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A oração é a A-1 para o Céu

«A oração não é um acessório ou algo de optativo, mas uma questão de vida ou de morte. Só quem reza, quem se confia a Deus com amor filial, pode entrar na vida eterna, que é o próprio Deus», referiu Bento XVI na oração dominical do Angelus.

O Sapatinhos Vermelhos bale metáforas, como a pitonisa de Delfos. Veio da Sagrada Congregação da Fé (ex-Santo Ofício) para a direcção da ICAR, montado no Opus Dei e com o boato posto a correr de que tinha sido por inspiração do Espírito Santo, a pomba estúpida homónima de banqueiros portugueses.

Dizer que a oração é uma questão de vida ou de morte é equipará-la a um medicamento, quando é placebo, e pensar que em doses terapêuticas pode curar e, em excesso, matar.

«A oração não é um acessório». Claro que não. Doutro modo seria usada nos bordéis sadomasoquistas e como cilício nas casas pouco recomendáveis do Opus Dei onde se usam pios acessórios.

Mas a mais idiota das afirmações é dizer que a «oração é o caminho» para a vida eterna. Imaginemos que uma beata adormece no pai-nosso e vai ter ao Purgatório, que um devoto tartamudeia a salve-rainha e se perde do Paraíso, que um bem-aventurado rumina o credo e se mete por um beco em vez da auto-estrada que, segundo B16, entra no próprio Deus, sem portagem. É o caos nos transportes celestes, uma viagem no deserto sem bússola nem GPS.

Se, quem reza, pode entrar no próprio Deus – como diz o Papa -, Deus não é o criador com que engana a clientela, é uma estação de serviço onde se chega pelos caminhos da oração, um nó rodoviário onde vão ter os ociosos que passam a vida a rezar, o centro viário dos pobres de espírito que olham para os vestidinhos do Papa sem se rirem e ouvem-no dizer asneiras com o ar bobino de quem espera um bilhete para a eternidade.

Afinal, o Céu não é um destino, é um autódromo onde as almas fazem ralis com o motor alimentado a ave-marias, salve-rainhas, credos, padres-nossos, terços, novenas e missas, almas adaptadas a combustíveis mistos e pias tolices, sendo o Angelus indicado para as almas-turbo.