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Paulo Portas de joelhos

Paulo Portas não perde uma missa e, em campanha eleitoral, duplica a assiduidade. Não respeita a Constituição que é laica, não respeita o País que separou a Igreja do Estado e já se esqueceu da figura que fez no funeral do tenente coronel Maggiolo Gouveia onde foi em busca da hóstia, de uma genuflexão e da desonra das funções que ocupa.

Enquanto a família da defunta carmelita afirma que Paulo Portas pediu para assistir à missa, reservada a familiares e próximos, o CDS garante que o ministro da Defesa foi convidado. Não interessa saber quem mente nesta piedosa maratona litúrgica em que as orações são inúteis e a exploração da fé, com fins eleitorais, faz parte da corrupção moral de um país habituado a viver de joelhos.

Sabe-se da devoção de Paulo Portas à Senhora de Fátima, a quem agradeceu, há anos, a orientação dos ventos e marés que levaram para as praias da Galiza a maré negra de um petroleiro afundado que ameaçou a costa norte de Portugal. O País apenas desconhecia as relações próximas com a freira carmelita. A dar crédito a Francisco Vieira, familiar da irmã Lúcia, Paulo Portas «manifestou a vontade pessoal» de assistir à missa alegando «a simpatia que nutria pela irmã Lúcia e pela sua devoção a Fátima».

O cidadão Paulo Portas pode ir a várias missas diárias, empanturrar-se de hóstias, fazer calos nos joelhos com genuflexões, entortar a coluna vertebral de tanto a vergar em cerimónias religiosas, persignar-se constantemente e invocar o nome de Deus a cada momento. O ministro da Defesa, porém, não pode nem deve rastejar aos pés dos padres, afocinhar perante um bispo ou lamber-lhe o anel. É o Estado que fica de rastos com a humilhação do ministro e o aviltamento do devoto.