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Tudo bons rapazes

Jack Abramoff e os seus comparsas teocratas expressam a sua «perspectiva bíblica» ludibriando tribos índias e subornando legisladores. De facto, os caminhos do «Senhor» são misteriosos.

Os teocratas que fomentam (ou inventam) as «guerras culturais» nos Estados Unidos tinham em devotos republicanos como Tom DeLay os seus grandes aliados. A insistência do antigo líder republicano no Congresso numa «perspectiva bíblica» da política já que «Apenas o cristianismo permite uma forma de perceber as fronteiras morais e físicas» do «sentido da vida» e «apenas o cristianismo fornece uma forma de viver em resposta às realidades que vivemos neste mundo» tinha perdido um pouco de credibilidade com o caso envolvendo financiamento ilegal da campanha republicana de 2002.

Como o perdão pelos «pecados» de pobres humanos (se crentes, claro) e a notória tendência para minimizar o que de mal fazem outros membros do «rebanho» é uma característica indissociável dos cristãos, DeLay tencionava retomar o seu anterior lugar de «chefe» das hostes teocratas republicanas no Senado.

Mas o grande defensor de óvulos e espermatozóides, conhecido por «O Martelo» entre os autodenominados pró-vida, foi obrigado a desistir da sua intenção devido ao escândalo que abala os Estados Unidos neste momento, uma teia de corrupção e extorsão conhecida como o caso Jack Abramoff e que envolve para além de DeLay (e família) uma série de devotos republicanos e destacados membros da Coligação Cristã, especialmente o seu primeiro director-executivo, Ralph Reed. As dimensões do caso são tais que até a Casa Branca se prepara para possíveis repercussões deste…

Especialmente chocantes são uma série de mensagens electrónicas trocadas entre estes bons rapazes, de cariz marcadamente racista, em que estes se referiam aos nativos americanos que ludibriavam em milhões de dólares como «macacos», «trogloditas» e «idiotas».

Acho igualmente signiticativas as notícias vindas recentemente a lume que mostram como o estridente defensor de óvulos e espermatozóides parou o processo legislativo a correr no Congresso que visava pôr cobro aos abusos aos direitos humanos verificados em Saipan, um território americano no Pacífico, onde vigora legislação laboral desumana e medieval e onde as operárias das sweatshops das grandes marcas americanas são obrigadas a abortar se engravidarem. O caso foi revelado em 1988, e Jack Abramoff era o homem de mão de Saipan, encarregue de garantir que tudo ficava na mesma, e Tom DeLay era o grande «defensor» da ilha em Capitol Hill. A legislação que pretendia introduzir o código laboral americano na ilha não passou devido aos bons esforços de ambos…

No passado dia 4 Abramoff declarou-se culpado de fraude, evasão fiscal e conspiração para subornar funcionários públicos, num acordo com o ministério público americano que implica que este testemunhe contra os membros do Congresso que subornou. Vamos ver se os desenvolvimentos do caso travam a pretendida transformação dos Estados Unidos numa teocracia. O primeiro sinal será ver se Alito passa