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  • 24 de Dezembro, 2012
  • Por Carlos Esperança
  • Ateísmo

A LEI FÍSICA DO DEUS DE ABRAÃO

Por

DAVID FERREIRA

À medida que o universo se expande continuamente após a grande explosão inicial, o Deus de Abraão vai sendo empurrado para além da sua fronteira, despersonalizando-se à velocidade da luz, até não ser mais que uma ideia.

Tal como o universo, quando a libido da curiosidade do homem se tornou demasiado densa e compacta para ser contida nessa pequena bolha constritora e opressiva da crença e da superstição, explodiu com o fulgor de uma supernova, algo ignoto até então, e abriu-se em flor irradiando um clarão tão forte que cegou demónios e desasou anjos, desintegrou medos e mortalizou anseios de imortalidade. Então, lentamente, como um ofídio que rasga a casca do ovo ansiando lamber um ar mais fresco, a vontade de conhecer intrínseca e ancestral rompeu grilhões, desvirginou lascivamente a inanidade do pensamento e fez-se dilatar naturalmente ao sabor da liberdade.

Mas a crença e a superstição já tinham gerado o mito, um desmesurado sonho narcísico projectado no interior espelhado das pálpebras dos seus criadores, que o tinham alimentado em demasia até à obesidade mórbida, sempre faminta. E esse mito, demasiado pesado para se expandir, permanece ainda hoje enclausurado no mesmo local insignificante e remoto onde nasceu e floresceu, agora uma miragem falaz descarnada pelo Sol abrasador e psicadélico do deserto, retraindo-se proporcionalmente à medida que o seu âmago imaterial se afasta, até à implosão.

Ou até não ser mais que uma ideia.