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Mês: Maio 2005

27 de Maio, 2005 Palmira Silva

Ameaça IDiota na Europa

O director de uma escola protestante na Holanda foi aconselhado a «descansar» uns dias em casa depois de vigorosas argumentações com os docentes do Augustinus College, em Groningen, para que estes aderissem ao criacionismo cristão.

Peter Boon,vice-presidente do CDA (partido democrata cristão) , declarou numa entrevista ao jornal Dagblad van het Noorden que não podia tolerar que um dos seus professores se declarasse aos alunos como um seguidor da teoria da evolução.

Boon afirmou ainda que continuará, quiçá menos vigorosamente, as discussões sobre o tema com os docentes da escola e que «Estou convencido que encontraremos o caminho para a sabedoria».

Quiçá espere contar com a ajuda da ministra holandesa da Educação Cultura e Ciência, Maria Van der Hoeven, que anunciou recentemente ser favorável à realização de um debate sobre os méritos relativos do desenho inteligente (ID) versus evolucionismo. Porque não acredita em «coincidências», acha que o evolucionismo não é uma «teoria completa» e gosta da ideia de que a vida na Terra foi «planeada»! Felizmente que, por agora, nem os seus colegas de partido subscrevem a ideia!

Portanto quem acha que as IDiotias se restringem ao Novo Continente deveria reconsiderar… Depois de Silvio Berlusconi, que queria retirar o evolucionismo dos curricula escolares e só cedeu depois de uma semana de protestos massivos e da ministra da Educação da Sérvia, Ljiljana Colic, que suspendeu o ensino da evolução e apenas o permitia se em paralelo fosse ensinado o criacionismo, o fundamentalismo criacionista ataca agora a Holanda!

27 de Maio, 2005 Palmira Silva

IDiotas: metereologia o próximo alvo?

Galileu marcou o nascimento não somente de uma nova física mas também de uma nova concepção do mundo. O conflito cosmológico foi na realidade um conflito ideológico cujas implicações de poder/política determinaram as posições dos envolvidos, nomeadamente da Igreja Católica. Com efeito, qual seria o poder dos príncipes, (vide o livro de Maquiavel do mesmo nome), sejam estes príncipes da Igreja ou governantes por direito divino, se a ordem das coisas fosse regida por leis simples e materialistas e não por vontade divina? Se os fenómenos terrestres forem rigorosa e naturalisticamente determinados, não é apenas Deus que está em causa mas especialmente os seus «representantes» na Terra, sejam governantes ou membros das hierarquias religiosas. Que deixam de ser credíveis para interceder junto a Deus pela concessão de «milagres» sortidos!

Como tal, não percebo porque os defensores do desenho inteligente (ID) têm como alvo da sua sanha persecutória apenas o evolucionismo. Philip Johnson, um dos fundadores do movimento ID, explica as suas razões numa entrevista ao Washington Post:

«Compreendi que… se uma explicação Darwinista pura fosse correcta e a vida não passasse de um processo material não desenhado então a metafísica e crenças cristãs são fantasias».

Ou seja, não percebo porque razão Philip Jonhson e seus correligionários afirmam apenas em relação ao evolucionismo que este é na realidade uma forma de disseminaçao do ateísmo por ser uma filosofia ateísta, materialista e naturalista. Porque todas as ciências são naturalistas e materialistas, caso contrário não seriam ciências, logo, de acordo com os ilustres IDiotas, todas elas deveriam tornar «fantasias» «a metafísica e crenças cristãs». Não percebo assim por que os que se afrontam com o «ateu» evolucionismo não assestam baterias noutras ciências, francamente mais atentórias da «verdade» da Bíblia. Por exemplo a medicina, geologia, física, química ou a meteorologia! Afinal até ao século XVIII os cristãos acreditavam que os relâmpagos, dilúvios, terramotos e outras catástrofes climáticas naturais eram retribuição divina aos pecados dos homens! Porque na Bíblia há mais «evidências» que Deus controla o clima do que a biologia:

Génesis 7:4 «Em apenas mais sete dias farei chover sobre a terra por quarenta dias e quarenta noites.»
Deuteronómio 11:14 «Então darei certamente chuva à vossa terra no seu tempo designado, a chuva outonal e a chuva primaveril.»
Samuel 12:18 «Samuel clamou a Deus e Deus passou a dar trovões e chuva naquele dia, de modo que todo o povo ficou com muito temor de Deus e de Samuel.»
Marcos 4:39 «Ele [Jesus, com o poder de Deus], acordando, censurou o vento e disse ao mar: ‘Silêncio! Cala-te!’ E o vento cessou, e deu-se uma grande calmaria.»

O controlo absoluto de Deus sobre o clima é ainda evidenciado em, por exemplo, Êxodo 10:13; Isaías 11:15; Jeremias 4:12 e 10:13; Ezequiel 13:13; Zacarias 10:1; Lucas 8:25; Jonas 1: 4 e 4:8.

Não serão as previsões metereológicas, que nunca mencionam «vontades divinas» «Deus» ou quaisquer causas não naturais, tão «ateístas» (isto é, materialistas/naturalistas) como a evolução? Ou será a medicina ateísta por não contemplar causas não naturalistas ou sobrenaturais para uma doença?

Muitos cristãos ainda rezam por chuva ou pela saúde própria ou de um ente querido mas seria absurdo querer transpôr para as salas de aula «teorias» alternativas de «intervenção divina» à «naturalista meteorologia» pelo facto de que há alguns fenómenos climatéricos que ainda permanecem inexplicados ou de que os cientistas ainda não preveêm correctamente o clima. O mesmo em relação à medicina!

Assim não percebo porque razão para os iluminados criacionistas o evolucionismo promove o ateísmo e deve ser ensinado «equilibrado» com a necessidade de um criador e a metereologia não. Ou será que a metereologia já está inscrita na lista das ciências a precisar de redefinição por «virar inúmeras mentes contra o evangelho de Cristo e a autoridade das Escrituras»?

27 de Maio, 2005 Palmira Silva

Museu da criação ou Museu do Disparate?

«O museu da Criação proclamará ao mundo que a Bíblia é a autoridade suprema em todas as matérias de fé e práticas e em todas as áreas que toca. Este museu «passeando pela História» será uma maravilhosa alternativa aos evolucionistas museus de História Natural que estão a virar inúmeras mentes contra o evangelho de Cristo e a autoridade das Escrituras.»

O mentor do Museu da Criação, o pastor Ken Ham, afirma que o museu é uma forma de fazer chegar a mais pessoas a «verdade», em conjunto com o site Respostas no Génesis que reinvidica 10 milhões de visitas por mês e o programa de rádio «Respostas com… Ken Ham», transmitido em todo o mundo por mais de 725 estações de rádio.

Este monumento ao disparate criacionista, cuja inauguração está prevista para 2007, mostra nas suas instalações de 25 milhões de dólares que a Terra tem apenas 6 000 anos, que Deus criou o mundo em seis dias (de 24 horas), que foi o grande dilúvio em alguns dias e não a erosão ao longo de milhões de anos que originaram o Grand Canyon, que os dinossauros foram transportados por Noé na sua barca e outras idiotias semelhantes. Por exemplo, de acordo com o movimento «Respostas no Génesis» a tragédia no liceu de Columbine deve-se ao ensino da evolução nesse liceu, já que segundo os iluminados fundamentalistas os dois adolescentes acreditavam na sobrevivência do mais apto de Darwin. Algumas idiotias exibidas são francamente perigosas como as que representam tragédias da humanidade, como doenças e fome, que são atribuídas aos pecados da humanidade. Nomeadamente uma das exibições culpa os homossexuais pelo flagelo da SIDA.

Numa «Sala da autoridade da Bíblia» os visitantes são avisados de que «Todos os que rejeitarem esta história, incluindo a criação em seis dias e os dinossauros na barca de Noé, são ignorantes por vontade própria». Claro que devem ser encorajados a nem sequer aflorarem o que têm a dizer sobre o nonsense criacionista a Scientific American ou a American Association for the Advancement of Science, simplesmente a associação de ciência com mais prestígio a nível mundial!

Como afirma o próprio devoto pastor com a inauguração deste museu «A elite evolucionista receberá uma chamada de despertar.»

Será que este e outros disparates cada vez mais abundantes dos fundamentalistas cristãos não são suficientes para nos acordar da complacência em relação às religiões?

26 de Maio, 2005 fburnay

George Orwell I

Five minute hate, times forty eight.

Gosto muito de Eça de Queirós. Admiro o cuidado, a ironia e o estilo com que tão bem descreveu o que tão bem observou. De tal forma o fez que ainda hoje nos é possível vislumbrar muito da cultura portuguesa que herdámos do seu tempo.

E é por essa mesma razão que também gosto de George Orwell, pseudónimo de Eric Arthur Blair. Depois de ler “1984” e “Animal Farm” (“O Triunfo dos Porcos”) alterou-se a forma como olho para os comportamentos das massas, das instituições e da forma de pensar das pessoas. Fiquei mais atento aos flagrantes alertas destes romances…

Eram cerca das onze horas de uma noite de há uns tempos atrás quando, ao sintonizar um velho rádio que tenho cá em casa, encontrei o posto da Rádio Miramar, esse ex libris do proselitismo, da dilatação da fé e do império da IURD. Atiçada que estava a minha curiosidade pela inebriante verborreia luso-brasileira do pastor de serviço, que falava de um estranho faraó, detive-me por alguns momentos a ouvir. De que faraó falava? Estaria a citar a Bíblia, esse lugar-comum da evangelização, referindo-se à fuga do Egipto? Daí a poucos minutos, ineficazes a satisfazer a minha interrogação, começavam os testemunhos telefónicos dos seguidores daquela igreja. Em escassos segundos percebi do que se tratava…

Era inacreditável! Numa vigília que se prolongaria até às 3 da manhã do dia seguinte, os participantes destilariam o seu profundo ódio pelo faraó, o opressor do povo escolhido. E os telefonemas não paravam. Os insultos eram tantos, o desejo de agressão física de tal forma exprimido, a descrição da raiva cultivada tão grande que me apercebi que o faraó sem nome deixava de ser uma personificação do Mal para se tornar numa personalidade real a abater. Um homem terrível, odioso e sem alma, de perfídia inigualada.

Samuel Goldstein, Trotsky, Snowball, os judeus, os hutu. E agora o faraó. A IURD sabe o que faz.

26 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Interrogações

Cinco centenas de militares e civis deslocam-se a Lourdes na 47.ª peregrinação militar, de 26 a 31 de Maio.

1 – Quem paga a deslocação?

2 – Os militares vão fardados?

3 – Um país laico pode autorizar a deslocação de militares a um santuário de uma religião qualquer?

4 – Os militares e civis vão em gozo de férias ou dentro do período de trabalho?

5 – A oração faz parte do treino militar?

6 – As manobras militares trocaram Santa Margarida por Lourdes?

Fonte: Agência Ecclesia

26 de Maio, 2005 jvasco

Era só o que mais faltava!

Muitos católicos estão contra algum pensamento pós-moderno, contra o esoterismo e as tendências «new-age».
Eu como céptico, como alguém que acredita no método científico e na racionalidade como meios para procurar as melhores descrições do mundo que nos rodeia, considero que a superstição esotérica não é a melhor forma de conhecermos a realidade.

Mas acho um absurdo quando alguns crentes (como César das Neves no seu último artigo de opinião) tentam pôr a ciência e o catolicismo do mesmo lado contra o esoterismo.
Nem pensar!

A igreja Católica não é, sob nenhuma perspectiva racionalista ou científica, superior a qualquer outra religião pagã, qualquer religião existente, ou qualquer conjunto de crenças mágicas e espirituais, para todos os efeitos.
A igreja Católica compete no mesmo espaço que outras religiões e superstições: no espaço daqueles que crêm que a ciência nunca poderá explicar tudo; no espaço daqueles que crêm que a racionalidade humana é insuficiente para compreender o mundo que nos rodeia; no espaço daqueles que crêem que a fábula e o dogma são mais válidos que o espírito crítico e a dúvida.

Os católicos podem rir-se com desprezo (e muitas vezes o fazem) daqueles que têm crenças menos ortodoxas, mais fetichistas ou panteístas, ou menos socialmente comuns. Mas que tolo desprezo esse! Mas que patético desprezo esse. Não há qualquer critério razoável, qualquer critério lógico, qualquer critério que não raie o ridículo, para considerar as crenças católicas superiores às outras.
Apenas na força dos números sentem um escudo que os permite classificar de «tolices» e «crendices» todo o tipo de crenças esotéricas, quando as crenças deles não são em nada menos fantásticas.

Poucas coisas existem tão absurdas como a postura de grande parte dos católicos face às crenças pagãs.
Quão incoerente e injustificado é o desprezo que sentem e o paternalismo com que reagem.

E, por favor, não tenham o desplante de se querer associar ao racionalismo e espírito científico para tentar esmagar os vossos rivais. Tornar-se-ia patética a forma como facilmente tentam descredibilizar os valores da razão e da racionalidade quando querem afirmar o vosso poder. Exemplos disso não faltam.

26 de Maio, 2005 Palmira Silva

Momento Zen de Segunda

Embora com algum atraso, não posso deixar de partilhar aquele que é um dos meus momentos zen de segunda mais dignos do nome. Refiro-me à opinação do inefável João César das Neves «O alarme do palhaço de Kierkegaard», em que este, certamente muito magoado com os media nacionais, que, depois de, durante semanas, terem dedicado quasi em exclusivo à religião católica os seus tempos de antena, não anunciam com pompa e circunstância, a «enorme movimentação preparatória do Congresso Internacional para a Nova Evangelização, que Lisboa acolherá em Novembro».

Na ausência das fanfarras etéreas que o isento «spin doctor» de segunda considera merecidas, e no rescaldo dessas mesmas manifestações mediáticas à estreia do filme de Ridley Scott «Reino dos Céus», a obra de ficção que parece substituir na indignação que provoca nas «santas» hostes aqueloutra em processo de passagem para a tela, «O código de da Vinci», JC das Neves lança-se na construção de um cenário completamente obtuso para, segundo ele, enquadrar o porquê do declínio da credibilidade da Igreja.

Devo reconhecer que o fazedor de opinião (católica, claro) acertou em cheio ao depositar na ciência e no conhecimento científico o ónus da culpa neste declínio, que propicia a visão dos mui celebrados pela Igreja de Roma cristãos medievais, reiterada no filme de Ridley Scott, como «parolos ignorantes e boçais, vítimas de superstição».

Agora a obtusidade do cenário apresentado, que para JC das Neves «nem é bizarro», reside no suponhamos «que dentro de décadas toda a gente pense que a ciência é uma actividade sinistra, enganadora, perigosa» e «que aquilo que agora é tomado como sólido e básico, referência fundamental da vida contemporânea, venha daqui a uns anos a ser atacado, desprezado e vilipendiado» «minando a confiança absoluta que temos no conhecimento científico». Especialmente pelas razões apresentadas: «O uso de tecnologias por terroristas, os infindáveis debates académicos, as dúvidas sobre teorias estabelecidas» a primeira das quais certamente introduzida para justificar a conjuntura actual em que a religião é de facto o motivo dos ataques terroristas que marcam pela negativa o início do século XXI e da maioria da violência que vemos por todo o planeta.

Em relação aos «infindáveis debates académicos» ou «as dúvidas sobre teorias estabelecidas» só reflectem que o ilustre professor universitário ainda não assimilou o que é ciência e como avança a ciência, exactamente devido aos infindáveis e acalorados debates científicos (não necessariamente académicos) e ao contínuo questionar da interpretação dos dados disponíveis.

Na realidade o cenário avançado por JC das Neves é completamente absurdo. Nem os fanáticos religiosos americanos que tentam redefinir ciência, reduzindo-a ao método científico e negando a sua capacidade para apresentar explicações para o mundo observável, têm a veleidade de dizer que quem acredita na ciência são «parolos ignorantes e boçais, vítimas de superstição». Quanto muito são perigosos ateístas que implicam que só há mundo observável e desprezam o inobservável ou metafísico. Porque é impossível negar a importância vital da ciência no mundo contemporâneo, isto é, as tentativas de a atacar, vilipendiar e, especialmente, desprezar estão votadas ao insucesso. Seria complicado dizer a alguém que quando toma um antibiótico para uma qualquer maleita está a ser supersticioso, mesmo quando esse antibiótico foi desenvolvido por evolução dirigida. Ou que está a ser um parolo ignorante e boçal quando navega na World Wide Web, liga um qualquer interruptor, enfim, viva no século XXI!

Assim como é pouco credível que seja minada «a confiança absoluta que temos no conhecimento científico» porque daqui a pouco tempo os displays de plasma ou LCD’s, ou os processadores de 64 bits a 3.73GHz, vendidos como a última palavra da tecnologia e avanço científico, serão certamente substituídos por displays flexíveis de polímeros conjugados e processadores mais rápidos! Ou porque doenças hoje consideradas incuráveis deixarão de o ser! Que reflectem os «infindáveis debates» científicos, uma das causas que JC aponta no seu cenário para a queda da credibilidade da ciência.

Ou seja, o nosso quotidiano é completamente dependente da ciência e do avanço do conhecimento científico. Mesmo a prosa debitada pelo presciente opinador depende da ciência para baralhar ou divertir quem o lê! Contrariamente ao que se passa com a religião, é consensual que a ciência explica e prevê o mundo observável. E é consensual que a ciência progride e que tal não é um óbice mas uma benesse!

E baralha-me que um tão ilustre economista não se tenha ainda apercebido das benesses, nomeadamente que o sucesso económico de um país está dependente do seu progresso científico e tecnológico… Quiçá esse desconhecimento por parte de muitos economistas cá do burgo seja uma das causas de a nossa economia estar no estado que todos conhecemos e deploramos!

25 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Citações

«Não há salvação em nenhum outro [para além de Jesus], porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens pelo qual devamos ser salvos». (Actos 4:12).

«O Evangelho segundo São Marcos tem cerca de 40 versículos explicitamente anti-semitas. Incluem a cena teatral fictícia de Pôncio Pilatos, que foi o verdadeiro assassino de Jesus, perguntando-se inocentemente o que fez Jesus para merecer a ira dos sacerdotes e da multidão de judeus, enquanto os Judeus gritam mais de uma vez a Pilatos «crucifica-o»». (S. Marcos 15:6-15).

«O Evangelho segundo S. Lucas tem cerca de 60 versículos explicitamente anti-semitas. Apresenta João Baptista a chamar aos judeus que acreditavam que ser judeus era o caminho para Deus «raça de víboras» que iriam sofrer «com a ira que os ameaçava»». (S. Lucas 3:7-9).

«O Evangelho segundo S. Mateus tem cerca de 80 versículos explicitamente anti-semitas. Neles, São Mateus conta como João Baptista chamava aos Judeus, os chamados fariseus e saduceus, «raça de víboras», epíteto que pôs também na boca do próprio Jesus quando se dirige aos judeus que são fariseus como «raça de víboras», como podeis dizer coisas boas, vós que sois maus?». (São Mateus 3:7 e 12:34).

«Os Actos dos Apóstolos têm cerca de 140 versículos explicitamente anti-semitas. Apenas 8 dos seus 28 capítulos estão isentos de anti-semitismo».

«O Evangelho segundo S. João contém cerca de 130 versículos anti-semitas. (…). O Jesus de S. João acusa os Judeus de o tentarem matar. (…) O Jesus de S. João conclui que aqueles que o rejeitam, os Judeus, «pertencem ao (seu) pai, o Demónio»». (S. João 7:28 e 8:37-47).

«Só estes cinco livros contêm versículos explicitamente anti-semitas suficientes, num total de 450, para haver em média mais de dois por cada página da edição oficial católica da Bíblia».

Fonte: A Igreja Católica e o Holocausto – Uma dívida moral, de Daniel Jonah Goldhagen.

Nota: Que fazer com um livro que prega o ódio e cujos crentes estão convencidos de conter a palavra do seu Deus?

Com estas citações espero ter respondido aos crentes de boa fé que me chamaram mentiroso pois, segundo eles, não há na Bíblia (Novo Testamento) qualquer manifestação de anti-semitismo.

«Bem-aventurados os ignorantes porque deles é o reino do Céu».

25 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Cristianismo e anti-semitismo

É surpreendente o vigor com que o cristianismo e, em particular, o catolicismo nega quase vinte séculos de anti-semitismo militante.

Martinho Lutero que conhecia Bíblia, tão bem quanto a corrupção papal, dizia dos judeus: «são para nós um pesado fardo, a calamidade do nosso ser; são uma praga no meio das nossas terras». (1543)

Quanto à ICAR não é preciso recordar o tribunal do Santo Ofício, basta recordar as declarações papais ou citar as abundantes e descabeladas manifestações de ódio que a santa Bíblia destila.

Eloquente, chocante e demente foi a atitude do cardeal da Alemanha, Bertram, ao saber da morte do seu idolatrado führer Adolfo Hitler. Já nos primeiros dias de Maio de 1945, com a derrota consumada (a rendição foi no dia 8), ordenou que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, nomeadamente «uma missa solene de requiem, em lembrança do Führer».

Para alguns católicos e, sobretudo, para ateus, agnósticos e fregueses de outras religiões, é preciso dizer-lhes que, de acordo com a liturgia do requiem, uma missa solene de requiem se destina a que os devotos possam suplicar a Deus, Todo-Poderoso, a admissão no Paraíso do bem-aventurado em lembrança de quem a missa é celebrada.

A Bíblia, um repositório de ódio anti-judaico, está para os cristãos como o Corão está para os muçulmanos. Felizmente os cristãos, sobretudo os católicos, lêem pouco a Bíblia e acreditam vagamente no seu conteúdo.

Porém, em períodos de crise, há o risco de se agarrarem ao livro sagrado como os alcoólicos à bebida e, tal como estes, sem discernimento ou força anímica para renunciarem à droga, impedidos pela habituação e dependência que os escraviza.

O Diário Ateísta é uma tentativa séria para promover uma cura de desintoxicação.

Adenda – Quando me refiri ao anti-semitismo da Bíblia, tinha em vista o Novo Testamento, agradecendo ao leitor GM a chamada de atenção.

24 de Maio, 2005 Ricardo Alves

Liberdade de expressão e blasfémia

Tony Blair não desiste de legislar contra a blasfémia. Antes das recentes eleições no Reino Unido, Blair tentara fazer aprovar uma lei contra o «ódio religioso», numa tentativa de recuperar votos no eleitorado muçulmano, que se afastara dos trabalhistas na sequência da guerra do Iraque. A lei foi rejeitada três vezes.

Após a vitória dos Trabalhistas nas eleições britânicas, Tony Blair, como nos relatam os secularistas britânicos, insiste em aprovar uma lei que proteja o islão britânico da crítica, à semelhança do que já acontece, no RU, com outras religiões. Como tem sido relatado exaustivamente aqui no Diário Ateísta, as leis que limitam a liberdade de expressão, protegendo as religiões da crítica, são infelizmente comuns em muitos países europeus (por exemplo, na Grécia, na Holanda, ou na Rússia).

No entanto, a ideia de limitar a crítica da religião, para além de liberticida, é contraproducente. Ninguém é mais anti-religioso do que um religioso fanático. Há poucos anos, o bispo católico «de esquerda» Januário Torgal Ferreira teve palavras intolerantes contra a IURD num momento em que havia violência nas ruas contra esta igreja, e certos protestantes são mais anti-católicos do que muitos ateus. Na Europa contemporânea, quem quiser comprar panfletos anti-semitas encontra-os em livrarias muçulmanas, por entre comentários do Corão. Portanto, quase todas as religiões criticam as outras religiões, e frequentemente com uma violência que pode ser entendida como ódio. Criminalizar a expressão de ideias anti-religiosas ilegalizaria muitas expressões religiosas, o que é sem dúvida um paradoxo e uma ironia.

E evidentemente, quase todas as religiões criticam violentamente o ateísmo, embora uma lei por ofensas anti-ateístas não deva render os votos necessários para desencadear uma iniciativa legislativa…

O espaço público democrático não pode prescindir da liberdade de expressão, essa possibilidade de dizer aos extremistas religiosos e outros reacionários o que não querem ouvir. Salman Rushdie sabe-o bem, como o sabe a deputada holandesa Hirsi Ali, que não desiste de exercer o seu direito a criticar a religião que abandonou. Criticar as religiões, mesmo satirizá-las, é exercer a nossa liberdade de expressão. Legislar contra a blasfémia é imunizar contra a crítica aqueles que querem destruir essa e outras liberdades.