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O Diário de uns Ateus e os crentes assanhados

Andam por aqui alguns crentes à espera da penitência pelos pecados cometidos. Vêm, ansiosos, para agradarem ao seu deus. Não sei se é o desejo de mortificação que os atrai, se a inútil vontade de nos converter. Podiam ser mais originais no que escrevem, mas limitam-se a se subservientes para com os Papas e a debitar louvores a um defunto mais antigo – Jesus Cristo. Depois, repetem até à náusea a prosa e a convicção.

Os créus têm as igrejas, os órgãos de comunicação social, a Concordata, os padres, a água benta, o incenso, as orações e a eucaristia para ruminarem a fé numa posição de privilégio. Todavia arribam a este espaço de incréus onde não se apela ao terço, não se recomendam orações, não se reconhecem milagres nem a bondade do Papa.

Aqui é um espaço de liberdade onde a Declaração Universal dos Direitos do Homem é a Bíblia que nos une, onde a igualdade dos sexos e a não discriminação por questões de raça, religião ou cor são o único credo. Aqui, no Diário de uns Ateus, consideramos que não há a mais leve suspeita da existência de Deus nem qualquer razão para pôr pessoas de joelhos e aliená-las com orações. Não reconhecemos à água benta mais valor do que à outra, nem à hóstia, depois de consagrada, mais calorias do que antes.

Os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que a Revolução Francesa nos legou, são incompatíveis com o direito divino e com as ameaças e castigos com que os seus padres atemorizam. O Inferno somos nós que o fazemos, aliás, sois vós, os crentes. O Vosso Senhor, que se zanga com os homens que procuram a felicidade, que tem uma multidão de clérigos a administrar uma treta a que chamam sacramentos, que aliena as pessoas com ladainhas e orações, é uma ficção perigosa de raiz totalitária.

O Vosso Senhor, o deus que as religiões vendem, com atributos pouco recomendáveis e mau feitio, é uma invenção muito antiga, adaptada ao longo dos séculos e imposta com a barbaridade de que só os clérigos são capazes.

Nós sabemos que Deus vos ama. Não deixem que vos troque por nós, ateus, que apenas queremos que nos deixe em paz.