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A ICAR actualiza o Índex


O Vaticano há muito que deixou de actualizar a lista dos livros proibidos. Condena, para não perder a vocação censória, desaconselha, para fingir autoridade, uiva, para impressionar os espíritos mais timoratos.
A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, submetida ao pulso férreo do cardeal Joseph Ratzinger, piedoso inquisidor que se esforça para que o progresso e a liberdade não façam perigar o destino das almas, é uma pálida amostra do Santo Ofício, que a precedeu.

Agora, deu-lhe para embirrar com o «Código Da Vinci» do escritor Dan Brown, e inclui o interessante romance policial, que pisca o olho aos eruditos, na lista das obras a «não ler, nem comprar». O apelo foi feito pelo cardeal Tarcísio Bertone, aos microfones do Radio Vaticano, uma emissora do bairro com potência para ser ouvida através do planeta, mas cujas vozes não chegam ao Céu.

O que incomoda este santo cardeal, além das manipulações da ICAR que o romance desmascara, é a possibilidade de Jesus Cristo ter sido pai de uma filha de Maria Madalena, o que pressupõe o pecado da fornicação cometido pelo impoluto e casto fundador da ICAR.

Assim, ainda que a execração do livro e a proibição da compra contribuam para a sua difusão, a Cúria não pode deixar de actualizar o Índex dos livros interditos sob pena de conferir ao acto sexual a dignidade que a prática divina lhe outorgava. Deste modo, o «Index librorum prohibitorum» da Igreja Católica fica enriquecido com um novo título e a sexualidade de novo anatematizada.