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Pio IX, já beato, é um Bin Laden da ICAR

A fúria beatificadora/canonizadora do actual pontificado” é uma indústria respeitável que apenas tem levantado problemas quando são óbvios patifes os “servidores de Deus que inclui no rol. Pio IX é um caso extremo a que não faltarão devotos. Basta ler Eça de Queirós para saber da devoção de que gozava entre as camadas mais reaccionárias.

Pio IX foi o último papa detentor de poder temporal. Mandou fuzilar patriotas garibaldinos, construir em 1850 os muros do gueto de Roma, encorajou os padres a baptizarem em segredo crianças judias retiradas aos pais, condenou a separação da igreja do estado, excomungou os que negavam a soberania temporal dos papas, os liberais, os maçons, os socialistas e os comunistas, enfim, foi um reaccionário violento – mesmo para um papa católico.

É verdade que enriqueceu a igreja com o dogma da sua própria infalibilidade (e dos seus sucessores) e o da virgindade de Maria. Ninguém duvida que o milagre de ter curado, sem intervenção cirúrgica, uma carmelita que fracturara uma rótula, a troco de rezar duas novenas que lhe foram dedicadas, pesou na distinção de que foi alvo.

Mas, o anti-semitismo primário de quem chamava cães aos judeus, deixou marcas culturais que tiveram o seu epílogo no holocausto perpetrado por nazis e fascistas em que pereceram 6 milhões de judeus. É a memória dessa tragédia que torna obsceno o branqueamento que o papa actual pretendeu com tal beatificação.

Convém recordar a encíclica Sillabus errorum onde Pio IX afirmou que a Igreja era “inconciliável com o progresso e a civilização” – palavras proféticas que calaram fundo no coração de João Paulo II.