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IRÃO: tempos de mudança?

Por

E – Pá

As manifestações dos últimos dias em Teerão, no seguimento da morte do ayatollah Montazerí, trouxeram à rua, no passado domingo, milhares de manifestantes.

Na verdade, as motivações destes protestos entroncam-se nas últimas eleições presidenciais, que conduziram, sob a interferência discricionária do líder supremo, à reeleição de Mohammoud Ahmadinejad. Na altura, em Junho, os apoiantes do candidato reformista Mirhossein Mousavi, contestaram os resultados e manifestaram-se expressivamente em várias cidades do Irão.

O ayatollah Montazerí, tornou-se um dissidente da teocracia xiita que, a partir de Qom, governa o Irão. Esta visível dissidência mostrou ao povo iraniano, e ao Mundo, que as fracturas no interior da clique religiosa que detêm o poder, organizada pelo “pai da revolução”, ayatollah Komennei, são profundas e, obrigatoriamente, conduzirão a mudanças.

A inevitabilidade destas mudanças reflectem um paradigma que se evidencia nas poucas imagens e nos telegráficos e truncados relatos das agências noticiosas – sobre os quais se abateu uma implacável censura e um black-out na comunicação com o exterior – onde, se observam, que os apoiantes de Mousavi, são na maioria jovens – homens e mulheres.

Estes jovens são um incontornável fermento de mudança que a oligarquia religiosa de Qom não conseguirá travar. E, o mais relevante, é exactamente a significativa participação de mulheres, num Estado teocrático islâmico, onde o estatuto de cidadãs tem sido, oficialmente, negado.
Este facto, só por si, é um forte indício de que, no seio da sociedade iraniana, se levantam ventos de mudança.

O “mundo democrático”, nomeadamente a UE, deve estabelecer pontes com os vários movimentos oposicionistas e reformistas que se movem conjuntamente para por termo a esta anacrónica teocracia e, vislumbram desenvolvimento de uma cultura democrática, no seio de uma sociedade islâmica, o que parecendo paradoxal poderá não ser.

O Mundo move-se. E muda.