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A tortura das mulheres e a fé

A mutilação genital feminina não é apenas uma crueldade inqualificável, é uma mistura de religião e tribalismo, um ato de demência religiosa que vê no prazer da mulher uma fonte de imoralidade.

No cristianismo a sexualidade feminina é uma abominação que Agostinho condenou quando a idade e o múnus o fizeram o casto. No islão é uma ofensa ao profeta, que os mullahs vigiam, e um perigo que as madraças e mesquitas se encarregam de erradicar.

No mundo muçulmano, onde a Idade Média floresce nas teocracias que embrutecem e constrangem socialmente, todas as sevícias e atos de crueldade contra as mulheres são formas de perpetuação do poder clerical e do carácter misógino do Corão.

Nos países cristãos a mesma demência, contida pela secularização, é uma herança da cultura judaico-cristã, a obsessão do clero e o desatino retrógrado dos dignitários.

Nos EUA o presidente Bush, em demência homofóbica, quis a revisão da Constituição para que os casamentos homossexuais fossem interditos.

No Vaticano, ínica teocracia europeia, o ditador resignatário ordenou aos sicários que lhe serviam de correia de transmissão, que defendessem a ortodoxia, que se opusessem à emancipação da mulher e lhe reprimissem a sexualidade, numa cruzada pela castidade e por aquilo que designava de bons costumes.

A ICAR levou o preconceito e a chantagem a qualquer lugar onde os direitos humanos fossem interpretados de igual forma para ambos os sexos. Nem o passado obsceno que guardam os muros do Vaticano morigeram os Papas.

O atual, conformado com a modernidade, pretendeu resgatar um passado que pode servir de mortalha à Igreja que dirige. Tem contra ele a máquina do Santo Ofício e o peso das mitras e sotainas, e já mudou alguma coisa para que sobreviva a Igreja e ele próprio. Mas falta mudar muito.