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Os facínoras de Deus não aceitam a modernidade

Poder ter qualquer religião ou nenhuma é um direito indeclinável que a sábia decisão francesa acautela, opondo-se à guerra dos véus desencadeada pelos arcaísmos intoleráveis do islão, que não prescinde de regimes teocráticos.

Há medos e ódios que nascem do proselitismo beato bebido no livro único e acirrado nas madraças. A ofensiva desperta reacções islamofóbicas, semelhantes à violência que o catolicismo romano acordaria se a cartilha de Pio IX fosse restaurada. Tal como esse papa também os próceres islâmicos consideram a fé incompatível com a liberdade e a democracia. Não é, pois, uma questão de religião, é um conflito de poderes.

Sendo o islão o que é, a precisar de reforma, não pode tolerar-se-lhe os ataques à natureza laica do Estado. Os facínoras de Deus não aceitam a modernidade e a civilização não pode condescender com desvarios místicos.

É este o problema que grassa em França para desgraça dos franceses. As raparigas que ostentam o véu não reivindicam um direito, fazem uma provocação, quiçá imposta pelos clérigos. Amanhã exigem a burka, depois uma cantina separada, onde estejam longe da carne de porco, e, finalmente, «direito» à excisão e à poligamia. É a perpetuação da discriminação que os constrangimentos sociais lhes impõem. Ninguém as impede de passarem o dia a rezar ou de fazerem jejuns. Podem virar-se para Meca, não podem virar-se contra Paris.

Quando em 1905 a França foi obrigada a uma laicidade musculada tinha boas razões. Hoje tem razões acrescidas. Há princípios irrenunciáveis e deveres obrigatórios. Viva a França. (in Diário As Beiras, de hoje.)