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Guerras da religião em escalada

Depois do ataque bombista que destruiu a cúpula da mesquita de al-Askari, um dos locais mais sagrados dos shiitas, o Iraque está mergulhado no que ameaça ser uma guerra civil entre shiitas e sunitas.

Também da Nigéria chegam notícias pouco auspiciosas de confrontos religiosos entre muçulmanos e cristãos, que, se não forem controlados, podem evoluir para uma guerra civil.

Como já tinha referido, desde 2000 a Nigéria tem sido palco de violentas confrontações entre muçulmanos e católicos que causaram milhares de mortes e de refugiados. Desde 2001, quando os mais violentos confrontos se verificaram, o norte da Nigéria, em que muitos estado adoptaram a Sharia em 2000 e onde se verifica um programa agressivo para forçar a lei islâmica (wahhabita) a todos os habitantes, tem assistido uma escalada de tensão entre religiões, que culminou no fim de semana passado em manifestações anti-cristãs que causaram a morte a cerca de 50 cristãos, incluindo dois padres, e resultaram na destruição de igrejas, casas e lojas pertencentes a cristãos.

A Associação Cristã da Nigéria (CAN) avisou há uns dias que os cristãos poderiam retaliar do sucedido, tendo o seu dirigente máximo, o arcebispo Peter Akinola, relembrado «Podemos nesta altura recordar aos nossos irmãos muçulmanos que eles não detêm o monopólio da violência nesta nação».

E de facto a violência da retaliação cristã abateu-se sobre os muçulmanos residentes no sul da Nigéria, onde são maioritários os cristãos, nos últimos dias. Multidões de cristãos em fúria assassinaram e queimaram mesquitas um pouco por todo o Sul do país. Na cidade de Onitsha cerca de 80 pessoas foram assassinadas e um bairro muçulmano com cerca de 100 casas foi completamente arrasado.

Nesta cidade, Ifeanyi Ese, um cristão de 34 anos, afirmou sobre os restos do que fora uma mesquita: «Nós não queremos mais estas mesquitas. Estas pessoas têm causado problemas em todo o mundo porque não têm medo de Deus». E escreveu no que restava de uma parede da mesquita «Maomé é um homem mas Jesus é divino».

Como o Diário Ateísta vem há muito escrevendo as guerras da religião, não guerras de civilizações, são a ameaça anacrónica da modernidade. E, como também escrevemos, todos os fundamentalismos são iguais; não há fundamentalismos bons e fundamentalismos maus. A reacção ao fundamentalismo islâmico não pode ser, como muitos advogam, o fundamentalismo cristão. Apenas na laicidade reside a esperança de paz neste mundo conturbado violentamente por guerras de religiões.