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Madrassas cristãs

A sinopse do filme Jesus Camp, de que este vídeo é apenas um trailer, indica que «Um número crescente de cristãos evangélicos acredita que está a decorrer um renascimento da América em que a juventude cristã tem de assumir a liferança do movimento conservador cristão. O filme Jesus Camp segue Levi, Rachael, Tory e mais algumas crianças no campo de verão Kids on Fire em Devil’s Lake, North Dakota, dirigido por Becky Fischer, em que crianças tão novas como miúdos de 6 anos são ensinados a tornarem-se dedicados soldados cristãos do exército de deus.

O filme segue as crianças no campo à medida que estas aperfeiçoam os seus dotes proféticos e são ensinadas em como retomar a América para Cristo. O filme dá uma visão inédita sobre o intensivo campo de treino que recruta crianças cristãs renascidas para tomarem um papel activo no futuro político dos Estados Unidos».

O filme foi visualizado por David Byrne, que partilha no seu blog as impressões sobre o mesmo. Basicamente conta que no campo cristão as crianças são ensinadas que a evolução é uma mentira «irracional» vendida por malvados ateus humanistas seculares; que a prática do aborto tem de ser parada de qualquer forma; que os cristãos têm de formar um exército para derrotar as influências ateístas; que os cristãos têm de se unir para garantir que os juizes e políticos apropriados, isto é, fundamentalistas, sejam escolhidos e finalmente que o aquecimento global é uma mentira. Basicamente as crianças são ensinadas a desconfiar de tudo o que os malvados e ateus cientistas dizem, o que não está longe da última homilia de Ratzinger

Fischer diz ainda às crianças que devem estar dispostas a morrer por Cristo e estas concordam obedientemente. Byrne, que indica ter Fischer usado o termo mártir, consegue imaginar as crianças assim doutrinadas a transformarem-se em bombistas suicidas em tudo análogos aos correspondentes fundamentalistas islâmicos.

O trailer é arrepiante e permite de per se partilhar as preocupações de Byrne: que estes fundamentalistas cristãos, muito bem organizados, querem transformar os Estados Unidos no equivalente do Irão ou Arábia Saudita (onde consideram a proibição de mulheres em Meca, nomeadamente perto da Kaaba).

Por outro lado o filme deixa-me a dúvida sobre até quando conseguirão estas crianças aceitar o mundo real antes de recorrerem à violência? Depois de uma lavagem cerebral tão completa, estas crianças ficam com uma visão do mundo completamente deturpada, veêm-se como legítimos soldados de Cristo, numa guerra justa contra os ateus, os abominados humanistas seculares e os pecadores em geral.

Podem ouvir aqui a jornalista Michelle Goldberg, que investigou estes grupos dominionistas – os fanáticos nacionalistas cristãos – e descreveu o que encontrou no livro Kingdom Coming: The Rise of Christian Nationalism. O livro, que descreve como estes fundamentalistas cristãos, cada vez em maior número, acreditam que a Bíblia é literalmente verdadeira – já que é a «palavra» de Deus e querem impor leis baseadas na Bíblia, isto é, querem que os Estados Unidos sejam uma teocracia governada por essa verdade, é aterrador.

Quer o livro quer o filme mostram bem que não há grande diferença entre os fundamentalistas cristãos e os fundamentalistas islâmicos…