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  • 1 de Abril, 2010
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

A Igreja católica, os milagres e os escândalos

Enquanto sobram as dúvidas sobre a virtude dos seus padres, minguam as certezas sobre a intercessão divina nos milagres dos seus santos.

A pressa em canonizar João Paulo II, um papa que era crente, depara-se agora com a nódoa que atingiu em cheio João XXIII e que persegue Bento XVI – a ocultação dos casos de pedofilia que envolvem os seus padres.

Os milagres obrados para fabricar beatos e santos, cada vez mais medíocres, têm sido um factor de descrédito da Igreja católica e motivo de ridículo que embatuca os crentes e hilaria os incréus. Salva-se o milagre da Alexandrina de Balazar que, segundo afirmou o próprio Papa João Paulo II, passou mais de 13 anos sem ter comido, bebido, defecado ou urinado, alimentando-se apenas de hóstias consagradas e cuja beatificação ainda teve de passar por uma milagre obrado numa conterrânea emigrada em Estrasburgo.

A cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe, foi um milagre que transformou Nuno Álvares Pereira, de herói que era, em colírio, desonra que não mereceria o vencedor de Aljubarrota.

Na semana em que o Vaticano comemora a morte de João Paulo II e já tinha um milagre confirmado para a sua beatificação, tudo correu mal, desde a contestação da posição assumida em vida quanto aos abusos sexuais dos seus padres até à validade do milagre obrado depois de morto. Depois de aprovado o milagre da cura da freira francesa, Marie Simon-Pierre, que sofria da doença de Parkinson, foi posto em causa por um prestigiado jornal que duvidou do diagnóstico e da cura.

Para além da dúvida de ter curado uma freira, depois de morto, de uma doença que não conseguiu evitar a si próprio, em vida, resta a incúria com que lidou com as inúmeras queixas de abusos sexuais que recebeu e de que se desinteressou, deixando a resolução às dioceses.

A quantidade avassaladora de milagres e a catadupa de escândalos vão transformando o Vaticano de referência ética que foi para alguns em espaço mal frequentado reconhecido por quase todos.