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Mais terrorismo cristão

No programa de rádio da organização «Focus on the Family» do passado dia 3 de Agosto, dedicado à discussão da blasfema investigação em células estaminais, James C. Dobson, fundador e presidente da maior organização teocrata americana e uma das mais radicais, comparou a investigação em células estaminais embrionárias com as experiências nazis conduzidas com pacientes vivos, durante e antes do Holocausto. Dobson sugeriu ainda que as experiências nazis também poderiam resultar em descobertas que «beneficiariam a humanidade» quando igualou os defensores da investigação a médicos nazis:

«Sabe, aquilo que significa tanto para mim neste assunto é que as pessoas falam no potencial para o bem que vem da destruição destes pequenos embriões e como poderemos resolver o problema da diabetes juvenil (…) Mas eu tenho de perguntar: Na Segunda Guerra Mundial os nazis fizeram experiências em seres humanos de formas terríveis nos campos de concentração, e eu imagino, se quiser dispender o tempo para ler sobre isso, que poderiam ter ocorrido experiências que beneficiariam a humanidade».

Como é óbvio, as reacções de indignação pública às observações de puro terrorismo psicológico do «piedoso» pastor, ouvidas por cerca de 220 milhões de pessoas no mundo inteiro, não se fizeram esperar. Nomeadamente exigindo um pedido de desculpas público pela enormidade de comparar investigação numa célula, obtida a partir da junção de duas células, com experiências que torturaram e mataram de forma ignóbil incontáveis pessoas! Mais concretamente um pedido de desculpa aos sobreviventes do Holocausto, suas famílias e todos os que sintam ofendidos pela ignóbil comparação. Pedido de desculpas que Dobson se recusou a pronunciar, uma vez que para a «Focus on the Family», como diz a respectiva analista de assuntos éticos, Carrie Gordon Earll:

«A analogia com as experiências Nazis é correcta e apropriada. Se algumas desculpas são devidas, são os advogados da destruição de seres humanos embrionários que as deviam fazer».

Quanto a Dobson, depois de disponível para comentar as inúmeras críticas, tentou menorizar as suas afirmações, dizendo que tinham sido «exageradas pelos ultra-liberais que não se importam com a vida humana». Mas reafirmou os supostos «exageros» quando, embora concedendo que os embriões, ao contrário das vítimas nazis não sentem dor ou sofrimento, concluiu que as macabras experiências nazis e a investigação em células estaminais são «moralmente equivalentes uma à outra»! E continuou atacando especialmente o Senador Bill Frist, o líder da bancada Republicana no Senado, que num volte face inesperado para os teocratas que se consideram atraiçoados, se declarou a favor de um reforço no financiamento federal para a investigação em células estaminais.

Assim Dobson negou-se categoricamente a pedir quaisquer desculpas à comunidade judaica pelas suas afirmações. E Carrie Gordon Earll justificou esta recusa do seu presidente afirmando que a comunidade judaica «deveria ser sensível» às «atrocidades» da investigação.

Para azar dos piedosos cristãos, a religião judaica é a única das religiões do livro completamente a favor deste tipo de investigação. Pelo menos os judeus americanos, já que longe de se oporem, a Union of Orthodox Jewish Congregations of America assegurou o reforço do seu apoio à investigação em células estaminais embrionárias. Aliás uma carta da organização endereçada ao Senado assevera isso mesmo.