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O desaparecimento de Madeleine McCann

O desaparecimento da menina inglesa, no Algarve, deu origem à doentia exploração da comunicação social.

Os telejornais abrem com meia hora sem notícias na demente perseguição do mórbido e na devassa da vida íntima do casal que perdeu a filha. Não há sentido de proporções, a ética foi exonerada e os sentimentos são explorados de forma vil e degradante.

O drama da menina de quatro anos, Madeleine McCann, merece a contenção e pudor que a conquista de audiências não justifica. Claro que o genocídio do Darfur é longe, as vítimas são feias e pobres e a morte por inanição ou lapidação já faz parte do dia-a-dia.

Há dez dias que os virtuosos pais são acompanhados na praia, na piscina e nas devoções pias: orações e missas com homilias preparadas. Em Fátima, os peregrinos esqueceram os pedidos próprios e levaram fotos da criança à Virgem. O massacre informativo é uma desmedida manifestação de mau gosto.

Há nesta febre demente um masoquismo malsão, uma mistura de atrofia mental com a coscuvilhice rural, um sofrimento colectivo que parece uma fuga à realidade quotidiana e às responsabilidades de cada um.

Transformar os pais, que por incúria ou fleuma deixaram sozinhos os três filhos de tenra idade, em modelos é o início de uma nova devassa que transformará em vilões os heróis fabricados pelos noticiários e exaltados pelas convicções religiosas.

A juntar à tragédia da criança e à dor da família vem aí a decepção dos espectadores.