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O Céu ao alcance da classe média

O negócio das indulgências é uma velha actividade da Igreja católica que, a troco do vil metal, assegura transportes directos para o Paraíso.

As orações, constando do cardápio, nunca tiveram grande cotação no mercado da salvação da alma. Valor seguro para convencer Deus, por intermédio dos seus agentes, era o dinheirinho.

Na década de cinquenta do século passado bastavam quinze tostões anuais para integrar a ASSOCIAÇÃO DE NOSSA SENHORA DE ÁFRICA (colectividade e patrona hoje extintas). Era-se benfeitor por cinco escudos anuais enquanto um benemérito tinha de ofertar vinte.

Os crentes mais cautos desembolsavam 30$00, de uma só vez, para ficarem remidos e mais 100$00 se quisessem assegurar instalações celestiais para o resto da família, com direito a «Diploma de Remissão» para mostrar a Deus em caso de dúvida.

A referida Associação fora criada «para a conversão dos pretos», pio desígnio aprovado por Bento 15 e pelos Prelados Portugueses.

Aos clientes que esportulavam as importâncias referidas, era assegurada a «Remissão inteira dos pecados à hora da morte» – uma apólice para a felicidade eterna que permitia um número ilimitado de pecados, em quantidade e qualidade.

A ICAR tinha alvará para emitir apólices vitalícias de valor ilimitado para os danos que o pecador provocasse à alma.

Bastava a módica quantia de 30$00, de uma só vez, ou prestações suaves de 15 tostões anuais ao longo da vida. Se quisesse levar a família toda tinha que arrostar com mais 100 escudos, a pronto.

O Céu não tem preço mas custa dinheiro.