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Fátima – a feira dos embustes

10 de Maio de 2006  |  Escrito por Carlos Esperança  |  Publicado em Não categorizado  |  Comentar

Faltam três dias para a feira anual. O santuário vai ficar juncado de lágrimas e de preces.

Na caixa das esmolas caem cordões de oiro que estiveram durante várias gerações da mesma família. Ficam as arrecadas que a avó usou para pagar a promessa da cura do filho que dez dias de penicilina ajudaram. Fica o anel do defunto marido para que seja mais breve a passagem pelo Purgatório. Ficam os euros que eram para o peixe ou para trocar o vestido que o tempo e o uso consumiram.

Pelas estradas vão bandos de peregrinos carregados de fé e de cansaço, roucos de cânticos e de rosários gritados para que Deus, na sua infinita surdez, possa ouvir os mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos que são dirigidos à defunta mãezinha de Jesus, seu filho.

Crêem os devotos que a maratona é um complemento das orações, que Deus aprecia o exercício físico e as bolhas nos pés, que as chagas comovem o divino preceptor da humanidade. Esforçam-se por chegar ao lugar onde o Sol andou às cambalhotas e a Virgem poisou nas azinheiras sem encontrar um pastor faminto de amor que a demovesse da obsessão do terço e da conversão da Rússia.

Pelas estradas e caminhos poeirentos vêem-se peregrinos que a fé empurra. Nunca se encontra um bispo a fazer a profilaxia do enfarte ou um simples cónego a acompanhar a clientela e a partilhar o sacrifício. Para tão grandes canseiras é preciso acreditar na existência de Deus, coisa que os prelados moderadamente admitem.

O ritual é copiado dos anos anteriores, a liturgia é repetitiva e o espectáculo, com entradas gratuitas, é preparado para que as televisões ampliem o efeito das emoções colectivas.

Fátima é o altar da fé e o palco da pantomina. No dia 13, bispos, algum cardeal, monsenhores e párocos lá estarão a gozar o espectáculo confrangedor de peregrinos a viajar de joelhos à volta da capela, em périplos de sofrimento e oração.

Deus vai ficar muito contente com as esmolas que lhe deixam, com as orações e o ror de pedidos que lhe fazem.

Não estão previstos milagres. A comunicação social vai estar presente.

 

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