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Carlos Esperança

7 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Portugal – País laico

Não há anti-clericalismo sem clericalismo.

A presença de crucifixos em escolas públicas, além de ilegal, é uma exigência injusta e gratuita ao Estado laico. O Governo não defendeu, como devia, a liberdade religiosa quando assinou a Concordata – um instrumento ao serviço da Igreja católica -, mas não cedeu escolas para exibição de símbolos religiosos de nenhuma religião.

A Concordata não derroga a Constituição embora favoreça a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) face às outras religiões, conferindo-lhe benefícios especiais.

À ICAR não basta ser privilegiada, pretende a omnipresença. São hábitos que herdou do passado, onde o ensino religioso era obrigatório e o acesso a algumas profissões (ensino primário e enfermagem, v.g.) era, na prática, vedado aos não católicos.

À tolerância e pluralismo responde com proselitismo. Não lhe bastam os privilégios, deseja a exclusividade e ameaça a legalidade acirrando os fiéis.

«Dar a César o que é de César» é uma norma que a ICAR só aplica nos países onde é minoritária.

O Estado tem de ser laico para respeitar igualmente todos os cidadãos, seja qual for a crença, ou a sua ausência, e poder exigir-lhes respeito. Ao conceder privilégios à ICAR, que não pode dar a outras religiões, arrisca-se a capitular perante o fascismo islâmico se os mullahs começarem a pregar o ódio a partir das mesquitas.

Do mesmo modo que o Estado renuncia a colocar a Bandeira, o busto da República ou a foto do Presidente nos templos, também as Igrejas devem abster-se de colocar os seus símbolos nos edifícios públicos.

É uma forma de conter o proselitismo e evitar guerras religiosas.

6 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

JP2 e Pinochet

João Paulo II, Papa pela graça do Opus Dei e sobre o cadáver precoce de João Paulo I, disse de Augusto Pinochet e Esposa: «São um casal católico modelo».

Perguntas:

– JP2 foi infalível?

– Os católicos confiam em JP2?

– Deus levou-o a sério?

– O milagre na área oncológica obrado numa freira francesa na véspera do centenário da lei da separação da Igreja e do Estado será verdadeiro?

– A ICAR é uma entidade de bem?

6 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

A ICAR e os milagres

O culto necrófilo de JC está de acordo com a demência veneradora que a ICAR presta aos mártires e aos poderes que atribui aos mortos. A morte é, aliás, o alimento da fé, a droga que sustenta a religião e o medo que submete os vivos.

A ICAR recusa milagres de vivos, destina-os aos mortos. Os santos são padrinhos da Mafia que rodeia Deus. Quem acredita na catadupa de milagres obrados após JP2 ter sido alcandorado ao trono pontifício pelo Opus Dei, terá de interrogar-se como puderam obrar milagres patifes de alto coturno como Pio IX ou Escrivá.

O negócio dos milagres é a ilustração da mentalidade católica: a atenção que se solicita, a cunha que se mete, o lugarzinho que se mendiga. O padre-nosso é o cabrito da dívida, a ave-maria o queijinho da subserviência, a novena e o terço o óbolo para o partido político sem cuidar onde se perde ou o destino que lhe cabe.

Às vezes os milagres acontecem por mérito próprio mas urge que se atribuam ao divino para lhe dar prestígio e aumentar a clientela. «Graças a Deus» – grunhem ministros a piscar o olho aos padres, invertebrados a dar graxa ao patrão, locutores a despedirem-se dos beatos ou para serem ouvidos por patrões comprometidos com o clero.

Um deus que se deixa subornar por orações, que só ouve os gritos de desesperados por intermédio de cadáveres bem vistos no Vaticano, é um deus venal e falso, uma criatura pusilânime e interesseira, um aldrabão de feira e um crápula.

O deus dos padres, que manda a doença para que um bem-aventurado lhe peça a cura, é um biltre que faz chantagem, um corrupto que aguarda a paga, um ser repugnante que usa poder discricionário e se diverte com o sofrimento humano.

4 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Andam créus no Diário Ateísta

Há na última vaga de peregrinos em romagem ao Diário Ateísta uma sanha reforçada, um proselitismo agudo e uma demência mística que não era usual.

Acredito que os confessores os isentaram das orações e que a penitência, após confissão bem feita, se converteu, para expiação dos pecados, em peregrinação ao blog dos ateus.

É uma forma de porem a fé à prova, sem necessidade de genuflexões.

Substituem os pai-nossos e ave-marias com que embrutecem o espírito e desencardem a alma por insultos aos infiéis, ameaças aos blasfemos e profecias sobre o destino dos sacrílegos. São caminhos tão sinuosos como os da fé.

Uma santa alimária já profetizou a morte deste modesto escriba a apelar ao deus dele, enquanto uma rata de sacristia ameaçou golpear-me com os pés todos.

Os directores espirituais, uma espécie de polícias da consciência, conhecem os riscos que correm as ovelhas, capazes de se tresmalharem do redil, mas é um risco que vale a pena. As que resistirem ao Diário Ateísta ficam aptas para a insanidade, o martírio e a violência com que julgam ganhar o Paraíso.

Às vezes parecem sair disparadas da missa com a hóstia mal deglutida, ainda húmidas da aspersão do hissope, cheias de Espírito Santo, em loucas arremetidas contra os ateus.

Que sejam bem-vindas tais ovelhas. Nada temos contra os crentes, apenas combatemos as crenças e os trampolineiros da fé.

3 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Pios avanços na terapêutica do cancro

João Paulo II, aquele papa supersticioso, que acreditava em milagres e na bondade do Opus Dei, está a caminho da beatificação com um feito ocorrido em França.

Segundo a Agência Ecclesia, uma Irmã religiosa, vítima de cancro, obteve a cura sem explicação científica.

Este milagre vem a calhar para a carreira de santidade de JP2 pela qual zelam os meios mais conservadores da ICAR. O milagre foi adjudicado ao cadáver do Papa polaco.

Curiosamente já o santo Escrivá começou a corrida para a santidade com um milagre na mesma especialidade numa freira cuja madre superiora lhe desconhecia a doença. Em vida tinha sido um biltre ao serviço da ditadura de Franco e dos negócios da fé.

JP2 fez numerosos milagres em vida: recusou extraditar o bispo Marcinkus para prestar contas à justiça italiana na falência do Banco Ambrosiano, abafou o escândalo do assassinato do chefe da Guarda pontifícia; ocultou os motivos da morte de João Paulo I que pretendia investigar as contas do IOR (Banco do Vaticano) e que, para castigo, Deus só o deixou ser Papa 33 dias.

Já em vida, convencido de que tinha procuração divina para administrar os negócios de Cristo & Herdeiros, JP2 fazia curas com as mãos. Esses milagres não contam porque só os defuntos podem conviver com Deus. É o tráfico de influências entre cadáveres.

2 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

Dois anos de Diário Ateísta

O aniversário do Diário Ateísta serviu para vómitos de raiva beata bolsados nos mais execráveis antros da blogosfera.

Devotos que gostariam de fazer do crucifixo material de construção ou, no mínimo, substituir com ele o papel de parede, destilaram ódio, insultaram os autores do Diário Ateísta e ameaçaram com agressões físicas.

As santas alimárias não se deram conta de que ressuscitaram o espírito das cruzadas e expuseram o desvelo inquisitorial que lhes vai no íntimo.

Quero crer que tenha sido uma remessa de hóstias estragadas, com o prazo de validade excedido, que lhes avariou o fígado depois de perderem os neurónios com a embriaguez mística.

As autoridades de saúde deviam tomar precauções relativamente à «sagrada espécie», exigir análises bacteriológicas e obrigar à certificação com o código de barras.

Não podemos deixar que os poucos católicos fundamentalistas se envenenem com um placebo que designam como «alimento da alma». Fazem falta à diversidade zoológica.

1 de Dezembro, 2005 Carlos Esperança

E deus criou o mundo

O Diário Ateísta agradece as inúmeras manifestações de solidariedade e felicitações que numerosos amigos lhe fizeram chegar por ocasião do 2.º aniversário.
Aos que nos ameaçam e insultam agradecemos igualmente o ódio cristão com que nos distinguem.