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George Orwell I

Five minute hate, times forty eight.

Gosto muito de Eça de Queirós. Admiro o cuidado, a ironia e o estilo com que tão bem descreveu o que tão bem observou. De tal forma o fez que ainda hoje nos é possível vislumbrar muito da cultura portuguesa que herdámos do seu tempo.

E é por essa mesma razão que também gosto de George Orwell, pseudónimo de Eric Arthur Blair. Depois de ler “1984” e “Animal Farm” (“O Triunfo dos Porcos”) alterou-se a forma como olho para os comportamentos das massas, das instituições e da forma de pensar das pessoas. Fiquei mais atento aos flagrantes alertas destes romances…

Eram cerca das onze horas de uma noite de há uns tempos atrás quando, ao sintonizar um velho rádio que tenho cá em casa, encontrei o posto da Rádio Miramar, esse ex libris do proselitismo, da dilatação da fé e do império da IURD. Atiçada que estava a minha curiosidade pela inebriante verborreia luso-brasileira do pastor de serviço, que falava de um estranho faraó, detive-me por alguns momentos a ouvir. De que faraó falava? Estaria a citar a Bíblia, esse lugar-comum da evangelização, referindo-se à fuga do Egipto? Daí a poucos minutos, ineficazes a satisfazer a minha interrogação, começavam os testemunhos telefónicos dos seguidores daquela igreja. Em escassos segundos percebi do que se tratava…

Era inacreditável! Numa vigília que se prolongaria até às 3 da manhã do dia seguinte, os participantes destilariam o seu profundo ódio pelo faraó, o opressor do povo escolhido. E os telefonemas não paravam. Os insultos eram tantos, o desejo de agressão física de tal forma exprimido, a descrição da raiva cultivada tão grande que me apercebi que o faraó sem nome deixava de ser uma personificação do Mal para se tornar numa personalidade real a abater. Um homem terrível, odioso e sem alma, de perfídia inigualada.

Samuel Goldstein, Trotsky, Snowball, os judeus, os hutu. E agora o faraó. A IURD sabe o que faz.