Loading

Vasco Pulido Valente pode não ser católico mas também mente

No dia 25 de Abril p.p. Vasco Pulido Valente (VPV) publicou no Diário de Notícias um ensaio sobre o 25 de Abril de 1974 (site indisponível). Não tem a ver com religião nem com o ateísmo, mas podia ter a ver com a verdade. Porque o ateísmo é a luta pela verdade deixo aqui as considerações que o texto de VPV me mereceram.

Não fora José Saramago o Nobel do nosso contentamento e o nosso mais brilhante romancista do séc. XX, e passariam despercebidas as diatribes de que foi alvo, sobretudo de quem não leu o Ensaio sobre a lucidez.

Não fora o propósito ideológico de esvaziar de conteúdo o acto fundador da democracia portuguesa e a tentativa canhestra de rescrever a história, e a aférese do R passaria sem reparo na tentativa de descaracterizar a Revolução de Abril.

Não fora Abril o mês e 25 o dia e o ensaio de Vasco Pulido Valente, publicado no Diário de Notícias, não mereceria reparo. Em 28 de Setembro ou 25 de Novembro não passaria de uma opinião bem escrita e mal fundamentada, injusta e irónica, destinada a incensar Mário Soares pelo mérito que lhe cabe e pelo bónus que lhe atribui.

Mas, por ser a data que era e a injustiça que foi, senti-me revoltado com as seis páginas de difamação da data maior do século XX e dos seus mais lídimos heróis.

Refutar omissões e inverdades exigiria o espaço do ensaio. Mas não é de um texto de história que se trata, é um libelo acusatório aos protagonistas de Abril, uma vingança para com os que fizeram o que outros não tiveram coragem e se ressentiram de não terem sido eles a fazer o que deviam.

O texto de VPV não foi escrito com o cérebro, foi com o fígado, destila bílis. Não faz história, provoca náusea. É injusto e falso. O preconceito ideológico é nódoa que deixou cair no pano da sua prosa e não há benzina que a desencarda. Há, aliás, uma arrogância intelectual insuportável no desprezo a que vota os militares. É por isso que não promove a discussão, causa vómitos. É um ajuste de contas que não o honra.