Loading

Mês: Fevereiro 2011

5 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

Como se fabricam santos

Quando João Paulo II for declarado “beato”, em 1º de maio, esse evento representará a mais rápida beatificação dos tempos modernos, superando por pouco Madre Teresa. Ambos, é claro, foram celebridades globais, cujas mortes movimentaram campanhas populares para canonização imediata e permanecem os únicos dois casos recentes em que o período normal de espera para iniciar uma causa foi dispensado.

Continue a ler…

4 de Fevereiro, 2011 Eduardo Patriota

Justiça permite aborto de feto anencéfalo em SP

Uma vitória do bom senso!

Um casal conseguiu na Justiça, nesta terça-feira (1), liminar que permite o aborto de feto anencéfalo, com cerca de seis meses da gestação. O pedido foi feito pela Defensoria Pública de São Paulo, em São José do Rio Preto (438 km de SP).

Não faz sentido algum, sob a ótica jurídica ou mesmo médica, prolongar uma gestação em que inexiste a possibilidade de sobrevida do feto“, afirmam os defensores Júlio Cesar Tanone e Rafael Bessa Yamamura, na ação.

A Defensoria argumenta que a avaliação médica foi de que não havia possibilidade de tratamento para a má formação do feto e que a continuidade da gravidez poderia trazer riscos físicos e psicológicos à mulher.

4 de Fevereiro, 2011 Eduardo Patriota

Jovem punida por tribunal religioso morre após 80 chibatadas

A religião continua nos mostrando exemplos de humanidade, compaixão, justiça e respeito à vida.

Uma adolescente de 14 anos morreu após ter recebido 80 chibatadas em Bangladesh, como punição por ter tido um relacionamento com um primo que era casado. Hena Begum foi acusada de ter mantido uma relação sexual com seu primo de 40 anos de idade, que era casado. Ele também foi condenado a receber cem chibatadas, mas conseguiu fugir.

O ocorrido foi o seguinte. Ao ouvir gritos de socorro de Hena, moradores locais chegaram a acudir a adolescente. Os jornais bengalis informaram que em vez de tomar uma ação contra o autor do suposto estupro, os religiosos trancaram a jovem dentro de um quarto. No dia seguinte, o mesmo imã e representantes do Comitê da Sharia, o código de leis muçulmanas, acusaram Hena de ter cometido atos de ”sexualidade imoral” fora do casamento.

Na quarta-feira, um grupo de moradores de Shariatpur foi às ruas em protesto contra a fatwa e contra os autores da sentença. ”Que tipo de justiça é essa? Minha filha foi espancada em nome da justiça. Se tivesse sido em um tribunal de verdade, minha filha jamais teria morrido”, afirmou Dorbesh Khan, o pai da adolescente.

4 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

O negócio dos milagres

Qualquer empresa que não inove, está condenada a desaparecer mas a ICAR consegue sobreviver com as velhas superstições e pequenos acertos na coreografia das missas.

Perdeu o negócio das indulgências e o das bulas que despenalizavam o pecado de comer carne às sextas-feiras. O Purgatório, a mais rentável invenção, começou a criar dúvidas. Lá se foi o hábito de trinta missas por cada defunto, acrescidas com as dos aniversários. Foi um rude golpe para os honorários eclesiásticos.

Sobraram os milagres, em que a Igreja católica era comedida, para que a clientela não desconfiasse da fartura e deixasse de os levar a sério, mas a cupidez dos dois últimos Papas relançou os prodígios em doses industriais para deixar estupefactos os crentes mais simples e divertidos os mais elaborados.

Em Portugal, a cura da D. Emília de Jesus foi obra de três médicos de Leiria, pai, mãe e filha, conhecidos pela devoção aos pastorinhos e a ligação a Fátima.

O milagre de D. Nuno foi uma vergonha para o guerreiro e um espanto para as pessoas sensatas. O olho esquerdo da D. Guilhermina valeu o milagre pífio que fabricou o santo duvidoso.

Com estes truques não vão longe.

3 de Fevereiro, 2011 Ricardo Alves

Espectáculo papal sim, ajuda ao terceiro mundo não

O governo liberal-conservador de David Cameron, soube-se agora, não teve escrúpulos em desviar quase dois milhões de libras, previstos para ajuda ao terceiro mundo, para financiar… a visita do sr. Ratzinger.

A notícia está a causar escândalo no Reino Unido, onde a pompa e excesso da visita do papa, em Setembro passado, é escrutinada com rigor. Sabe-se já que custou, no total, cerca de dez milhões de libras.

Entretanto, não sabemos qual foi o custo da visita do mesmo senhor a Portugal, em Maio. Provavelmente, foi muito superior.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

2 de Fevereiro, 2011 Carlos Esperança

Egipto – Barril de pólvora e petróleo à mistura

Assegurada a neutralidade do exército, a dimensão e o alvoroço das manifestações têm aumentado no Cairo e em Alexandria para exigir a demissão de Mubarak.

Quem pode ficar triste com o fim de uma ditadura corrupta e repressiva de trinta anos? Só a clique que detinha o poder e dele beneficiava, incluindo os militares que, agora, perante a força das manifestações populares, se declaram neutros depois de terem sido o sustentáculo do regime.

Depois da Tunísia, a legítima insurreição popular alastra pelo Magrebe e propaga-se ao Médio Oriente. Parece uma lufada de ar fresco a limpar as páginas bafientas do Corão e a remeter a fé para as mesquitas, mas as coisas nunca são assim tão simples.

A agitação nos países islâmicos está longe de trazer consigo a Reforma, de ser o início de uma breve Guerra dos Trinta Anos com a paz de Vestefália ao dobrar da esquina. Os defensores da ortodoxia religiosa nunca se submeteram pacificamente nem deixaram de tentar recuperar o anterior estatuto depois de qualquer derrota.

Recordo-me bem da simpatia com que assisti ao derrube do Xá no Irão e partilhei com o povo persa a alegria da chegada do aiatola Khomeini em 1979. Só e 1 de Maio de 1974 tinha sentido uma euforia assim, em Lisboa, e, nem por momentos, pensei que a religião pudesse transformar o alvor de uma democracia no cemitério de todas as liberdades.

Espero que a luta das ruas não converta o Egipto na coutada da Irmandade Muçulmana, que Baradai se não transforme no seu instrumento, que a juventude não troque as ruas pelas mesquitas. “Queremos derrubar o regime” e “Mubarak, o funeral é em Telavive” são slogans que coexistem na euforia das manifestações. Apesar das tropelias sionistas não fazem falta incendiários anti-semitas nem devotos que sobrelotem as mesquitas e abram madraças onde se apela ao ódio e à xenofobia.

O destino do proselitismo joga-se no Egipto. A promessa de eleições em Setembro é a patética expectativa de Mubarak convencido de que uma promessa pára uma revolução em movimento.