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Coimbra e a ponte Europa



A intenção do pio edil de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação, de crismar a ponte Europa com o nome de Rainha Santa Isabel (Diário As Beiras, 09/03/04) não pode deixar de estupefazer. O Mondego, o rio Mondego, não é um charco de água benta.

A Europa está condenada ao rapto. Zeus, transformado em touro, levou-a para Creta e fez-lhe três filhos, mas amava-a. Minos, Sarpédon e Radamanto nasceram desse amor. Carlos Encarnação detesta-a e afadiga-se a apagar-lhe o nome.

Assim, em vez de Europa, filha de Argenor, rei da Fenícia e irmã de Cadmo, teremos a filha de D. Pedro III, rei de Aragão, esposa de D. Dinis, a dar nome à ponte.

Talvez a Rainha, que esperou mais de três séculos para ser promovida a santa, repita agora o milagre que obrou com os operários do convento de Santa Clara. Com o desemprego que grassa na região, são precisas muitas moedas de ouro para levar algum conforto aos desempregados que todos os dias crescem em Coimbra.

Mas, convenhamos, a ideia de crismar a ponte Europa com o nome de «Rainha Santa Isabel» é um insulto à cidade que aspira à modernidade e um tributo ao beatério que exulta na paróquia.

A ideia, digna de um mordomo das festas da Rainha, não dignifica o edil a quem falta um projecto para a cidade substituído por um nome para a ponte.

Sabemos que a devoção autóctone é exacerbada como o prova a estátua que se apossou do Largo dos Arcos do Jardim mas o exagero tem limites.

A quem mora numa Praceta com nome de santo, na freguesia de Santo António dos Olivais e já dispõe da ponte de Santa Clara para atravessar o Mondego, perante a onda de santidade que nos ameaça, apetece emigrar antes que a água do Mondego se torne benta e a cidade universitária se converta em paróquia rural.