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Primeira Presidente chilena?

O poder quasi absoluto da Igreja Católica no Chile, um país onde o divórcio só é possível desde o ano passado, está prestes a conhecer o seu primeiro contratempo desde o assassinato em 1973 do presidente Salvador Allende durante o golpe de direita, chefiado pelo general Pinochet, um católico exemplar.

De facto, o resultado das eleições de hoje é quasi o equivalente a uma revolução pacífica, inesperada neste país sob tão marcada influência da Igreja de Roma. Assim, os resultados preliminares indicam que Michelle Bachelet, mãe solteira, de 54 anos, que nas suas próprias palavras encarna «todos os pecados capitais – socialista, a filha do seu pai, divorciada e ateísta» será muito provavelmente a primeira presidente chilena, tendo neste momento, com cerca de 13% dos votos apurados, quase tantos votos como a soma dos votos nos dois candidatos de direita, o empresário Sebastian Pinera e o ex-presidente da câmara de Santiago o ultra conservador Joaquin Lavin. Amanhã saberemos se haverá segunda volta e quem disputará a presidência com Michelle Bachelet, que a manterem-se as tendências actuais e contra a maioria dos prognósticos e ajuda divina, será Sebastian Pinera.

O pai que ela menciona como um dos seus pecados capitais foi um general progressista da Força Aérea chilena que fez parte do governo de Salvador Allende em 1972 e que morreu de ataque cardíaco quando torturado pelos algozes de Pinochet, um ano depois do golpe de estado.

Michelle e a mãe foram enviadas para o infame centro de tortura Villa Grimaldi mas as suas ligações com os militares evitaram que tivessem o destino de tantos milhares de chilenos desta época negra do país e partiram para o exílio.

Em 2000 o presidente Ricardo Lagos, nomeou Michelle ministra da Saúde, cargo que abandonou dois anos depois quando passou a ocupar a pasta da Defesa.

Talvez a razão do sucesso inesperado de Michelle seja bem resumido pela apreciação de Isabel Allende, filha de Salvador Allende e prima da escritora com o mesmo nome «Michelle reflecte um realidade há muito escondida no Chile, não a falsa imagem da família perfeita ou do político modelo».

Realidade que se revelou no voto secreto que cada eleitor depositou na urna, fora do escrutínio dos devotos católicos que tentaram demover os chilenos do voto em Michelle Bachelet «denunciando» a sua afinidade com o infame, anti-católico e ditatorial(?) Zapatero!