glorificou o celibato, a castidade e a abstinência. É um expoente da patologia teológica, do masoquismo místico e da demência beata – um inspirador do Opus Dei.

O cristianismo herdou a misoginia judaica. O Génesis condena radical e definitivamente a mulher como primeira pecadora e causa de todo o mal no mundo.

As três religiões monoteístas defendem a fé e a submissão, a castidade e a obediência, a necrofilia (pulsão da morte, não a parafilia), a castidade, a virgindade e outras santas aberrações que conduzem à idiotia e ao complexo de culpa do instinto reprodutor.

A história de Adão e Eva é comum à Tora, Antigo Testamento e Corão. Em todos, Deus proíbe a aproximação da árvore da sabedoria mas o demónio incita-os à desobediência.

Aliás, o pecado é definido como a desobediência a Deus, ou seja, à vontade dos padres.

As páginas do Corão apelam constantemente à destruição dos infiéis, da sua cultura e civilização, bem como dos judeus e cristãos (por esta ordem) em nome do mesmo Deus misericordioso que alimenta a imensa legião de clérigos e hordas de terroristas.

Fonte: Traité d’athéologie, Michel Onfray – Ed. Grasset & Fasquelle, 2005