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Mês: Maio 2013

8 de Maio, 2013 Carlos Esperança

Espanha – Frades e freiras em vias de extinção

Numa década, caiu para metade o número de pessoas que vivem em instituições religiosas coletivas em Espanha: conventos, seminários, mosteiros, abadias e estabelecimentos similares.

Em 2001 foram 41.137 e em 2011 18.487 habitantes, segundo o Censo da População e Habitação elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Quase todos aqueles que vivem nessas instituições são mulheres (82,4%) e idosos (39,9% em 2011 tinham entre 65 e 84 anos).

6 de Maio, 2013 Carlos Esperança

Giulio Andreotti faleceu ao 94 anos

Giulio Andreotti, sete vezes primeiro-ministro da Itália, morreu nesta segunda-feira, aos 94 anos.

Foi um dos líderes de Democracia Cristã (DC), o partido que dominou a política italiana por quase 50 anos até aos anos 1990, quando o processo Mãos Limpas expôs as ligações entre política e máfia e provocou a implosão do sistema partidário. Dentro da DC, representava a ala mais conservadora e religiosa.

O próprio Andreotti foi acusado de assassínio e envolvimento com a máfia: de algumas acusações foi considerado inocente, mas os juízes de Palermo consideram que a cooperação com a Cosa Nostra (máfia siciliana) ficou provada, só que os crimes tinham entretanto prescrito.

Diário de uns Ateus – Apresentamos condolências à ICAR, à Máfia e à família de sangue do mais destacado político, mafioso e crente.

6 de Maio, 2013 José Moreira

Democracia e laicidade

Quando convém, a nossa comunicação social, em geral, e os nossos políticos em particular, enchem a boca de democracia e laicidade. E são capazes de jurar a pés juntos e com um prego aceso na mão que Portugal é um estado democrático e perfeitamente laico, não tendo o menor pejo em invocar a Constituição como a principal e melhor testemunha.

Entendamo-nos. É tudo uma questão de rigor linguístico – ou de falta dele. Porque omitem uma palavra que, apesar de pequena, faz toda a diferença. É um singelo advérbio e modo que dá pelo nome de formalmente. Exacto. Portugal é um país formalmente democrático, e formalmente laico.

Em Portugal, a justiça é igual para todos, ninguém está acima da Lei, a saúde é tendencialmente gratuita  e a educação é mesmo gratuita, toda a gente tem direito ao trabalho. Formalmente falando, claro.

Em Portugal, a religião está separada do Estado. Formalmente. Porque a prática diz-nos, precisamente, o contrário. A TV do Estado, de todos nós, encheu-nos o Domingo com as Festas de Barcelos, o que até nem seria grave, se não fizessem o patético esforço de tentar justificar a origem das festas, enchendo o tempo com estórias cuja veracidade está a anos-luz da razão. Mas isso ainda é o menos; porque ao fim da tarde, a dita “primeira-dama”, esposa de um presidente de uma república dita laica, aparece no meio de uma procissão religiosa cuja única finalidade visível é a de aproveitar o sol para tirar o cheiro a mofo do mamarracho, e tentar aliviar-lhe o caruncho. E tivemos de gramar largos minutos, como se o folclore tivesse alguma importância para o momento que o país atravessa.

Tudo isto, afinal, a propósito do nome do futuro hospital de Lisboa. Que, num país laico, vai chamar-se “Hospital de Todos-os-Santos”. Mas o que é que têm os santos a ver com os hospitais de um estado que se diz laico? Já agora: vale uma aposta em como vai levar benzedura?

Portugal, país laico e democrático? A língua portuguesa é mesmo muito traiçoeira…

6 de Maio, 2013 Carlos Esperança

D. Maria Cavaco, a procissão e o milagre

A D. Maria Cavaco Silva acompanhou ontem a procissão da «Nossa Senhora da Saúde», em Lisboa, o que faz – segundo disse – desde 2006.

É fácil descobrir pela data que vai agradecer o milagre da eleição do marido para PR.

5 de Maio, 2013 Carlos Esperança

A Interrupção Voluntária da Gravidez e a violência do preconceito

A legalização não se destina a aprovar a IVG, pretende apenas descriminalizar o ato. A legislação permissiva não incentiva ou promove o recurso à IVG, apenas modifica a lei, a fim de evitar que mulheres sejam empurradas para a clandestinidade do vão de escada, com risco da própria vida e de perseguições policiais.

Ninguém encara levianamente um problema cujas repercussões físicas, e psicológicas são especialmente gravosas para quem vive o desespero de uma gravidez indesejada ou impossível.

São quase sempre mulheres pobres que se sujeitam ao vexame de exames ginecológicos impostos, que veem a sua vida íntima devassada, que suportam a desonra do julgamento e conhecem as agruras do cárcere. As ricas resolvem o problema e os pruridos éticos no intervalo das compras em cidades cosmopolitas.

Em S. Salvador uma mulher encontra-se grávida de um feto anencéfalo e a alternativa joga-se entre a morte de mãe e feto ou 50 anos de cárcere para a mãe.

O que está em causa não é a posição ética sobre a interrupção voluntária da gravidez, é saber quem renuncia, ou não, à perseguição das mulheres, quem quer vê-las na cadeia, quem pretende juntar ao trauma da IVG a punição da enxovia.

Em Portugal também a IVG era proibida na ditadura. Já em democracia, ainda o PSD e o CDS, em maioria, votaram contra, em casos de risco de vida para a mãe, malformação do feto e violação. Salvaram a honra do PSD Jaime Ramos, Helena Roseta e Natália Correia, de quem me recordo, e poucos mais. O CDS foi igual a si mesmo. Implacável.

O divórcio era proibido há trinta anos, Camilo esteve preso por adultério e, no entanto, as sociedades modernas souberam distinguir o crime do pecado, o direito canónico do Código Penal e separar as convicções pessoais do ordenamento jurídico.

Defender o direito à IVG é defender a saúde da mulher. Para que o aborto clandestino deixe de ser a chaga atual em países dominados pelo clericalismo. Para que se resolva um problema que aflige milhares de mulheres. Para que as pobres não sejam ainda mais infelizes. Para que nenhuma mulher seja presa pela incúria dos que se abstêm.

Para não sentirmos vergonha ao sabermos que uma jovem mulher salvadorenha está em risco de vida ou sob ameaça de 50 anos de prisão.

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