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Irmã Lúcia

Quando a 11 de Fevereiro de 2005 faleceu Lúcia, a mais antiga sequestrada do mundo, condenada a clausura perpétua, acabou-se o sofrimento e a solidão a que a condenaram.

Não foi a única a quem, no primeiro quartel do século XX, a fome, instrução rudimentar e fanatismo religioso deram volta à cabeça e a levaram a ter visões. Os mais agressivos acabaram no Sobral Cid e no Hospital do Lorvão, duas unidades criadas para os doentes psiquiátricos da zona centro do país.

Quando os pacientes eram dóceis e crentes e os delírios apenas mostravam o Inferno e as almas que o habitavam, particularmente o administrador de concelho de Ourém, que desprezava a missa e os sacramentos, eram destinados à vida monástica.

Lúcia teve o azar de não encontrar um médico e tropeçar nos padres; de não precisar de calmantes e bastar-lhe o terço como redutor da ansiedade; de lhe recusarem os pingos e internarem-na. Assim, passou a vida, mortificada pela fé, a jogar às adivinhas com o fim da guerra, o mau feitio do divino e o tiro na batina de um Papa vindouro.

Pobre mulher que sofreu cárcere privado sem que uma assistente social lhe valesse, sem que um juiz indagasse da situação a que a submeteram, sem que alguém lhe aliviasse as dores do corpo e lhe curasse a tristeza da alma.

Se Deus existisse não seria tão cruel que submetesse uma pastora, habituada às cabras e às mentiras para divertir os primos, a tão cruel calvário. O rapto, sequestro e lavagem ao cérebro a que foi submetida a pobre criança é um crime sem perdão, uma crueldade de que só o clero é capaz.

Nota: A última linha foi modificada.