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  • 12 de Agosto, 2013
  • Por Carlos Esperança
  • Vaticano

O Vaticano, a fé e a liberdade

Já o disse muitas vezes e não me cansarei de o repetir: «não há verdades absolutas». O que eu escrevo é a expressão do que penso e sinto sem me faltar o entusiasmo e a força da convicção, certo de que os meus adversários podem ter convicções igualmente fortes, de sinal contrário.

Dito o que acima fica reafirmado, reconheço que para um católico beato todos os papas sejam santos e para os ateus não passem, em qualquer circunstância, de gestores de uma multinacional da fé, responsável pela superstição, ignorância e aversão à modernidade.

Creio, no entanto, que é possível encontrar um módico de racionalidade nas críticas e substituir a calúnia pela argumentação.

O Papa Bento XVI redigiu a última encíclica Lumen Fidei (A luz da fé) com a chancela do seu sucessor porque abdicou do alvará da infalibilidade e da legitimidade de lançar encíclicas. É com surpresa que vejo este papa a aprovar o pensamento do antecessor, já que o Vaticano pareceu querer mudar de paradigma ao substituir dois pontificados sob os auspícios do Opus Dei pelo pontificado de um jesuíta.

Bento XVI foi herdeiro espiritual de Santo Agostinho e S. Boaventura. Não houve nele qualquer aproximação à modernidade, esforço para entender as mudanças a que na sua longa vida assistiu, apesar de ser um intelectual brilhante, mas reacionário.

Não podemos menosprezar o papel das Igrejas, diretamente proporcional ao poder de que dispõem e que tanto pode ser usado num sentido benéfico como posto ao serviço das forças mais retrógradas. A experiência histórica mostra que as Igrejas, instituições arcaicas, têm tendências conservadoras e repressivas e particular aversão à felicidade.

Não é por acaso que o progresso é acompanhado pela secularização e a emancipação humana pelo afastamento progressivo da moral religiosa. Fez mais pelo progresso da Humanidade a busca do prazer do que a insistência na salvação da alma.

Entre o efémero bem-estar na Terra e a felicidade eterna no Paraíso cada vez mais o bom-senso vai optando pelo primeiro.