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Maria Madalena_1

Madalena

( Crónica a partir da tradição popular, modificada.)

Naquele tempo, em Magdala, na antiga Palestina, uma multidão preparava-se para apedrejar Maria sobre quem recaía a acusação de ser pecadora. Fora um boato posto a correr, talvez por um corcunda da tribo de Manassé, ressentido por se ter visto recusado, que a sujeitara àquele veredicto popular de que não cabia recurso. O princípio do contraditório ainda não tinha sido criado nem era hábito ouvir o acusado, principalmente sendo mulher, nem a absolvição estava enraizada nos hábitos locais. A lapidação de Maria tinha transitado em julgado.

A lapidação era, aliás, um divertimento muito em voga, que deixava excitados os autóctones que habitavam as margens do rio Jordão que atravessava o Lago Tiberíade a caminho do mar Morto. Diga-se, de passagem, que esse desporto ainda hoje é muito popular em numerosos países, para imenso gáudio das multidões, e não faltam adeptos um pouco por toda a parte.
Aconteceu que andando o Senhor Jesus a predicar por aquelas bandas, depois de indagar o que se passava,  aproveitou a multidão para se lhe dirigir,  e disse:
–    Aquele de vós que nunca errou que atire a primeira pedra.

O nazareno tinha créditos firmados com vários milagres e até a cura de um leproso lhe era atribuída entre os galileus. Falava-se mesmo, com rancor entre os fariseus, que teria ressuscitado um morto de nome Lázaro. Vários independentes já lhe tinham manifestado apoio, como sucede sempre que o poder está em vias de mudança.

Todos pareceram hesitar. Muitos deixaram cair as pedras com que se tinham municiado. Havia mesmo alguma crispação nos que vieram de longe, com sacrifício, e um certo desapontamento de todos os que esperavam divertir-se. Só o Senhor Jesus continuava sereno, a medir o alcance das sua palavras. Mas, eis que da multidão se ergueu um braço e Maria de Magdala caiu derrubada por uma pedrada certeira.
Enquanto algumas pessoas a reanimavam, na esperança de repor o espectáculo que tão depressa se esgotara, o Senhor Jesus foi junto do atirador e disse-lhe:

–    Então tu, meu filho, nunca erraste?

–    Senhor, a esta distância, nunca.