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O kitsch religioso da semana

A minha curiosidade foi espicaçada pelas «Notas Piedosas» do Carlos Esperança. Assim, fui visitar a página do movimento Encontro Matrimonial, e o que me esperava.

O texto abunda em promessas e, bem, leiam vocês próprios:

Encontrou a página destinada aos casais que querem manter viva a sua chama de amor.

Redescubra o sonho, o entusiasmo e a ternura do seu tempo de namoro.

Transforme um bom casamento, num casamento muito especial.

Esta é também uma página destinada a sacerdotes e a religiosos(as) convidando-os a renovarem o seu compromisso de amor e de entrega à Igreja e às suas comunidades.

Este pode ser o convite mais valioso que algum dia receberá.

Depois há um link para esclarecimentos…

Os esclarecimentos são esclarecedores:

Não é um retiro espiritual nem terapêutica de grupo, mas sim um programa que dá aos cônjuges, sacerdotes e religiosos(as) a oportunidade de se analisarem a partir de temas de reflexão propostos por uma equipa constituída por três casais e um sacerdote.

O Encontro Matrimonial (E. M.) é um movimento da Igreja Católica, mas o Fim de Semana é aberto a casais de outras religiões e a não crentes.

Dialogue em casal, faça a sua inscrição para participar num Fim de Semana de Encontro Matrimonial e viverá uma experiência que recordará e poderá continuar a viver ao longo de toda a vida.

Aos sacerdotes e religiosos(as) desafiamos também a que tomem a decisão de se inscreverem e virem viver connosco esta experiência.

Para quem não conhece os meandros do comportamento humano e religioso, todo este movimento pode parecer inofensivo. A realidade pode ser algo diferente. Para quem tenha percorrido e explorado o mundo das religiões, sabe que a mecânica de um casal dedicado pode ser muito útil.

O controle mental e comportamental é feito pelos cônjugues de parte a parte, a um nível e intimidade difíceis de obter nas sociedades humanas (talvez, no passado, só nas casernas espartanas). A dedicação e recompensa são internas ao próprio casal. O laço biológico do amor e compromisso confunde-se com o da instituição e missão.

Podemos encontrar múltiplos exemplos da força que uma equipa marital apresenta. A sociedade teosófica e muita das suas variantes assentam a base das suas organizações nacionais em casais. É natural, encontrar sempre casais como missionários, de missões interdenominacionais evangélicas e protestantes. Uma igreja evangélica activa e bem sucedida, normalmente baseia-se, numa boa equipa de pastor e mulher do pastor, que fazem o papel de polícia bom e polícia mau. São um elemento comum nas embaixadas de nações com tradições de serviços de informação, em que um dos membros do casal tem uma posição oficial e o outro trabalha na recolha de informações (nos serviços secretos e de negócios estrangeiros existe um ambiente e tradição que fomentam este género de arranjos).

Este movimento, como todos os movimentos dentro da ICAR serve vários objectivos… Proselitismo, criação de redes e angariação de novas bases de influência. Os casais mais dedicados e fanáticos serão angariados para missões e posições de confiança.

O grande problema da ICAR, é que mistura casais com celibatários. E os celibatários têm um inconsciente manhoso. Aliás, especulo que o «motor» do movimento ou é celibatário ou tem uma vida sexual muito má. Se lerem os extractos da página do movimento, notaram um certo erotismo inconsciente na escolha dos argumentos e palavras. Basta compará-lo com os textos de um clube de swingers. Inicialmente, é uma suspeita. Mas quando vemos o símbolo do movimento, obtemos a confirmação. Um símbolo ou logotipo mal cozinhados podem ser terríveis.

Os dois círculos são, obviamente, os elementos do casal. Numa alusão aos diagramas de Venn, na intersecção dos dois encontramos o que têm em comum: cristo ou a ICAR (o símbolo confunde-se no inconsciente lusitano). Acima do casal está o coração que representa o amor, que está externo ao casal. O que também é revelador. A ICAR vem primeiro.

Mas qual seria a semiótica inconsciente e perversa do símbolo, na mente do seu criador? Ora bem… Os círculos intersectados produzem uma clássica vulva e nela encontramos a cruz, símbolo fálico por excelência, a penetrá-la… Se os círculos representam a mulher, na sua vulva e traseiro redondinho, a cruz e o coração representam o homem. A própria escolha das cores é elucidativa. Tanto definem as partes (Amarelo para a mulher. Vermelho para o homem) como aos significados a que estão associadas inconscientemente. (O Amarelo é passivo, dá sem reclamar, como o sol que tudo ilumina… O vermelho é a cor da acção.) E claro, a base hormonal do amor masculino é só e só descarregar os tomates. O coração são os testículos, e a cruz o falo que penetra e conclui o «encontro matrimonial». Como a imagem ilustra eloquentemente.

A um ateu só resta aceitar o seu lado «polimorficamente perverso» e utilizá-lo positivamente (neste caso, fazer o leitor rir); ao religioso escondê-lo e negá-lo pois, reconhecer a sua existência, é reconhecer que a sua religião é falsa e anti-humana.

Mas ele sempre se manifesta. Nunca podemos fugir do inconsciente e do animal dentro de nós.