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Momento de poesia

Noivas da Morte

Partem rumo às distantes terras da Síria

As Noivas da Morte

Embaladas pelas preces mântricas

Que preenchem as cabeças vazias!

Aspiram a um mundo que não compreendem,

Vidas roubadas a todas as possibilidades

Excepto ao fatalismo ignóbil da doutrinação!

Das visões do profeta sem rosto

Fundamenta-se um deus sem alma

Que se alimenta da barbárie

E mata a sede com a vingança!

Entregam-se, em voluntariado,

As Noivas da Morte,

Inconscientes e inconsequentes

Quais porcos rumo à matança,

Corpos vivos em mentes mortas

Sem resquício ou vestígio de consciência!

No sorriso dos seus jovens rostos,

Promessas de um futuro que soçobra,

Marcar-se-ão as rugas da tirania e da subordinação!

Nos corpos, convertidos em malas de parir,

Marcar-se-ão as cicatrizes da violência e da intolerância,

Legando à geração vindoura

Apenas a indignidade da sua condição!

Por entre linchamentos e decapitações

Floresce o Reino do Terror,

A medieval realidade dos nossos tempos,

Enquanto o xadrez da geopolítica

É jogado pacientemente,

Com imaculadas luvas brancas

Que cobrem as mãos podres!

E nos templos de todas as religiões,

Por entre orações devotas

Exalta-se a bondade de deuses,

Inexplicavelmente ausentes!

Tivesse o deus de Espinosa triunfado

E não haveria Noivas da Morte,

Nem ninguém seria Charlie Hebdo,

E ter-se-iam acondicionado os livros sagrados

No sossego das estantes

E as suas verdades não passariam de estórias, metáforas e alegorias!

As distantes terras da Síria

Não teriam a dor nos seus vales,

Nem o sangue nas suas manhãs!

E toda a coluna vertebral da Humanidade estaria ereta!

Todas as noivas seriam Noivas da Vida!

E Deus?

Rir-se-ia dos Homens, que nele não creem,

E teria, finalmente, motivos

Para orgulhar-se dos seus Filhos!

a) Paulo Ricardo Moreira