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Mês: Maio 2005

23 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Bernardo Motta, o «Afixe» e eu

Na sequência do meu artigo «Não há Esperança para o Carlos», com o mesmo título de um artigo com que fui cristãmente zurzido no «Afixe», pelo Monty, o Bernardo fala de desonestidade e falsidade. Não se referia à ICAR, escrevia sobre mim.

Aqui ficam algumas frases do Bernardo Motta publicadas no «Afixe».

«O Bernardo é de opinião que nos países árabes se deve ser muçulmano.»
A desonestidade e a falsidade de tal afirmação verifica-se facilmente. O senhor Carlos Esperança não cita o meu texto entre aspas.
[Instado a pronunciar-se sobre o direito de um crente a renunciar à religião respondeu que «devia mudar de país».]
Você pode gritar isto aos sete ventos, como bandeira de propaganda “ad hominem”.
Pois o recurso ao ataque “ad hominem” é uma forma clássica de se esquivar à argumentação. (…)
Bernardo da Motta

«baixeza, mesmo! Mas muito reveladora…»
Bernardo Motta (ibidem)

De facto, não citei as palavras de Bernardo Motta entre aspas, citei-as em itálico. Para que os leitores possam apreciar quem fala verdade repito aqui o meu post de 25 de Fevereiro de 2004, que se encontra publicado no Diário Ateísta:

Quarta-feira, Fevereiro 25, 2004

A resposta de Bernardo da Motta

Eis o que pensa um crente. Assinaladas com (>), em itálico, encontram-se as minhas frases citadas, seguidas das respectivas respostas do Bernardo. Para se perceber o grau de tolerância de que um crente é capaz.

……………………….

Obrigado pela sua resposta.

>Depois, tenho a dizer-lhe que, não sendo o véu uma imposição do Corão, não deixa de ser uma arma que os fundamentalistas islâmicos usam para desafiar o carácter laico do Estado francês.

O Corão impõe decência e pudor no vestuário. De facto, não faz qualquer referência específica ao tipo de vestuário.
E é um facto que o fanatismo islâmico (prefiro esta palavra a “fundamentalismo”, uma vez que “fundamentalismo” deve significar “aderência a fundamentos”, o que é algo que eu aprovo) usa vezes sem conta o Corão como arma de terror.

O meu ponto de vista é o do espectador que assiste à derrocada das verdadeiras tradições.
O Islão, a par com tantos outros sistemas tradicionais, está a colapsar. O trabalho dos fanáticos dá uma grande ajuda é certo.

> Pode argumentar, caro leitor, que o Islão já foi tolerante.

Mesmo hoje em dia, há várias facetas do Islão!!
Conhece o sheik Munir, da comunidade islâmica aqui de Lisboa?
Conhece homem mais prudente, sensato, culto e tolerante?

> Mas prove-me que é capaz de:
>- Renunciar à sharia;

A sharia é parte integrante da tradição islâmica.
faz parte do terno “haquikah, tarikah e sharia”

“haquikah” é o conhecimento interior, o lado interior da doutrina, se quiser, o seu lado “esotérico”. O sufismo versa sobre a “haquikah”.

“tarikah” é a via, é o caminho.

“sharia” é o conhecimento exterior, o lado exterior ou “exotérico” da doutrina. Numa sociedade plenamente tradicional (já quase não as há), não faz sentido a separação entre religião e Estado. Essa é outra das confusões do mundo moderno.

> Permitir aos crentes que o abandonem;

Concordo consigo. Qualquer pessoa deveria poder abandonar o Islão se o quisesse fazer. Contudo, nesse caso, eu concordo que tal pessoa deveria também abandonar fisicamente o local e a cultura onde o Islão fosse tradição.

>- Defender a liberdade de ter qualquer religião e a de não ter;

Concordo!

>- Pedir perdão pela fatwa contra Salman Rushdie;
Concordo! Este é também mais um gesto fanático.

>- Enfim, se é capaz de renunciar à pena de morte, poligamia, discriminação da mulher e outros anacronismos e consentir, nas suas escolas, símbolos cristãos, judaicos ou ateus.

Aqui é que eu já acho que o Carlos está a misturar várias coisas. A mulher não é discriminada no Corão. Os homens, contudo, facilmente encontram formas de ler a seu bel-prazer o Corão. A poligamia é uma característica intrínseca ao Islão, e vem referida e legislada no Corão. é uma característica da cultura islâmica, e é óbvio que nos é estranha, a nós, ocidentais, que temos outra cultura.
Chamar de “anacronismo” algo que não se conhece não me parece correcto.
Repito, a genuína tradição islâmica, por muito que esteja em vias de extinção como as restantes tradições espalhadas por esse mundo fora, nada tem de anacrónico, visto que é uma via de Verdade, uma Verdade revelada.
A decisão do Estado Francês, cujas consequências nefastas ainda são imprevisíveis, só demonstra como aqueles que detêm o poder em França têm a sua intelectualidade e cultura reduzida a um mínimo. É um claro sinal de intolerância, e de verdadeiro terrorismo “jacobino”.
O que irá suceder é que as comunidades islâmicas em França irão regressar a escolas fechadas, tirando as suas crianças do convívio salutar com os restantes alunos. Estaremos a regressar aos bairros étnicos?

>Não basta haver crentes tolerantes, é preciso que o carácter fascista das religiões seja erradicado.

Repare, Carlos, a verdadeira religião nada tem a ver com “fascismo” nem com qualquer outra posição política. A religião tem uma natureza tanto transcendente como social, é certo, mas é social na medida em que serve como elo de coesão da sociedade e como ponte para a divindade.
Não seria correcto apelidar uma religião de “fascista”. Aliás porque o próprio fascismo é uma forma anti-tradicional e por isso mesmo, fortemente anti-religiosa.

>Cumprimentos.
>Carlos Esperança

Cumprimentos,

Bernardo # um artigo de Carlos Esperança, publicado às 19:00 # comentar este artigo (A) # debater #

Nota: Transcrevi fielmente o post que está arquivado no Diário Ateísta. Limitei-me a destacar a negrito as afirmações que o Bernardo nega e pelas quais me chama mentiroso.
Quanto custa ganhar o Paraíso!

23 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Clonagem terapêutica

O caminho para a clonagem terapêutica aberto por cientistas sul-coreanos é fascinante. De acordo com a comunicação social, conseguiram, pela primeira vez, produzir células estaminais embrionárias com a particularidade de serem geneticamente compatíveis com os doentes para quem foram especificamente desenhadas.

Isto significa que as referidas células têm potencial para produzir todos os tecidos do organismo humano.

Eis uma enorme vitória para a ciência, uma grande esperança para a humanidade e uma pequena desfeita para Deus cuja importância não pára de reduzir-se.

22 de Maio, 2005 jvasco

Religião e obscurantismo III

Já tinha abordado por duas vezes a relação peculiar que por vezes ocorre entre religião e obscurantismo (ver Religião e obscurantismo I e Religião e obscurantismo II).
Esta notícia sobre a proibição do ensino da teoria da selecção natural no Kansas fez-me voltar a pensar nesse assunto, principalmente quando li este trecho da notícia: «para fazer desaparecer a teoria da evolução, as escolas vão ser desencorajadas a ensinar botânica, anatomia e fisiologia».

Torna-se curioso, porque ainda hoje tive acesso a esta referência: uma obra bastante completa sobre a constante batalha que ocorreu ao longo da história ocidental entre teologia cristã e ciência. Dêem uma espreitadela!

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Não há Esperança para o Carlos

Ontem, sob o título em epígrafe, o «Afixe», para além do panegírico a um dos mais fundamentalistas católicos da blogosfera, zurziu um escrevinhador do Diário Ateísta, «com idade suficiente para saber e poder medir as palavras e aparentemente imputável» – eu próprio.

Em vez do bem-aventurado Bernardo Motta, quiçá ausente em retiro espiritual ou a ensinar o catecismo na paróquia, apareceu o vigoroso plumitivo Monty para me zurzir com a sanha cristã digna dos tempos em que o JC empunhava o azorrague para expulsar do templo os vendilhões.

O desvelo posto na lavagem da honra ferida do prosélito católico faz-me pensar que são amigos do peito ou da missa, e que a raiva é fruto da síndroma de privação da hóstia e não de um acesso de mau humor.

A táctica para a desforra foi a vitimização, depois de eu ter apresentado desculpas, por julgar erradamente que no «Afixe» vagueava um bando de beatos da laia do Bernardo, o que sei agora não ser verdade, embora o consumo de hóstias seja no «Afixe» infinitamente maior do que no Diário Ateísta.

Quanto ao inefável Bernardo que frequentemente me refere, com a benevolência que os católicos dispensam aos ateus, e cuja tolerância conheço de sobra, mantenho a impressão, quiçá benévola, de que é um talibã da ICAR. Quanto aos outros autores não os conheço, de facto, e seria estultícia pronunciar-me sobre eles.
Apenas o Monty se me afigurou ungido para dilatar a fé e crente na palavra do mestre.

Eis alguns pensamentos do Bernardo da Motta:

– Qualquer pessoa deveria poder abandonar o Islão se o quisesse fazer. Contudo, nesse caso, eu concordo que tal pessoa deveria também abandonar fisicamente o local e a cultura onde o Islão fosse tradição.

– A mulher não é discriminada no Corão.

– A poligamia é uma característica intrínseca ao Islão, e vem referida e legislada no Corão. É uma característica da cultura islâmica, e é óbvio que nos é estranha, a nós, ocidentais, que temos outra cultura. Chamar de «anacronismo» algo que não se conhece não me parece correcto.
Repito, a genuína tradição islâmica, por muito que esteja em vias de extinção como as restantes tradições espalhadas por esse mundo fora, nada tem de anacrónico, visto que é uma via de Verdade, uma Verdade revelada.

Quanto à minha idade, 62 anos, lembro aos devotos de S.S. Bento XVI que sou mais novo 16 anos do que o ex-inquisidor que o Opus Dei, o Espírito Santo e um bando de cardeais fizeram Papa.

21 de Maio, 2005 jvasco

O Afixe, o Bernardo e nós

Nos últimos dias ocorreu uma troca de mensagens entre alguns autores do blogue Afixe e o Carlos Esperança. Independentemente da resposta que sei que ele não deixará de dar, gostaria de partilhar a minha perspectiva sobre tudo isto.

O Bernardo, um dos autores do Afixe, escreveu um artigo no qual acusava o Carlos de «vender a mentira». O artigo era um conjunto de insultos paternalistas, sem qualquer tipo de argumento: o Bernardo dizia que «qualquer estudante de história do 1º ano» poderia refutar facilmente o Carlos, embora pelos vistos ele não se desse ao trabalho de o fazer. Numa troca de comentários subsequente, o Bernardo veio a admitir que não havia qualquer erro nos factos a que o Carlos aludia. Considerava que a opinião deste é que era ilegítima: as Igrejas não tendiam a apoiar as ditaduras que lhes ofereciam o respectibvo quinhão de poder.

Para mim ambas as opiniões, a do Bernardo e do Carlos merecem o seu quinhão de respeito. E mesmo sabendo que o Bernardo tem opiniões com as quais tanto discordo (acreditar em teses que afirmam que a inquisição não foi «tão má como a pintam» – recomendou publicamente esta referência de um revisionismo que muitos classificariam de criminoso – tal como as cruzadas; acreditar que a selecção natural é uma teroria errada, e que apenas o criacionismo explica o começo da vida; acreditar que a teocracia é uma forma de organizar o poder tão legítima como a democracia, etc…) respeito sempre aquilo que escreve e pensa: leio com atenção, e tento ter o máximo de abertura de espírito.

O Bernardo não é, para nós, um autor qualquer. Foi dos primeiros a descobrir o nosso blogue, foi dos primeiros a criticar os nossos artigos. Conhecemo-lo desde o início. Eu gostei das discusões travadas, e sei que me deram algum ânimo para continuar a escrever.

Quando o Bernardo começou a falar de nós no Afixe, comecei a ler esse blogue com regularidade. Acabei por gostar do estilo e prosa de vários autores. O João Garcez, o João Pedro Costa, a Isabel, a Emiéle são, penso eu, os meus favoritos. Lamento por isso, que o Afixe seja um blogue que apenas se refere ao «Diário Ateísta» com uma opinião negativa a nosso respeito.

Será merecido? Não creio.

PS- A referência que o Bernardo apresentou a propósito da inquisição encontra-se agora indisponível. Pode ser que o próprio nos indique onde encontrar novamente a mesma informação noutro local.

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Resposta a um fundamentalista

O «Diário as Beiras» não pode assumir a responsabilidade pelos despautérios dos seus colaboradores. Não acusarei, pois, o simpático diário de cúmplice na campanha de terrorismo que grassa em certos meios. É até um sinal de pluralismo que pode provocar justa repulsa pelas posições defendidas.

Em 19 de Maio, o pio colaborador Joaquim Cardozo Duarte (JCD) faz a apologia dos dislates do padre Domingos de Oliveira que na paróquia de Lordelo do Ouro, no Porto, vocifera contra o preservativo e o aborto.

No seu artigo «Aborto e infanticídio» afirma: «O que o padre Domingos disse está certo e mais não é do que aplicar a uma situação concreta o que o Evangelho da Vida, a Encíclica de 1995 de João Paulo II, propõe, sobre a inviolabilidade da vida humana, desde o momento da concepção até à morte natural» [sic].

Acontece que o padre que mereceu a total concordância de JCD afirmou textualmente: «matar uma criança no seio materno ainda é mais grave do que matar uma menina de 5 anos». Para cúmulo, tão iníqua afirmação foi proferida na homilia da missa do 7.º dia, mandada celebrar pela mãe de Vanessa, uma menina de 5 anos assassinada com rara crueldade pelo pai e pela avó e lançada ao rio Douro.

O padre disse com toda a clareza que é menos grave matar cruelmente a menina de 5 anos do que interromper uma gravidez de um embrião de 5 semanas. Isto é terrorismo a que a benevolência do Diário as Beiras deu guarida. JCD solidarizou-se com uma campanha que prima pela baixeza e grosseria.

O padre Domingos Oliveira trouxe-me à memória Frei Gaspar da Encarnação a quem Camilo designava por «santa besta». Claro que eu não me atrevo a usar tal epíteto para o pároco de Lordelo do Ouro, por três razões: porque não o conheço, não quero ser deselegante e ele pode não ser santo.

Obs.: Este texto foi ontem enviado ao jornal onde JCD, sacerdote católico, é colaborador habitual.

21 de Maio, 2005 Carlos Esperança

Notas piedosas

Irão – A conversão de Hamid Pourmand ao cristianismo, tornando-se pastor protestante, é um acto que a bondade religiosa do Islão não digere. O réprobo arrisca a morte por enforcamento. O Islão é uma religião de paz, como diz o xeque Munir da comunidade islâmica de Lisboa.

Bento XVI – O Papa Ratzinger assegura que «Deus está próximo da humanidade, sobretudo dos pequenos e indigentes para levantar o pobre e levar conforto aos necessitados e aos que sofrem». Sabendo nós o sofrimento por que o Mundo está a passar, podemos imaginar os horrores se, em vez de estar próximo, Deus morasse no planeta Terra.

Católicos e anglicanos – As duas sucursais do cristianismo estão em vias de realizar um acordo sobre a Virgem Maria.(1)

– O dogma católico da Imaculada Conceição, segundo o qual Maria foi preservada , depois da sua concepção, do pecado original, vai ter uma nova redacção que contente as duas filiais.
– A Assunção, um mito católico que garante «a subida de Maria ao Céu, em corpo e alma», após a morte, leva uns retoques para que seja digerido pelos anglicanos.

– O culto da Virgem, um dos mais lucrativos negócios da ICAR, contestado por anglicanos e, sobretudo, protestantes, vai ser objecto de um arranjo entre teólogos para que a aproximação se torne possível.

Os avanços da ICAR para a absorção da Igreja Anglicana vêm de há muito e o Papa conta com a adesão dos anglicanos mais reaccionários à Cúria romana.

Fonte (1): A Agência Ecclesia só manteve a notícia durante algumas horas. O «Público» de ontem deu a notícia, pg. 32.

20 de Maio, 2005 fburnay

Errata por outrém

A agência Ecclesia, numa notícia de há uns dias atrás a respeito da homilia do sr. Jorge Ortiga, deixou passar um erro que, humildemente, me presto a corrigir.

Onde se lê: «Igreja responde com amor aos ataques do laicismo»,
deve ler-se: «Igreja responde com Timor aos ataques do laicismo».