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Os homens naturalmente nascem solteiros

A iniciativa legislativa no sentido de facilitar o divórcio provocou um enorme alarido nos paços episcopais e uma grande agitação nas sacristias.

Das sotainas assomam rostos coléricos e ouvem-se, por entre o ranger de dentes, ameaças ao poder. Estremecem as mitras, agitam-se os báculos e os beatos temem beijar o anelão de ametista, receosos de quer a ira episcopal dê lugar a um gesto desabrido que lhes rasgue os beiços, durante o ósculo.

Ora, a lei que se adivinha não torna a separação obrigatória, só se divorcia quem quer e, sobretudo, quem já não aguenta o matrimónio e é curioso que sejam mais tolerantes os casados do que os que o múnus condena ao celibato.

O homem naturalmente nasce solteiro e o matrimónio é o primeiro passo e condição sine qua non para o divórcio. Para evitar este, deve actuar-se a montante e dificultar aquele. É o facilitismo do casamento que o torna precário, a leviandade com que se juntam os trapos e as contas bancárias que leva à breve separação dos copos de dentes e dos pijamas.

Os senhores bispos podem manifestar azedume e vociferar contra as leis da família, sendo certo que lhes mingua a experiência e a autoridade se reduz aos católicos.

A única possibilidade de acautelar divórcios é evitar os casamentos. Os efeitos combatem-se eliminando as causas, a profilaxia faz-se na origem.